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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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TENSÃO SOCIAL

Presidente compara movimentos a partidos políticos, que, segundo ele, quando crescem, começam a se dividir

Lula vê perda de controle de lideranças sociais

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
DA ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em discurso durante a reunião fechada com nove governadores ontem, que marcou o relançamento da Sudene, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os movimentos sociais estão crescendo muito e, por causa disso, as lideranças estão perdendo o controle. Ele chegou a fazer uma analogia da situação desses movimentos com partidos políticos.
Sem citar o nome de nenhuma entidade, Lula disse que vai dedicar mais tempo à questão e que irá ter conversas mais diretas com as lideranças e com os governadores. "É como em um partido político, quando cresce demais, começa a dividir, cria tendências. O comando da organização acaba perdendo o controle", afirmou Lula, segundo relato do governador Ronaldo Lessa (PSB).
Segundo Lessa, o presidente vai intensificar conversas com outros governadores- citou Geraldo Alckmin, de São Paulo- para traçar um plano de soluções conjuntas para enfrentar a questão.
Em São Paulo, o Pontal do Paranapanema é uma área histórica de tensão entre sem-terra e fazendeiros. Na cidade de São Paulo, a invasão de prédios e de terrenos no perímetro urbanos é outra preocupação.
Lessa concordou com Lula sobre o crescimento dos movimentos sociais. Citou, como exemplo, o Estado que governa. Em Alagoas, a fragmentação dos trabalhadores rurais fez surgir quatro movimentos que atuam no campo controlando as invasões.
Em Pernambuco, outro exemplo, o maior responsável por invasões de terras é a OLC (Organização Luta no Campo), um grupo organizado por 52 dissidentes da Fetap (Federação dos Trabalhadores da Agricultura). Só em julho foram 41 invasões, sendo 18 é um só dia.
A preocupação do presidente é conseguir manter a autoridade do governo e a ordem social, mas sem frustrar as expectativas dos movimentos, alguns dos quais julga ter reivindicações justas, como a reforma agrária.
O presidente chegou a comparar o fenômeno ao crescimento de pequenos partidos políticos, nos quais as novas dimensões e o surgimento de novas tendências políticas inviabilizam o controle mais efetivo das lideranças. Lula também não citou nenhum partido nominalmente.
Além do relato de Lessa, as preocupações de Lula foram confirmadas por outros dois políticos presentes à reunião. A assessoria de imprensa do Planalto disse ontem à noite que não seria possível verificar as afirmações.

Articulação
Apesar de já ter anunciado a reforma agrária como prioridade neste semestre, o Planalto está preocupado com o inchaço dos movimentos, o que aumenta as dificuldades que o governo já enfrentava com limitações orçamentárias e ajustes de transição.
A retomada do diálogo presidencial também com lideranças de movimentos seria uma tentativa de neutralizar os discursos mais radicais e cobrar mais responsabilidade das lideranças.
No início do mês, Lula já havia se encontrado com o MST. O clima da reunião foi descontraído, e o presidente acabou sendo criticado por vestir o boné do movimento. Mas na saída os líderes tinham discurso unificado e avaliaram positivamente o encontro.
Na semana passada, foi a vez dos ruralistas, aos quais Lula afirmou que ilegalidades não seriam permitidas em nenhum dos lado.
(FÁBIO GUIBU, LEILA SUWWAN e RAYMUNDO COSTA)


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