São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Em palácio

RONALDO COSTA COUTO

Sede de governo estadual, três da tarde de uma quinta-feira, poucos anos atrás. O vasto governador chega de viagem, cabeça ainda em Brasília e na campanha eleitoral.
A fiel secretária entra com a agenda de audiências na mão: "A comissão de empreiteiros já chegou, governador."
Ele responde: "Ótimo! Tranque no cofre e me entregue na saída".

Presença de malícia
São Paulo, Palácio dos Campos Elíseos, final dos anos 50. Gabinete cheio, muita imprensa, o governador Jânio Quadros recebe o deputado federal mineiro José de Magalhães Pinto, estrela e raposa udenista. Os dois estão de olho nas eleições presidenciais de 1960. O carismático Jânio tem grande popularidade e projeção nacional. Mas Magalhães vem crescendo, ameaça firmar-se como presidenciável. Jânio lhe diz: "Como vai, doutor Bilac Pinto?". E a resposta: "Bem, obrigado, doutor Adhemar de Barros".

Sobrenatural do planalto
Ciro, Garotinho, Lula e Serra brigam de foice no escuro e no claro para ocupar o Alvorada, palácio construído em apenas dezoito meses, flor de Niemeyer que enfeitou Brasília antes mesmo da formação do Lago Paranoá, em cujas margens quase levita. Apesar de novo, inaugurado em junho de 1958, consta que é lugar de acontecimentos estranhos, inexplicáveis, alguns assustadores. Políticos e não políticos.
Logo depois do golpe de 1964, o marechal Castello Branco, que não era supersticioso, resolveu morar lá. Foi quando começaram a surgir histórias fantasmagóricas. À noite, a alma de Vargas costumava aparecer, ouvia-se barulho de correntes arrastadas, um piano tocava sozinho. Coisas assim. O alegre Juscelino, pai da obra e primeiro inquilino, morto em 22 de agosto de 1976, também foi incluído. Teria sido visto despachando na biblioteca em pleno governo Geisel.
Até onde se sabe, espíritos visitantes e assombrações em geral sumiram depois da democratização.

Aviso aos postulantes
De José Francisco Bias Fortes: "O primeiro dever do governo é não assustar".
De Gustavo Capanema: "Na política, a coisa mais difícil é guardar silêncio; e não guardar silêncio é a coisa mais perigosa".


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna



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