São Paulo, Quinta-feira, 29 de Abril de 1999
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BC foi maior perdedor na desvalorização

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

O grande perdedor nas apostas da Bolsa de Mercadorias & Futuros foi o Banco Central. Apenas nos contratos fechados nos dois dias que antecederam a desvalorização do real, o BC acumulou um prejuízo de R$ 5,4 bilhões em operações intermediadas pelo Banco do Brasil.
O prejuízo foi calculado pela Folha com base nos dados que a BM&F enviou à CPI dos Bancos sobre todas as operações realizadas no mês de janeiro.
Operando em nome do Banco Central, o Banco do Brasil Banco de Investimentos dominou as operações de venda de dólar futuro a partir do dia 11 de janeiro.
A participação média nas operações de venda pulou de cerca de 12% para aproximadamente 70% do total negociado na BM&F. Ou seja, ninguém mais do que o BC apostou que o real não se desvalorizaria. Naquela altura, o real sofria forte ataque especulativo, com perda de reservas internacionais.
Na véspera da mudança da política cambial, o BB Banco de Investimentos vendeu 39.500 contratos com vencimento em fevereiro e março, nos quais apostava que a cotação do dólar variaria entre R$ 1,223 e R$ 1,243. No dia 13 de janeiro, o Banco Central determinava que o dólar só subiria até R$ 1,32.
No momento de honrar os contratos, o dólar já havia alcançado R$ 1,98, em fevereiro. Nos contratos negociados para março, o Banco Central teve de bancar uma cotação ainda maior: R$ 2,06.
O prejuízo nos contratos vendidos no dia 12 pelo BB somou R$ 3,137 bilhões. Esse é também o exato tamanho do lucro de quem comprou os contratos do banco.
A virada do BC foi registrada a partir do dia 11. Nesse dia, o Banco do Brasil vendeu 27.910 contratos, na grande maioria apostando o dólar a R$ 1,238 em março.
A diferença entre o valor da aposta e a cotação do resgate dos contratos produziu um prejuízo de R$ 2,3 bilhões.
Nos dois dias que antecederam a desvalorização, o BB vendeu, em nome do BC, contratos no valor de R$ 8,3 bilhões. O resgate dessas operações custou R$ 13,7 bilhões.
O BC admite um prejuízo de R$ 7,6 bilhões em operações na BM&F em janeiro.
No dia seguinte à desvalorização do real, o Banco do Brasil seria novamente acionado exclusivamente para socorrer os bancos Marka e FonteCindam. Essas operações elevaram a mais de 85% a concentração de contratos de venda de dólar futuro nas mãos do BC no final de janeiro, por intermédio sobretudo do BB.
No mês da desvalorização, a participação do Banco Central cresceu sete vezes -sob alegação de enfrentar o ataque especulativo.


Colaborou Cláudia Trevisan, enviada especial a Brasília


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