UOL

São Paulo, domingo, 29 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO LULA
seis meses


Presidente avalia que maior problema do governo é administrativo e faz reparos à área social

Lula vê gestão descoordenada e estuda reformar ministério

Alan Marques - 27.jun.03/Folha Imagem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Colômbia, onde ganhou presentes típicos do país, como um chapéu, um poncho e uma bolsa


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seis meses de poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu que sua maior deficiência é de ordem administrativa: a coordenação de governo funciona mal. A Folha apurou que Lula estuda reduzir o tamanho do ministério e reformular pastas importantes até o final do ano.
Hoje, há 35 pessoas no governo com o título de ministro. São ocupantes de ministérios e de cargos com status ministerial. É muita gente, avalia Lula. As eleições municipais de 2004 funcionarão como pretexto para que alguns desses auxiliares sejam "convocados" a se candidatar. Além de possibilitar o enxugamento, as vagas abertas serviriam para acomodar o PMDB e, talvez, o PP.
Até a poderosa Casa Civil, de José Dirceu, será atingida pela reformulação. Não para retirar poderes do ministro. Ao contrário. O que se deseja é liberar Dirceu de atribuições burocráticas. Sobraria tempo para que se dedicasse à missão que Lula considera prioritária: a articulação política e missões específicas. Dois exemplos: o projeto de reformular as agências reguladoras e o arbitramento de conflitos entre ministros.
Para Lula, o processo de reformulação administrativa não pode passar a idéia de enfraquecimento de dois ministros que, na sua opinião, desempenham bem as suas funções. Um deles é Dirceu, o outro Palocci (Fazenda).
Um dos setores que têm merecido mais reparos de Lula é a área social. Há tempos o presidente avalia que o setor carece de uma coordenação central. A incumbência pode ser delegada a José Dirceu. O ministro delegaria a Miriam Belchior, assessora especial da Presidência, a coordenação das câmaras interministeriais.
Há sete em funcionamento. As principais são a social e a econômica. A providência o liberaria de comparecer a todas as reuniões. Belchior reportaria os problemas sempre que os identificasse.
Hoje, Belchior já acompanha, a pedido de Lula, a implementação de projetos sociais. Faz ainda avaliações de desempenho de todos os ministérios. É uma espécie de radar do presidente. Mantém-se em contato estreito com os secretários-executivos das pastas. O contato com o número dois de cada ministério preserva a noção de hierarquia. Soaria impróprio que uma auxiliar cobrasse diretamente dos ministros, ainda que em nome do presidente.
O próprio Dirceu convenceu-se de que é preciso reformular o funcionamento da Casa Civil. Acha-se atolado de atribuições. Queixa-se também do desempenho de alguns auxiliares. É possível que promova algumas trocas.

Gabinete presidencial
O gabinete de Lula também sofrerá modificações. O presidente reclama que certas ordens que expede aos ministérios não se transformam em ações. Pensa em montar uma espécie de "sala de gestão governamental". Funcionaria no terceiro andar do Planalto, próxima ao seu gabinete.
Lula quer imprimir aos projetos que considera mais importantes uma gerência com viés empresarial. Na "sala de gestão" haveria um grande painel. Ali seriam expostos cronogramas e organogramas dos projetos que mereceriam o seu acompanhamento direto.
Lula considera que precisa corrigir a coordenação de governo sob pena de terminar o mandato cumprindo muito menos do que prometeu. Como disse na sexta-feira, seu maior temor é não honrar as promessas.
Lula evita, por ora, comentar até com auxiliares mais próximos os nomes dos ministros que pensa dispensar, seja para nomear novos, seja para extinguir pastas. Receia que um debate mais aberto leve o tema aos jornais.
O máximo que Lula se permite avançar é no diagnóstico sobre o desempenho de ministros. Entre os que funcionam bem inclui, além de Dirceu e Palocci, Dilma Roussef (Minas e Energia), Roberto Rodrigues (Agricultura), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Celso Amorim (Relações Exteriores). A este último credita o êxito da política externa, um dos diferenciais do governo, avalia o presidente.
Entre os auxiliares mal avaliados pelo chefe estão Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), Anderson Adauto (Transportes), Benedita da Silva (Ação Social), Cristovam Buarque (Educação) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).
Na opinião do presidente o governo teve êxito nas duas principais prioridades do ano: a gestão macroeconômica e a articulação política. Daí os elogios a Dirceu e Palocci. Na economia, acha que debelou os riscos de descontrole inflacionário e criou condições para iniciar um processo de crescimento consistente do PIB. Na política, avalia que obteve maioria confortável para aprovar as reformas.


Texto Anterior: Na selva: Amazônia não é intocável, diz Lula
Próximo Texto: Ajuste compromete "espetáculo"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.