São Paulo, Quinta-feira, 29 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Ex-presidente do BC contatou Clóvis Carvalho e Eduardo Graeff
Lopes foi orientado a adiar fala por assessores de FHC

MÔNICA BERGAMO
enviada especial a Brasília


O Palácio do Planalto orientou o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes sobre como adiar seu primeiro depoimento à CPI dos Bancos. O depoimento estava marcado para a segunda-feira, 19. Na manhã do mesmo dia, Lopes telefonou ao ministro Clóvis Carvalho, da Casa Civil, e comunicou o desejo de não se apresentar à CPI.
Os dois conversaram e Carvalho pediu que o ex-presidente do BC telefonasse a Eduardo Graeff, Secretário de Relações Institucionais. Graeff então orientou Lopes a enviar uma carta ao presidente da CPI, Bello Parga (PFL-MA), explicando que estava impossibilitado de depor. À tarde, Graeff telefonou para Antonio Carlos Magalhães e pediu ajuda para encaminhar o pedido de adiamento.
Depois disso, Lopes voltou a conversar com Clóvis Carvalho em pelo menos duas oportunidades ao longo da semana passada, antes do desfecho da última segunda-feira, quando se recusou a depor pela segunda vez e saiu preso da CPI. Carvalho é hoje o ministro mais próximo do presidente Fernando Henrique.
Ele confirma as conversas, mas diz que se sente "incomodado" em revelar os detalhes. Diz também que conversou com Francisco Lopes porque os dois são amigos e não a pedido do presidente da República. "Eu disse ao Chico que, no que eu, Clóvis, pudesse ajudá-lo, estaria à disposição."
As conversas entre os dois foram interrompidas depois do episódio da prisão do ex-presidente do BC. Apesar dos contatos telefônicos, a decisão de Lopes de não depor pela segunda vez surpreendeu Carvalho e todo o governo. O presidente e os ministros esperavam que ele, mesmo se negando a responder questões pessoais, explicasse as operações de venda de dólar para os bancos Marka e FonteCindam.
Como outros ministros, Carvalho ligou a televisão na segunda-feira para "ver o massacre do Chico", como diz em um tom chateado. Foi surpreendido pelo silêncio do economista. O ministro da Saúde, José Serra, que também acompanhava a sessão pela TV, chegou a telefonar para senadores da CPI para saber em detalhes o que estava acontecendo.
Ainda assim, é possível ouvir palavras de defesa a Lopes no Palácio do Planalto. A Folha apurou que Clóvis Carvalho tem dito, em conversas reservadas, que está incomodado com o que vem acontecendo com o ex-presidente do BC. "Um economista do gabarito dele, da tranquilidade dele, não merecia passar pelo que está passando."
O governo pretende, daqui a algum tempo, retomar aos poucos os contatos com Lopes. Segundo um senador do PSDB ligado ao Planalto, o governo "tem medo" das futuras reações de Francisco Lopes e de seus advogados, caso o economista se sinta acuado.
Um dos advogados, José Gerardo Grossi, revelou à Folha que a CPI já sabe que Lopes almoçou com Fernando Henrique no dia em que o BC vendeu dólares mais baratos ao Banco Marka. A informação constaria de uma agenda apreendida na casa do economista. Ao relatar o episódio, numa entrevista publicada pelo jornal "Correio Braziliense", Grossi disse o seguinte: "Eles podem ter conversado sobre arte, sobre o quadro de Carlos Scliar ou sobre Manuel Bandeira, mas você acredita nisso?".


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