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TENSÃO SOCIAL
Presidente compara movimentos a partidos políticos, que, segundo ele, quando crescem, começam a se dividir
Lula vê perda de controle de lideranças sociais
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
DA ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em discurso durante a reunião
fechada com nove governadores
ontem, que marcou o relançamento da Sudene, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva disse que
os movimentos sociais estão crescendo muito e, por causa disso, as
lideranças estão perdendo o controle. Ele chegou a fazer uma analogia da situação desses movimentos com partidos políticos.
Sem citar o nome de nenhuma
entidade, Lula disse que vai dedicar mais tempo à questão e que irá
ter conversas mais diretas com as
lideranças e com os governadores. "É como em um partido político, quando cresce demais, começa a dividir, cria tendências. O
comando da organização acaba
perdendo o controle", afirmou
Lula, segundo relato do governador Ronaldo Lessa (PSB).
Segundo Lessa, o presidente vai
intensificar conversas com outros
governadores- citou Geraldo
Alckmin, de São Paulo- para
traçar um plano de soluções conjuntas para enfrentar a questão.
Em São Paulo, o Pontal do Paranapanema é uma área histórica de
tensão entre sem-terra e fazendeiros. Na cidade de São Paulo, a invasão de prédios e de terrenos no
perímetro urbanos é outra preocupação.
Lessa concordou com Lula sobre o crescimento dos movimentos sociais. Citou, como exemplo,
o Estado que governa. Em Alagoas, a fragmentação dos trabalhadores rurais fez surgir quatro
movimentos que atuam no campo controlando as invasões.
Em Pernambuco, outro exemplo, o maior responsável por invasões de terras é a OLC (Organização Luta no Campo), um grupo
organizado por 52 dissidentes da
Fetap (Federação dos Trabalhadores da Agricultura). Só em julho foram 41 invasões, sendo 18 é
um só dia.
A preocupação do presidente é
conseguir manter a autoridade
do governo e a ordem social, mas
sem frustrar as expectativas dos
movimentos, alguns dos quais
julga ter reivindicações justas, como a reforma agrária.
O presidente chegou a comparar o fenômeno ao crescimento
de pequenos partidos políticos,
nos quais as novas dimensões e o
surgimento de novas tendências
políticas inviabilizam o controle
mais efetivo das lideranças. Lula
também não citou nenhum partido nominalmente.
Além do relato de Lessa, as
preocupações de Lula foram confirmadas por outros dois políticos
presentes à reunião. A assessoria
de imprensa do Planalto disse ontem à noite que não seria possível
verificar as afirmações.
Articulação
Apesar de já ter anunciado a reforma agrária como prioridade
neste semestre, o Planalto está
preocupado com o inchaço dos
movimentos, o que aumenta as
dificuldades que o governo já enfrentava com limitações orçamentárias e ajustes de transição.
A retomada do diálogo presidencial também com lideranças
de movimentos seria uma tentativa de neutralizar os discursos
mais radicais e cobrar mais responsabilidade das lideranças.
No início do mês, Lula já havia
se encontrado com o MST. O clima da reunião foi descontraído, e
o presidente acabou sendo criticado por vestir o boné do movimento. Mas na saída os líderes tinham discurso unificado e avaliaram positivamente o encontro.
Na semana passada, foi a vez
dos ruralistas, aos quais Lula afirmou que ilegalidades não seriam
permitidas em nenhum dos lado.
(FÁBIO GUIBU, LEILA SUWWAN e RAYMUNDO COSTA)
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