São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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GOVERNO

Após almoçar com tucano, presidente elogia seu "conhecimento internacional" e compara eleição atual com a de 98

FHC se assume como cabo eleitoral de Serra

HUMBERTO MEDINA
FERNANDA NARDELLI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso deu ontem nova demonstração de que participará ativamente da candidatura à Presidência de José Serra (PSDB). Cumpriu um roteiro preparado pela campanha para atribuir ao tucano características que parte do eleitorado enxerga no principal oponente do momento, Ciro Gomes (PPS).
Após almoço no Palácio da Alvorada, o casal FHC e Ruth Cardoso posou ao lado da chapa Serra-Rita Camata, na primeira aparição pública de FHC ao lado de Serra desde o início oficial da campanha, em 6 de julho. Ele elogiou Serra. Ruth enalteceu Rita (PMDB-ES). Os candidatos não falaram, obedecendo roteiro para aferir ao máximo o efeito das presenças de FHC e Ruth.
Ao explicar por que o ministro Pedro Malan (Fazenda), com quem se reuniu ontem, votaria em Serra, FHC disse que o tucano é "homem confiável, experiente, tem capacidade administrativa demonstrada e tem conhecimento da situação internacional".
Essas características também são atribuídas a Ciro pelo eleitorado, segundo pesquisas do PSDB. A intenção do PSDB é "desconstruir" Ciro. Ao compará-lo a Collor, tenta criar dúvida sobre a confiabilidade dele. Sobre capacidade administrativa e conhecimento internacional, os tucanos buscam mostrar maior bagagem de Serra.
Em seguida, o presidente disse que "estamos vivendo um momento delicado no mundo todo, com reflexos no Brasil". Nesse momento, segundo FHC, "precisamos de um presidente que tenha capacidade de levar adiante o país". Após os elogios, FHC disse: "Vamos ganhar, e a Rita vai ajudar bastante aqui nessa briga".
A Folha apurou que, durante o almoço, FHC recomendou calma a Serra, dizendo que há tempo suficiente para virar o jogo.

Tasso e Ruth
Indagado sobre a "rebeldia" do ex-governador Tasso Jereissati, tucano que tem ajudado Ciro em articulações políticas e empresariais, FHC não respondeu. Mas Ruth disse: "Ah, dá uma folga".
A respeito da posição desfavorável de Serra nas pesquisas, FHC disse: "É como o câmbio, sobe e desce". Para ele, a situação irá mudar quando começar o horário eleitoral gratuito, em 20 de agosto.
Na TV, segundo FHC, é que se vai ver "quem é confiável, quem realmente diz coisa com coisa, quem blefa, quem promete o que não vai cumprir". Para ele, "Serra é o oposto disso" e é "pessoa firme, vai fazer o que disse que vai fazer porque sabe das limitações e, portanto, também sabe que é possível mudar para melhor".

Acordo com o FMI
FHC disse que um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) "parece ser" a condição para que a taxa de juros não dispare e a "população tenha um horizonte de tranquilidade". Segundo ele, o Brasil tem o apoio do FMI e dos presidentes de bancos centrais do G-7 (grupo dos países mais ricos do mundo). "Vou assumir minha responsabilidade. Depois, cada um assuma a sua."
Ele lembrou que, na campanha de 1998, em meio a crise financeira, o governo apertou o cinto e fez acordo com o Fundo. "Alguns reagiram e outros não, mas o Brasil superou aquela dificuldade. Então agora é a mesma coisa."
FHC não deu data para o acordo, alegando evitar especulações, e disse que a fragilidade hoje é "de toda a economia mundial".

Gás
FHC voltou a dizer que o preço do gás de cozinha não será mais afetado diretamente pelo dólar. Serra critica a Petrobras, que aumentou o preço do produto. "Eu acho que não há razão para fazer transferências automáticas da variação de câmbio para o preço do gás de cozinha", disse FHC.
No começo da noite, Serra e Rita voltaram para nova reunião com FHC, agora com participação de políticos aliados. O deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG), coordenador político da campanha de Serra, disse que foi feita uma avaliação positiva da campanha e se definiram estratégias.
Uma estratégia, disse, é o combate a "excessos" cometidos por outros candidatos. Pimenta disse que algumas propostas de Lula e Ciro são "até desejáveis, mas que não podem ser cumpridas". "São candidatos que não têm compromisso com a verdade."


Colaboraram KENNEDY ALENCAR e RAYMUNDO COSTA, da Sucursal de Brasília



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