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FOLCLORE POLÍTICO
Em palácio
RONALDO COSTA COUTO
Sede de governo estadual, três
da tarde de uma quinta-feira,
poucos anos atrás. O vasto governador chega de viagem, cabeça
ainda em Brasília e na campanha
eleitoral.
A fiel secretária entra com a
agenda de audiências na mão: "A
comissão de empreiteiros já chegou, governador."
Ele responde: "Ótimo! Tranque
no cofre e me entregue na saída".
Presença de malícia
São Paulo, Palácio dos Campos
Elíseos, final dos anos 50. Gabinete cheio, muita imprensa, o governador Jânio Quadros recebe o deputado federal mineiro José de
Magalhães Pinto, estrela e raposa
udenista. Os dois estão de olho
nas eleições presidenciais de 1960.
O carismático Jânio tem grande
popularidade e projeção nacional. Mas Magalhães vem crescendo, ameaça firmar-se como presidenciável. Jânio lhe diz: "Como
vai, doutor Bilac Pinto?". E a resposta: "Bem, obrigado, doutor
Adhemar de Barros".
Sobrenatural do planalto
Ciro, Garotinho, Lula e Serra
brigam de foice no escuro e no
claro para ocupar o Alvorada, palácio construído em apenas dezoito meses, flor de Niemeyer que enfeitou Brasília antes mesmo da
formação do Lago Paranoá, em
cujas margens quase levita. Apesar de novo, inaugurado em junho de 1958, consta que é lugar de
acontecimentos estranhos, inexplicáveis, alguns assustadores.
Políticos e não políticos.
Logo depois do golpe de 1964, o
marechal Castello Branco, que
não era supersticioso, resolveu
morar lá. Foi quando começaram
a surgir histórias fantasmagóricas. À noite, a alma de Vargas
costumava aparecer, ouvia-se barulho de correntes arrastadas, um
piano tocava sozinho. Coisas assim. O alegre Juscelino, pai da
obra e primeiro inquilino, morto
em 22 de agosto de 1976, também
foi incluído. Teria sido visto despachando na biblioteca em pleno
governo Geisel.
Até onde se sabe, espíritos visitantes e assombrações em geral
sumiram depois da democratização.
Aviso aos postulantes
De José Francisco Bias Fortes:
"O primeiro dever do governo é
não assustar".
De Gustavo Capanema: "Na política, a coisa mais difícil é guardar silêncio; e não guardar silêncio é a coisa mais perigosa".
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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