São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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CRISE NOS ESTADOS
Operação busca policiais, políticos, juízes e empresários suspeitos de envolvimento com o crime organizado
PF ocupa Alagoas para combater 'máfia'

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

A Polícia Federal enviou 110 homens ao Estado de Alagoas numa megaoperação que tem como objetivo identificar e prender policiais, políticos, empresários e juízes suspeitos de envolvimento com o crime organizado.
Essa é a maior operação da PF em andamento no país. Entre os agentes, há homens do GOT (Grupo de Operações Táticas), a elite do departamento, equipados com helicóptero, camionetes importadas e armas pesadas, como fuzis automáticos M-16, metralhadoras e fuzis com mira a laser.
A chegada do reforço da PF coincidiu anteontem com o pedido de demissão do secretário da Segurança do Estado, general do Exército José Siqueira Silva, que havia sido indicado pelo Palácio do Planalto para reformular a forma de agir da polícia alagoana.
O general saiu depois de afirmar que políticos, empresários e juízes estariam envolvidos com o crime organizado. O governador Manoel Gomes de Barros (PTB) não gostou de saber do envolvimento de autoridades por meio da imprensa e se indispôs com o secretário, que pediu demissão.
A queda do general provocou "angústia e medo" na população alagoana, segundo a prefeita de Maceió, Kátia Born (PSB). "Sem intervenção federal e ajuda externa, Alagoas não terá a limpeza profunda de que precisa", disse.
A PF solicitou ontem à Justiça a quebra dos sigilos bancários das 25 pessoas presas até agora sob suspeita de integrar a chamada "gangue fardada".
O objetivo é confirmar -ou não- as suspeitas de transferência de dinheiro obtido com o roubo de carros e bancos, e assassinatos de aluguel, para financiamento de campanhas eleitorais. Dos 25 presos, 18 são policiais.
Quatro dos 27 deputados estaduais de Alagoas já estão sendo investigados. Ontem, o diretor do Departamento Pessoal da Assembléia Legislativa, Ivaldo Buarque, confirmou que a Receita Federal já está fazendo uma devassa fiscal no Imposto de Renda de funcionários e deputados da Casa.
Segundo ele, até disquetes com dados da folha de pagamento foram levados pelos auditores do Tesouro. A Agência Folha tentou localizar ontem o presidente da Assembléia, deputado João Neto (PSDB), mas sua assessoria informou que ele estava em Brasília.
Perseguição
O caso começou com a prisão de um simples soldado da PM com um carro roubado e provocou, no último dia 16, a prisão do coronel da Polícia Militar Manoel Cavalcante, a "personalidade mais polêmica de Alagoas", como define seu próprio advogado. Para a polícia, Cavalcante seria o líder do crime organizado no Estado.
O coronel depôs ontem como réu em processo na Justiça em que é acusado de receptação dolosa (intencional) de veículos e formação de quadrilha. Temendo as ameaças de morte que têm recebido, os integrantes do Judiciário decidiram interrogar o coronel em grupo, com 13 juízes, uma forma de não personalizar as decisões.
O coronel disse estar sendo perseguido politicamente. Na sua versão, seu nome está sendo lançado devido ao fato de que é um forte candidato a deputado estadual pelo PTB, mesmo partido do governador Barros.
"Não importa a patente, o cargo que ocupe. Todos os que fizeram irregularidades vão para a cadeia", afirmou Barros. Ele discorda de afirmações de políticos opositores e entidades como a OAB de que a saída do general José Siqueira Silva provoca o enfraquecimento das investigações. Ele nomeou o delegado de carreira João Mendes para a secretaria.



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