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TENSÃO SOCIAL
Ação, que foi feita em conjunto com a Abin, já identificou lideranças, localização e forma de agir dos grupos
PF infiltra agentes em movimentos sociais
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal e a Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) infiltraram agentes em movimentos sociais e nas milícias armadas de fazendeiros e identificaram os nomes de lideranças, a localização dos acampamentos e a
forma de agir de sem-terra e ruralistas. Com isso, avalia o governo,
já seria possível "estrangular" os
grupos a qualquer momento.
Segundo a Folha apurou, a
questão agrária acendeu a chamada "luz amarela" no Ministério da
Justiça, Abin e PF. Segundo o jargão dos serviços de inteligência,
isso significa que um eventual
conflito poderia acontecer.
A "tensão social" é acompanhada com apreensão pelo núcleo
duro do governo -grupo de ministros mais ligados ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem, o ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, conversou por cerca de 45 minutos com
o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, a quem disse, segundo sua
assessoria, que não é hora de intervir diretamente, mas de "acentuar os trabalhos de inteligência".
Ou seja, o governo não quer agir
agora porque avalia que isso provocaria um aumento da tensão no
campo. Ao mesmo tempo, quer
estar preparado para uma resposta rápida caso seja preciso.
O ministro conversa diariamente com Lacerda. O presidente Lula
não fala com o delegado, mas recebe informes periódicos de Bastos. Segundo um policial federal
ouvido pela Folha, caberia ao ministro a ordem para que a PF começasse a agir mais ostensivamente no campo.
Infiltração e escutas
Para obter informações do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) e das milícias
de fazendeiros, os órgãos de inteligência infiltram agentes, realizam interceptações telefônicas e
cruzam as bases de dados da PF e
da Abin. Os mapas de localização
são feitos utilizando tecnologia
GPS (via satélite) e fotos aéreas.
Um exemplo citado pelo governo é a região do Pontal do Paranapanema (SP). Está disponível para o ministro da Justiça um levantamento dos sete principais locais
de tensão na área.
No caso dos fazendeiros, a PF já
instaurou alguns inquéritos e
aguarda resposta, da Justiça, para
os pedidos de mandado de
apreensão de armas ilegais. Os
policiais sabem onde e com quem
estão as armas, além de ter identificado material de colecionadores, que não pode ser apreendido.
Ou seja, o trabalho para "estrangular" as ações desses grupos já
está feito. Bastaria começar operações de busca e apreensão de armas e levar as lideranças à Justiça
para conter as iniciativas dos sem-terra, sem-teto e fazendeiros.
A ação da inteligência da PF está
concentrada nos Estados de São
Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio
Grande do Sul, Mato Grosso do
Sul, Alagoas e Pernambuco.
O ponto mais delicado para a
inteligência é a ação dos sem-teto
em São Paulo, liderados pelo
MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Ao invadirem propriedades estaduais, não
cometem crime federal, e até a
presença ostensiva da PF não poderia ser justificada. Como não
dizem que estão "ausentes", a Folha apurou que a superintendência de São Paulo acompanha a
movimentação à distância.
O governo intensificou as ações
de inteligência da PF por causa
dos recentes "atos hostis", como
os discursos feitos por João Pedro
Stedile, do MST, as invasões e o
aumento de acampados no Pontal e a invasão de prédios e de um
terreno da Volkswagen pelo
MTST, em São Paulo.
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