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ALIADOS EM CRISE
Parlamentares fiéis ao governo receberão verba para emendas
Operação para "abafar" CPI pode custar R$ 1,25 bilhão
Josemar Gonçalves/Folha Imagem
![](../images/n2903012001.jpg) |
Senadores peemedebistas Ramez Tebet, CAsildo Maldaner, renan Calheiros e Jader Barbalho, durante reunião para discutir CPI |
FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal instrumento da
operação do governo federal para
abafar a CPI da corrupção pode
custar pelo menos R$ 1,25 bilhão
em liberação de verbas para deputados e senadores fiéis ao Palácio do Planalto.
Segundo a Folha apurou, essa
quantia faz parte dos chamados
"restos a pagar" dos Orçamentos
da União de 1999 e 2000 -dinheiro que foi empenhado (conta com
uma promessa de liberação), mas
não foi gasto de fato.
Terão acesso a ele os parlamentares que demonstrarem fidelidade ao governo e não assinarem o
pedido de abertura da Comissão
Parlamentar de Inquérito.
"O governo já mandou creditar
nos ministérios respectivos as
emendas de parlamentares que ficaram nos restos a pagar de 1999 e
2000. Os projetos que estiverem
em ordem terão o dinheiro liberado já, imediatamente", disse o deputado Pedro Corrêa (PPB-PE),
segundo vice-presidente do PPB e
aliado do governo.
Há R$ 217 milhões ainda a serem liberados dos investimentos
previstos no Orçamento de 1999.
"Investimentos" é o item onde se
encaixam cerca de 95% das emendas de deputados e senadores,
mais os convênios que os congressistas intermedeiam para
suas bases e os repasses de verbas
para Estados e municípios.
Em 2000, há R$ 3,842 bilhões de
restos a pagar em investimentos.
Dos valores de 1999 e de 2000, pelo menos R$ 1,250 bilhão está em
negociação no momento.
A Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano teria cerca de
R$ 700 milhões para serem liberados. No Ministério da Agricultura, essa cifra é de cerca de R$ 250
milhões. Na pasta de Esportes e
Turismo, R$ 300 milhões.
O Ministério da Integração Nacional fazia ontem um levantamento das emendas parlamentares, a fim de começar a liberá-las,
o que aumentará o valor do custo
da "operação abafa".
Devem sair dessas pastas as liberações, caso o Planalto cumpra
as promessas que estão sendo feitas agora aos congressistas. O governo usa o pagamento de emendas parlamentares a conta-gotas
para negociar projetos de seu interesse no Congresso.
Fila
Anteontem, o ministro Aloysio
Nunes Ferreira (Secretaria Geral
da Presidência da República) tinha mais de cem pedidos de audiência ou de contato telefônico
por parte de congressistas.
Na avaliação do Palácio da Planalto, a estratégia de ameaçar tratar como opositores do governo
aqueles que apoiassem a CPI deu
certo. Nos bastidores do governo,
ficou claro que os aliados serão recompensados.
O movimento a favor das investigações de casos de corrupção,
que ameaçou contar com o apoio
de parcela dos aliados do governo, estaria finalmente sob controle. Teria perdido força.
Agora, a CPI da corrupção teria
entrado na fase do "bocão", na expressão ouvida pela Folha dentro
do Palácio do Planalto -quando
deputados e senadores menos
ideológicos percebem ter chegado
a hora de pedir alguma recompensa para ficarem fiéis ao governo. "Bocão" é uma gíria usada para definir o interesse de congressistas em obter benefícios do governo federal.
Segundo um auxiliar do presidente, a liberação de verbas para
congressistas é uma estratégia
""barata", já que o governo teria
mesmo de liberar esses recursos.
Pedidos
Com a expectativa de conseguir
verbas e cargos federais, deputados federais do PL adiaram para a
semana que vem a decisão de assinar ou não o requerimento para
criar a CPI da corrupção.
Ontem, na reunião, a bancada
do PL estava dividida. Parte dos
deputados do partido não acredita mais nas promessas do governo. Outros insistem em dar um
crédito ao presidente Fernando
Henrique Cardoso.
"Nós temos de correr o risco de
ficar com o governo para participarmos (do governo) lá na frente", argumentou o deputado Luiz
Antonio de Medeiros (PL-SP).
Recebido anteontem pelo presidente no Palácio da Alvorada,
Medeiros é um dos principais defensores do alinhamento com o
governo federal.
Outro argumento levantado ontem é que os deputados do partido não ganhariam nada com a
CPI, porque na sua composição
não haveria vaga para o PL. "Pela
proporcionalidade, o PT ficará
apenas com uma vaga. Nós não
teremos representantes na comissão", afirmou o líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP).
O deputado Alberto Fraga
(PMDB-DF) promete "retaliar" o
governo assinando a CPI, caso o
aumento salarial concedido aos
militares não seja repassado para
a Polícia Militar do Distrito Federal, que é paga pela União.
A bancada de Rondônia cobra
mais recursos federais para não
assinar a CPI. Deputados que seguem a orientação política do senador Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e não querem assinar a
CPI negociam a manutenção nos
cargos de seus indicados e verbas
para seus redutos eleitorais.
Colaboram DENISE MADUEÑO e LUIZA
DAMÉ, da Sucursal de Brasília
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