São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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Vereadores de Santo André não vão aprofundar investigações de CPI

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Criada há 70 dias para apurar a existência de um suposto esquema de extorsão de empresários para financiar campanhas políticas do PT, a CPI de Santo André deu ontem um passo decisivo para "terminar em pizza".
Após duas horas de reunião, os vereadores da comissão, todos da base de sustentação da prefeitura petista da cidade, entraram em acordo para realizar apenas uma acareação e terminar os trabalhos em 18 de setembro -três semanas antes das eleições.
Na prática, as diligências irão ocorrer até a próxima sexta-feira. A partir disso, os parlamentares vão se concentrar na elaboração do relatório final -que tem como objetivo mostrar se existe uma máfia da propina na cidade ou se as denúncias foram plantadas pelos acusadores devido a interesses políticos e/ou pessoais.
As acareações, semanas atrás, eram encaradas pelos próprios parlamentares como uma das "poucas" opções para evitar que a comissão terminasse com resultados irrelevantes.
Marcado para a próxima segunda-feira, o confronto cara a cara será entre a empresária Rosângela Gabrilli, que disse ao Ministério Público ter pago cerca de R$ 2 milhões de propina a pessoas ligadas à administração municipal, e o empresário Ronan Maria Pinto.
De acordo com a Promotoria, além de Ronan e outras três pessoas, o empresário Sérgio Gomes da Silva e o vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza, secretário afastado de Serviços Municipais, teriam cobrado propina de empresários que tinham contratos com a prefeitura, durante a gestão de Celso Daniel (PT), assassinado em janeiro passado.
O dinheiro arrecadado -de acordo com depoimento de João Francisco Daniel, irmão de Celso, ao Ministério Público- passaria nas mãos de Gilberto Carvalho, ex-secretário de Governo e assessor do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, antes de ser entregue a José Dirceu, presidente nacional do partido. Todos negam as acusações.
Para justificar o veto da comissão a outras acareações, o presidente da CPI, Antonio Leite (PT), utilizou como argumento a decisão do ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal, que no início de julho rejeitou por "insuficiência" de provas a abertura de um inquérito criminal contra José Dirceu.
"A própria manifestação do ministro [Nelson Jobim" nos levou a isso. Ele afirmou que não se poderia tomar uma decisão na base do ouvir falar", declarou Leite. À época, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não recorreu da decisão.
Confrontos cara a cara entre João Francisco Daniel e Gilberto Carvalho e os empresários do setor de transporte Sebastião Passarelli e Ronan Maria Pinto (veja quadro ao lado) foram encarados como "sem relevância" pelo primeiro escalão da comissão.
"Nós entendemos que as outras não são relevantes ou já estão esclarecidas", disse Leite. Ao ser questionado se o fato de Passarelli ter dito que entregou um "pacote" de dinheiro nas mãos de Ronan não seria relevante, o relator da CPI disse: "Ele [Passarelli] fez isso só uma vez. Eu não entendo que seja [relevante]."
Até agora, depois de ter colhido 21 depoimentos e anunciado uma série de contradições que poderiam ser punidas por falso testemunho, os vereadores passaram as últimas duas semanas debruçados em uma pilha de documentos de empresas de transporte.



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