São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTRATÉGIA

Após queda nas pesquisas, campanha do candidato do PPS quer colar no presidenciável tucano rótulo de governista

Ciro promete 'sangue'; Serra mantém ataques

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
No Rio, Ciro visita o escritório de Oscar Niemeyer, que o apóia


CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O novo cenário eleitoral desenhado pelas pesquisas mais recentes, que aproximaram José Serra (PSDB) de Ciro Gomes (PPS), vai trazer um pouco mais de "sangue" à campanha do ex-governador do Ceará.
"Sangue" é a expressão usada por João Herrmann Neto, vice-presidente nacional do partido de Ciro, para designar não ataques pessoais, mas a tentativa de colar em Serra o rótulo de governista.
"A campanha deve mostrar que o candidato que está acusando Ciro é o que representa todas as mazelas legadas pelo governo, da dívida externa ao desemprego e à violência jamais vista", afirmou Herrmann.
A Folha conversou com quatro representantes da campanha Ciro (Luís Costa Pinto, chefe da assessoria de imprensa, Egydio Serpa, porta-voz, e Walfrido Mares Guia, deputado petebista da coordenação nacional, além de Herrmann, que é líder do PPS na Câmara dos Deputados).
Todos negaram a intenção de utilizar o "bateu, levou".
Mas Costa Pinto deixa aberta uma fresta: "Ataques pessoais, só se a coisa degringolar".

Contra-ataque
O senador Jorge Bornhausen (SC), presidente nacional do PFL e o principal apoio de Ciro no partido, defende, no entanto, outra linha: sugere que os comerciais curtos (as inserções de 30 segundos) sejam usados para contra-atacar. "Os ataques contra Ciro tiveram efeito porque não houve resposta rápida nem adequada", avalia Bornhausen.
"Se respondidos de forma inteligente e adequada, interrompe esse processo [de queda de Ciro e subida de Serra]", completa.
Qual seria a forma inteligente? Deixar que o candidato continue a fazer propostas, enquanto "terceiros" usariam os comerciais para atacar Serra.
O senador pefelista acredita que Serra só ganhou pontos porque os ataques foram anônimos, em vez de serem assinados, "como seria juridicamente correto".
Bornhausen acha que, se os ataques levassem assinatura, ganharia Lula, uma tese que leva em conta a sabedoria política convencional segundo a qual "quem bate não sobe", como diz o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato ao Senado.

Apoio ao tucano
A avaliação de outros integrantes da campanha Ciro difere algo da que Bornhausen faz. O deputado Walfrido Mares Guia, por exemplo, diz que o "volume de campanha do Serra, mais todos os apoios que ele tem, certamente levariam a uma mexida nas pesquisas". Reforça Serpa, o porta-voz: "Você acha que seria fácil enfrentar grande parte do sistema financeiro, o próprio mercado e grande parte da mídia?".
Seja qual for a causa da "mexida", o programa de Ciro terá mudanças, antecipa Mares Guia: "Ciro apareceu muito solitário. Agora, o programa vai mostrar mais gente, vai mostrar que ele tem o apoio de 184 deputados federais, de 30 senadores e da maioria dos que têm chances de ganhar para governador nos Estados".

Time que está ganhando
Do lado Serra, ninguém espera mudanças, até porque a sabedoria política convencional é igual à do futebol: em time que está ganhando não se mexe.
Pelo que a Folha apurou, nenhuma mudança substancial será introduzida, embora alterações diárias estejam sendo feitas, até porque a campanha, como as demais, é movida a pesquisas diárias sobre o humor do eleitor.
Pelas contas de Nizan Guanaes, o marqueteiro de Serra, 96% do programa gratuito é ocupado por propostas. O restante (mais os comerciais de 30 segundos) fica para os ataques, que Nizan chama de "legítima defesa"...
"Tudo o que a gente veiculou até agora foi gerado pelo Ciro Gomes, que deveria até assinar a ficha técnica do programa", diz o publicitário, em alusão ao fato de que o que vai ao ar sai de entrevistas do próprio candidato do PPS.
A "mexida" nas pesquisas que incomoda o comando de campanha de Ciro foi tão forte que Nizan diz estar empenhado agora em lutar contra o "já ganhou" depois de uma batalha, bem mais prolongada, contra o "já perdeu".
"Queda definitiva é só de avião", diz o marqueteiro de Serra, para deixar claro que não considera o recuo de Ciro como um fato que se reproduzirá necessariamente nas próximas pesquisas de intenção de voto.

"Coisas inacreditáveis"
A campanha Serra se considera municiada para manter os ataques (ou "legítima defesa"): fez uma varredura na biografia de Ciro e diz ter encontrado "coisas inacreditáveis", na expressão ouvida pela Folha no QG tucano.
Do lado Ciro, também há material, mas parece haver o receio de que o adversário tenha maior poder de fogo, não em argumentos mas em tempo.
"Nós temos dois comerciais por dia, a metade do que o Serra dispõe", lembra Mares Guia.
De todo modo, a estratégia da Frente Trabalhista de Ciro (PPS-PDT-PTB) para os próximos dias estava sendo tratada na noite de ontem, no Rio, em reunião com representantes dos três partidos que a formam, além do senador pefelista Bornhausen.



Texto Anterior:
ELEIÇÕES 2002
Presidente: Frente atribui queda ao próprio Ciro

Próximo Texto: Tucano ainda não vai polarizar com petista
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.