São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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JANIO DE FREITAS
Negócios na ladeira

A tática para impor à opinião pública a privatização da Telebrás e da Embratel, que era negada na campanha eleitoral e o foi ainda na primeira fase do governo, seguiu exatamente o mesmo artifício de ilusionismo adotado no caso da Vale do Rio Doce: uma escala descendente do valor a ser recebido, iniciando-se a série com muito atraentes R$ 40 bi, para afinal, já disseminada a idéia de venda, chegar aos R$ 13,47 bi pedidos hoje.
Sérgio Motta levou 18 meses, entre setembro de 95 e março de 97, para cortar a primeira fatia grossa no preço, que desceu dos R$ 40 bi para R$ 30 bi, sem mais motivos do que o esquecimento geral do primeiro preço. Mas bastaram seis meses para o corte seguinte, que fez o preço cair, entre março e novembro de 97, para R$ 25 bi. Os bilhões eram tratados como escorregadias moedinhas de centavos.
Já escolado na pulverização de valores patrimoniais públicos, como cabeça de várias vendas feitas pelo BNDES, a Luiz Carlos Mendonça de Barros foi suficiente, quando feito ministro das Comunicações, considerar que Sérgio Motta "foi muito otimista" quanto ao preço, mesmo o já resultante das sucessivas amputações a frio. Daí para apresentar, depois, o valor reduzido à metade foi apenas um exercício de "cara-durismo".
No método ladeira abaixo, o maior patrimônio mundial em minério de ferro, jazidas de minerais preciosos e o controle de quase um quarto dos negócios mundiais com ferro, reunidos sob o nome da Vale, acabaram em mãos privadas por R$ 3,3 bi. O argumento que neste, como no caso de Telebrás e Embratel, acompanhou os formidáveis valores iniciais era o abatimento da dívida governamental, com a fortuna proveniente das vendas. Os minguados R$ 3,3 bi da Vale desapareceram, porém, em escaninhos insondáveis, sem que dessem para abater nem um mês de juros.
Mesmo que os especialistas do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), centro de excelência técnico-científica aqui incomparável da UFRJ, não descobrissem que a avaliação da Telebrás-Embratel usou de taxas específicas para avaliar bares e hotéis, negócios instáveis, o preço mínimo de venda já estaria sob suspeição. Pelo menos desde que o mesmo Mendonça de Barros previu que as ofertas, no leilão, cheguem a 100% acima do preço pedido pelo governo.
Se o próprio responsável pelo processo de avaliação e venda reconhece que, mesmo com o preço redobrado, a compra é bom negócio (ou ninguém pagaria até 100% mais), então o preço pedido é criminoso. Não seria se fosse um particular vendendo patrimônio seu, mas o que foi posto à venda é patrimônio público, é bem da nação.
Não é menos suspeito que a Telesp fechasse, a 48 horas de sua venda, o contrato para a compra, por R$ 45 milhões, de equipamentos que o mesmo Mendonça de Barros, há dois meses, qualificou publicamente como impróprios para um serviço celular de qualidade.
Privatizar é uma coisa. O que está sendo feito é outra, muito diferente.

Um cisco
A grande notícia de que o preço da gasolina deverá cair até 3% esqueceu de dizer, em todos os noticiários que pude ver, o que tal redução significa em dinheiro.
Explica-se: caso chegasse aos 3% nem assim chegaria a representar um quarto de centavo.

Plim plim
Se você não acreditava muito no avanço científico que produz bebês de proveta, agora tem motivo para acreditar.
Mas a farsa, como show, tem de continuar.



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