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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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INVESTIGAÇÃO

Marivonne Caillibotte diz à BBC que ex-prefeito não teria sido detido se não fosse proprietário de conta em Paris

Juíza afirma que Maluf é titular de conta

ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O ex-prefeito paulistano Paulo Maluf (PP) é titular da conta no banco Crédit Agricole, em Paris, afirmou ontem a juíza Marivonne Caillibotte, porta-voz do Tribunal de Paris, em entrevista à BBC.
Maluf nega, diz que a conta está em nome de sua mulher e afirma que não possui nenhuma conta bancária no exterior (leia texto nesta página). Ele é casado em regime de comunhão de bens com Sylvia Maluf.
De acordo com a juíza, os titulares da conta conjunta, cujo saldo é de US$ 1,8 milhão, são Paulo Maluf e Sylvia Maluf. O dinheiro foi bloqueado, por ordem da Justiça parisiense, para que ele não seja retirado da França.
Documento enviado ao Brasil em maio deste ano pela unidade de inteligência financeira da França, chamada Tracfin (Traitement du Renseignement et Action contre les Circuits Financiers Clandestins), já apontava Maluf como beneficiário da conta, conforme a Folha revelou na edição de 28 de junho último.
Desde então, ele confirma a existência da conta, mas nega que ela esteja em seu nome.
"Se ele não fosse titular da conta, por qual razão teria sido detido para dar esclarecimentos à polícia financeira sobre a origem do dinheiro?", questionou a juíza, em referência ao fato de Maluf ter ficado 11 horas à disposição das autoridades francesas na quinta.
Ela ressaltou que Maluf não foi indiciado e que, portanto, não existe acusação formal contra ele. "O senhor Maluf passa muito tempo se defendendo de algo de que ele não é, pelo menos até o momento, acusado", disse a juíza, que não foi localizada pela Folha, em Paris. Sua secretária informou que ela estava de folga ontem.
A porta-voz do Tribunal de Paris afirmou à BBC que a origem do dinheiro depositado no Crédit Agricole é "certamente curiosa". A conta de Maluf, aberta em janeiro deste ano, recebeu um depósito no valor de US$ 1.455.321,50 no dia 16 de abril.
O depósito foi feito pela Fundação Blackbird, uma empresa criada em Liechtenstein (um conhecido paraíso fiscal na Europa) por Flávio Maluf, filho do ex-prefeito. A fundação possui uma conta no banco Barings, em Genebra (Suíça), cuja origem dos recursos jamais foi esclarecida pela família de Maluf. A propriedade da empresa não consta das declarações de Imposto de Renda de Flávio.
Ele também fez transferências legais, do Brasil para a França, de pouco mais de US$ 300 mil obtidos com a venda de um terreno que ele recebeu como herança em São Paulo.
Em relação aos recursos depositados para Maluf pela Fundação Blackbird, a juíza disse que o dinheiro "passou por um circuito financeiro bastante complicado" antes de chegar a Paris.
As autoridades francesas receberam informações da Suíça sobre a origem dos recursos depositados em nome da Fundação Blackbird em uma agência do banco Barings, em Genebra.
Agora, o juiz de instrução Henri Pons, responsável pelas investigações sobre as operações financeiras realizadas por Maluf, vai reconstituir e analisar cada etapa do circuito financeiro pela qual passou o dinheiro da fundação. Ele coordena um grupo de trabalho criado pela Justiça francesa com essa finalidade. Após concluir o rastreamento, ele arquivará o caso ou acusará formalmente Maluf da prática de eventual crime de lavagem de dinheiro.


Colaborou JOÃO NOVAES, free-lance para a Folha Online, em Paris


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