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RONDÔNIA
Repasse federal a duas entidades que atendiam aldeias indígenas foi suspenso; investigação aponta omissão da Funasa
ONGs são suspeitas de desviar verba de saúde
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A RONDÔNIA
A CGU (Controladoria Geral da
União), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigam as duas principais organizações não-governamentais indígenas de Rondônia por suspeita de
superfaturamento e desvio de
verbas do Ministério da Saúde
destinadas ao atendimento médico nas aldeias indígenas.
A investigação também aponta
omissão da Funasa (Fundação de
Nacional de Saúde), órgão do Ministério da Saúde, que, de acordo
com a Polícia Federal, repassou
recursos para entidades que não
tinham estrutura para assumir a
responsabilidade.
A Paca (Proteção Ambiental
Cacoalense), com sede em Cacoal
(RO), recebeu R$ 17 milhões da
Funasa, em três convênios assinados entre 1999 e 2004, para atender 5.500 índios de 115 aldeias para aplicação em assistência à saúde e saneamento. A Cunpir
(Coordenação da União das Nações e Povos Indígenas de Rondônia, Norte de Mato Grosso e Sul
do Amazonas) recebeu cerca de
R$ 9,5 milhões.
Repasses
A Funasa suspendeu os repasses
às entidades em maio, diante dos
indícios de irregularidades. Os
convênios com as duas ONGs,
que haviam sido assinados em
2002, terminaram em julho deste
ano e não foram renovados.
Segundo a coordenação da Funasa em Rondônia, o pessoal de
saúde que havia sido contratado
por intermédio de prefeituras
manteve o serviço de forma voluntária. A compra de medicamentos está sendo feita diretamente pela fundação.
Inquérito
A delegada da Polícia Federal
Juliana Cavaleiro, que preside o
inquérito contra a Paca, disse que
há indícios de que teria havido superfaturamento de 25% na construção de postos de saúde e de
fraudes nos processos licitatórios.
Vinte e seis pessoas são citadas
como alvos de investigação no inquérito da Paca, entre dirigentes
da ONG, servidores da Funasa,
consultores (antropólogos, indigenistas etc.) e fornecedores.
A indigenista Maria Ines Hargreaves, estudiosa dos índios cintas-largas, é uma delas. Segundo a
CGU, ela foi responsável pela movimentação de R$ 147 mil.
Nos autos do inquérito, consta
que há indícios ainda de cotação
de preços forjada em licitações,
falsificação de assinaturas, compra de medicamentos diretamente em farmácias e despesas com
consultoria sem comprovação de
prestação do serviço.
O inquérito da Polícia Federal
sobre a Cunpir investiga a suspeita de superfaturamento na compra de equipamentos e de combustíveis.
As duas organizações não-governamentais administraram a
verba para saúde indígena em todo o Estado de Rondônia por
quase cinco anos. A Paca respondia pelo atendimento às aldeias
na metade sul do Estado, enquanto a Cunpir respondia pelo atendimento na parte norte.
A Funasa substituiu a Funai
(Fundação Nacional do Índio) como responsável pelo atendimento
médico à população indígena, em
99, e delegou a tarefa às ONGs.
O inquérito da Polícia Federal
sobre as supostas irregularidades
na Paca, ao qual a Folha teve acesso, informa que a ONG possuía,
de próprio, apenas um computador, uma impressora, um automóvel e uma moto, quando assinou o primeiro convênio com a
Funasa, em 1999.
A delegada Juliana Cavaleiro faz
críticas à atuação da Funasa no
episódio. Ela afirma que a fundação aprovou o convênio com a
ONG baseando-se apenas no parecer de uma consultora, que teria
levado 15 dias para analisar o projeto da entidade. Diz que a Funasa
também teria sido omissa na fiscalização do convênio.
Cunpir
A Cunpir está mergulhada em
uma grave crise desde que a Funasa realizou uma auditoria especial
no convênio, no ano passado, que
resultou na suspensão dos repasses à entidade. A ONG chegou a
acumular R$ 2 milhões em dívidas com os fornecedores, no início do ano, e o comando da entidade foi trocado.
O cacique Almir Surui, que
substituiu Antenor Karitiana,
confirma que houve superfaturamento na compra de materiais,
principalmente de combustíveis,
e outras irregularidades na aplicação do dinheiro proveniente do
Ministério da Saúde, mas, assim
como a Polícia Federal e a Procuradoria da República, ele acusa a
Funasa de ter sido conivente.
Segundo Surui, as irregularidades foram praticadas desde o início dos convênios, em 1999, e a
Funasa teria tido conhecimento
delas, na ocasião. ""Mesmo assim,
ela renovou os convênios", queixa-se o coordenador.
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