São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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ARQUIVOS DO NAZISTA

Em ensaio, Mengele diz que os judeus usavam os meios de comunicação para manipular a humanidade

Para alemão, mídia mentiu sobre o nazismo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Num dos ensaios mais abrangentes encontrados entre os pertences de Josef Mengele, o médico nazista relaciona a dissolução cultural -em marcha, segundo ele, no final dos anos 60- aos meios de comunicação de massa, que seriam "as verdadeiras e prováveis causas dos sintomas e misérias do nosso tempo". Para Mengele, as informações e idéias que os meios de comunicação divulgavam sobre o nazismo eram uma "propaganda inacreditável".
Sem escrever a palavra "judeu", atribui a esse povo a responsabilidade pelo "espírito perverso" que seria criado na sociedade pelos meios de comunicação de massa. Os judeus eram, para Mengele, os controladores da mídia.
O texto, apesar de apresentado em forma de uma carta ao amigo Wolfgang Gerhard, é escrito em terceira pessoa e dirigido a um leitor imaginário, o que indica a tentativa de produzir um ensaio, não só uma correspondência.
Segundo Mengele, "todas as comunicações, no sentido mais amplo da palavra, que nos alcançam são filtradas, recortadas, tingidas, aumentadas e, em parte não insignificante, inverídicas". Haveria, segundo ele, "esforços para evitar a informação de fatos puros, assim como a igreja proíbe ao leigo de ler a Bíblia original".
Ao falar de uma juventude em degeneração, Mengele diz que "o que acontece hoje não é uma mudança de estilo, mas uma perda de estilo". A prova estaria no modo de vestir dos jovens e até nas formas de tratamento usadas pelos "homens modernos", com referência à cultura norte-americana. "Cachorros não se saúdam, eles se cheiram. Nós estamos no melhor dos caminhos para tais formas de trato entre animais, se homens modernos somente se saúdam com um "hou?" (how are you?) [do inglês: como vai você?]".
Para Mengele, o excesso de cenas de nudez e sexo na TV ensina "uma população média" a considerar natural o conteúdo sexual em filmes. Nessa população "excitada", "até a propaganda mais inacreditável possui chances de crédito. Um exemplo é a propaganda dos horrores do nazismo".
O médico volta a atacar os judeus. Diz que "o espírito perverso deste mundo mau é feito por esse pequeno grupo de pessoas que possuem os meios de comunicação de massa nas suas mãos e que, assim, conseguem manipular o resto da humanidade".
"Quem, por exemplo, são as pessoas que representam o aparelho de recursos humanos da ONU e das suas organizações adjacentes? Os mesmos que ocupam 80% das poltronas nas salas de redação da imprensa mundial? [...] Revela-se, por exemplo, que 70% de todos os médicos militares americanos pertencem a essas pessoas. Ou que a grande maioria de todos os psicanalistas nos EUA, que possuem uma enorme influência na vida lá, pertencem à mesma raça "nobre", como o fundador daquela psicologia dos complexos sexuais reprimidos [em referência a Sigmund Freud, austríaco de ascendência judaica]".
No final do texto, Mengele diz ao seu amigo austríaco que as opiniões de uma pessoa chamada R. -provavelmente Rolf, seu filho, que não concordava com as idéias nazistas- "só são resumos de toda essa verborragia que chuvisca desde 1945 sem parar sobre esses pensadores jovens". (ANA FLOR E ANDRÉA MICHAEL)

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