São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2001

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RUMO A 2002

Partido veicula programa com referências à corrupção, em que admite que só criticava e não tinha propostas

PT vende Lula "maduro" e exibe ratos na TV

Jorge Araújo/Folha Imagem
Lula lê publicação do ano passado, feita pelo Congresso, com alerta sobre a crise de energia


FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Defesa da moralidade e experiência administrativa, os dois eixos que fundamentaram o bem-sucedido desempenho do PT na eleição municipal do ano passado, são os temas preponderantes do programa de televisão que o partido levaria ao ar ontem.
Em São Paulo, o partido decidiu não incluir no programa, que tem 20 minutos de duração, a polêmica inserção de um minuto em que ratos apareciam roendo a bandeira do Brasil, em alusão velada a políticos da base governista.
A propaganda, primeiro resultado da parceria do PT com o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou para Paulo Maluf em várias campanhas, recebeu críticas do governo e políticos porque desrespeitaria um símbolo nacional. Ela foi ao ar já em outros Estados, mas não em São Paulo.
Seria exibida uma versão mais suave, em que os ratos são afugentados por uma ratoeira, simbolizando a mobilização da sociedade e a vigilância do PT.
"Não houve um recuo de nossa parte em razão das críticas. Entendemos que o filme da ratoeira tem mais impacto", diz o presidente do PT-SP, Paulo Frateschi.
Além de São Paulo, outros nove Estados exibiriam o programa ontem à noite. A decisão sobre veicular a versão dos ratos com a bandeira ou com a ratoeira ficou a cargo de cada diretório estadual.
"Nós mantivemos a propaganda da bandeira e não vamos retirá-la. As críticas são infundadas, não têm sustentação", disse o presidente nacional do partido, José Dirceu. O PT não informou quantos Estados decidiram exibir o filme dos ratos com a bandeira.
O partido exibiu ontem à imprensa um extrato de cinco minutos de duração do programa, preparado pelo diretório nacional e enviado aos Estados que exibiriam a propaganda gratuita.
Os outros 15 minutos seriam preenchidos com material local, cujo enfoque seria na experiência administrativa das prefeituras e governos estaduais do partido.
O slogan do trecho nacional, também dirigido por Mendonça, é "PT, 21 anos. Mais forte, mais experiente, mais maduro".
Ao redor de uma mesa, Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu e deputados federais falam principalmente sobre a crise do "apagão".
Ao comentar a trajetória do PT, Lula admite que o partido, no passado, limitava-se a criticar e não fazer propostas.
"No início, o PT só denunciava e criticava. Isso é verdade e é importante que se diga. Mas aquele era um outro momento. Éramos um fiscal de quem não tinha para quem reclamar."
Em seguida, diz que o partido, que tem três governos e 187 prefeituras, mudou. "Somos um partido maduro, estruturado e experiente, que continua denunciando e fiscalizando, mas que tem soluções para o Brasil", afirma Lula.
Segundo o deputado Aloizio Mercadante, o partido quis com isso mostrar sua "experiência".
"O PT governa hoje 29 milhões de pessoas a nível local. Nossa responsabilidade vem crescendo."
Grande parte do programa é ocupado por Lula, candidato preferido da cúpula petista a presidente. Além de falar, ele surge em várias cenas de campanha. O senador Eduardo Suplicy, outro pré-candidato, aparece em uma única cena, abraçado a Dirceu, com quem trocou farpas públicas.
Mercadante disse que, confirmada a renúncia de Antônio Carlos Magalhães, prevista para amanhã, o PT vai se concentrar nas denúncias ao presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA). "Os indícios abundam e serão investigados com prioridade."


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