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SISTEMA FINANCEIRO
Ex-presidente do BC contatou Clóvis Carvalho e Eduardo Graeff
Lopes foi orientado a adiar
fala por assessores de FHC
MÔNICA BERGAMO
enviada especial a Brasília
O Palácio do
Planalto orientou o ex-presidente do Banco
Central Francisco Lopes sobre
como adiar seu
primeiro depoimento à CPI dos Bancos. O depoimento estava marcado para a segunda-feira, 19. Na manhã do mesmo dia, Lopes telefonou ao ministro Clóvis Carvalho, da Casa Civil,
e comunicou o desejo de não se
apresentar à CPI.
Os dois conversaram e Carvalho
pediu que o ex-presidente do BC
telefonasse a Eduardo Graeff, Secretário de Relações Institucionais. Graeff então orientou Lopes a
enviar uma carta ao presidente da
CPI, Bello Parga (PFL-MA), explicando que estava impossibilitado
de depor. À tarde, Graeff telefonou
para Antonio Carlos Magalhães e
pediu ajuda para encaminhar o pedido de adiamento.
Depois disso, Lopes voltou a
conversar com Clóvis Carvalho em
pelo menos duas oportunidades
ao longo da semana passada, antes
do desfecho da última segunda-feira, quando se recusou a depor
pela segunda vez e saiu preso da
CPI. Carvalho é hoje o ministro
mais próximo do presidente Fernando Henrique.
Ele confirma as conversas, mas
diz que se sente "incomodado" em
revelar os detalhes. Diz também
que conversou com Francisco Lopes porque os dois são amigos e
não a pedido do presidente da República. "Eu disse ao Chico que, no
que eu, Clóvis, pudesse ajudá-lo,
estaria à disposição."
As conversas entre os dois foram
interrompidas depois do episódio
da prisão do ex-presidente do BC.
Apesar dos contatos telefônicos, a
decisão de Lopes de não depor pela
segunda vez surpreendeu Carvalho e todo o governo. O presidente
e os ministros esperavam que ele,
mesmo se negando a responder
questões pessoais, explicasse as
operações de venda de dólar para
os bancos Marka e FonteCindam.
Como outros ministros, Carvalho ligou a televisão na segunda-feira para "ver o massacre do Chico", como diz em um tom chateado. Foi surpreendido pelo silêncio
do economista. O ministro da Saúde, José Serra, que também acompanhava a sessão pela TV, chegou
a telefonar para senadores da CPI
para saber em detalhes o que estava acontecendo.
Ainda assim, é possível ouvir palavras de defesa a Lopes no Palácio
do Planalto. A Folha apurou que
Clóvis Carvalho tem dito, em conversas reservadas, que está incomodado com o que vem acontecendo com o ex-presidente do BC.
"Um economista do gabarito dele,
da tranquilidade dele, não merecia
passar pelo que está passando."
O governo pretende, daqui a algum tempo, retomar aos poucos
os contatos com Lopes. Segundo
um senador do PSDB ligado ao
Planalto, o governo "tem medo"
das futuras reações de Francisco
Lopes e de seus advogados, caso o
economista se sinta acuado.
Um dos advogados, José Gerardo
Grossi, revelou à Folha que a CPI
já sabe que Lopes almoçou com
Fernando Henrique no dia em que
o BC vendeu dólares mais baratos
ao Banco Marka. A informação
constaria de uma agenda apreendida na casa do economista. Ao relatar o episódio, numa entrevista
publicada pelo jornal "Correio
Braziliense", Grossi disse o seguinte: "Eles podem ter conversado sobre arte, sobre o quadro de Carlos
Scliar ou sobre Manuel Bandeira,
mas você acredita nisso?".
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