São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem-terra articulam invasões

Alan Marques - 25.nov.04/Folha Imagem
Sem-terra deixam a sede do Incra após invadir e depredar o local, durante protesto em Brasília


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A luz amarela do governo federal em relação aos conflitos do campo já estava acesa, mas ganhou força nos últimos dias com a chacina de cinco sem-terra, em Minas Gerais, e com as promessas de futuras mobilizações feitas durante a Conferência Nacional Terra e Água, em Brasília.
O potencial explosivo do campo é notório: mais de 150 mil famílias acampadas à espera de um lote, nenhuma meta de assentamento cumprida até agora pelo governo e um orçamento insuficiente para desapropriar novas áreas e recuperar os antigos projetos, além de líderes ruralistas prometendo reagir às tentativas de invasão.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, disse que espera menos tensão.
"Para 2005, trabalhamos com um cenário melhor do que o de 2004 e melhor do que o de 2003. O governo avança num ritmo que deve construir um ambiente de paz no campo. Mas temos de admitir que existe um ambiente secular de violência no Brasil, que não foi criado neste governo."
A tática do governo tem sido acalmar as lideranças de entidades como MST e Contag por meio de repasses de verbas públicas. Mesmo assim, até agora, o governo tem registrado uma seqüência de recordes de invasões de terra. Em 2004, entre janeiro e agosto, foram registradas 271 invasões, segundo o último balanço da Ouvidoria Agrária Nacional, contra 222 no ano passado.
Em relação aos assassinatos, o número tem caído. Após um avanço de 2002 (20) para 2003 (42), caiu para nove entre janeiro e agosto deste ano -sem contar os cinco mortos da chacina ocorrida em Felisburgo (MG).
Integrante da coordenação nacional do MST, João Pedro Stedile critica o uso de serviços de inteligência do governo para monitorar os movimentos sociais.
"Não há necessidade de serviços de inteligência para saber que, sempre que os problemas não forem resolvidos, o povo tem direito constitucional de se mobilizar e de lutar por seus direitos."
O coordenador de Defesa Institucional da PF, Wilson Damázio, afirma que vem acompanhando a contratação irregular de seguranças por fazendeiros. "Tem que ter cuidado ao contratar seguranças ou comprar armas clandestinas. Existe a figura da segurança orgânica, com pessoas especializadas para segurança do imóvel", afirmou. (ID E EDS)


Texto Anterior: Fervura social: Governo pediu para a polícia espionar movimentos em SP
Próximo Texto: Moradia é foco em área urbana
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.