São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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QUESTÃO AGRÁRIA

Discurso foi no lançamento do Plano Safra; sem-terra pedem avanço na reforma agrária e desburocratização

Cobrado, Lula diz que MST deve reivindicar

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Líderes sem terra cobraram ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avanço mais rápido na reforma agrária e desburocratização na liberação de créditos rurais. A exigência foi feita no Palácio do Planalto, no lançamento oficial do Plano Safra 2004-2005.
Após ouvir a reclamação, Lula pediu que eles não tenham "medo de reivindicar", "cobrar", "exigir" e "extravasar" diante do governo.
"Eu quero dizer aos companheiros trabalhadores que estão aqui que não tenham medo de reivindicar. Não tenham medo. Nós, primeiro, achamos que o papel do movimento é reivindicar. Vocês reivindicam tudo aquilo que vocês acham que é importante reivindicar", disse Lula a aproximadamente 500 integrantes de movimentos sociais.
O presidente enalteceu sua "lealdade" aos movimentos. "Às vezes, vocês reivindicam coisas que é impossível o governo cumprir. E, com a mesma lealdade que nós temos nos tratado nesses últimos 30 anos, eu vou dizer para vocês: eu posso, eu não posso."
"O que eu não quero, nunca, é criar as condições para que vocês não possam mais reivindicar. Ou seja, eu prefiro vocês reunidos com os ministérios (...), cobrando e exigindo, a vocês não terem, como no passado, um lugar para poder extravasar as reclamações."
Na cerimônia do lançamento do Plano Safra, discursaram os representantes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O presidente anotou os pedidos em um pedaço de papel e disse que, mesmo diante de "divergências", terá nos líderes sem-terra "grandes companheiros para fazer as mudanças".
Entre os sem-terra, o primeiro a falar foi o presidente da Contag, Manoel José dos Santos. "Gostaria de advertir o presidente sobre a necessidade de avançarmos no seguro agrícola e na compra antecipada [da produção]. Há muitos recursos contingenciados."
"Nos alegra muito o volume de recursos para o Plano Safra. Mas é preciso dizer que temos ainda muitos problemas na reforma agrária e nos repasses de créditos", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. Ele disse se "preocupar" com uma possível liberação do plantio e da comercialização de transgênicos.
Lula reafirmou a promessa de investir R$ 7 bilhões em créditos rurais a agricultores familiares e assentados entre julho de 2004 e junho de 2005. O valor é 30% superior aos R$ 5,4 bilhões investidos no plano anterior.
Criticou o tratamento dos bancos aos agricultores em outras gestões. "Vocês [presidentes de bancos estatais presentes] vão contar para essa gente, aqui, como é que vocês encontraram esses bancos, para quem esse banco emprestava dinheiro, qual a dificuldade que as pessoas tinham para ter acesso aos recursos."


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