São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
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Pós-Marcha
PÓS-MARCHA Saída de Malan não é exigência para mudar economia, diz Tasso
"Sou do PSDB, vou apoiar o presidente até o fim"

-Folha - Os políticos dizem isso em público. Mas, privadamente, discutem abertamente as alternativas. No PSDB, por exemplo, mencionam-se os nomes de Covas, o seu e o de José Serra.
Tasso -
Isso é loucura.

Folha - Sabendo que sua lealdade ao presidente lhe impede de antecipar o debate sucessório e supondo que sua vivência política tenha lhe ensinado que quem sai na chuva com tanta antecedência pode pegar pneumonia, vou perguntar diferente: o que aconteceria no Brasil se um sujeito com a cabeça de Tasso Jereissati assumisse a Presidência?
Tasso -
Não vou cair nessa sua armadilha. Qualquer um teria enormes dificuldades para governar o Brasil no atual modelo político, sem mudança nas regras de convivência política entre o Executivo e o Legislativo. Eu próprio teria muitas dificuldades em fazer tudo aquilo que eu sonharia fazer.

Folha - Seu amigo Ciro Gomes tenta apresentar-se ao eleitorado como uma alternativa presidencial responsável: mais firme e decidido do que FHC e mais confiável do que Lula e Brizola. O senhor acha que esse discurso pode emplacar?
Tasso -
Acho que as chances são grandes. Mantido o quadro atual, as chances são muito grandes. O Ciro tem uma identificação com o Plano Real, tem experiências anteriores importantes e, portanto, possui chances inegáveis de crescer.

Folha - O senhor chegaria a classificá-lo como favorito?
Tasso -
Não, porque, como disse, qualquer especulação neste momento é precipitada. E quero deixar claro que sou do PSDB, apoiarei o candidato do partido e, independentemente de índices de popularidade, vou apoiar o presidente Fernando Henrique até o fim.

Folha - E quanto ao senador Antonio Carlos Magalhães, que se apresenta com um discurso que valoriza a autoridade, tem chances?
Tasso -
Acho que sim. Como eu estava dizendo, a população percebe as deficiências do atual sistema político. Ela percebe e é contra. Um homem com o perfil de autoridade do Antonio Carlos, continuando os problemas atuais, pode crescer. Quero deixar claro que não estou dizendo que o presidente Fernando Henrique não tem autoridade. Apenas esse relacionamento complicado com o Congresso leva a essa percepção.

Folha - Além de Ciro e ACM, há o nome de Lula e uma dúvida em relação ao PMDB, talvez seja Itamar Franco. E quanto ao seu partido? Quem será o o candidato do PSDB?
Tasso -
O PSDB leva uma vantagem. Temos bons nomes e nenhum deles se coloca como única alternativa do partido. Isso é muito importante.

Folha - Se pudéssemos voltar no tempo, como o PSDB deveria ter se comportado diante da perspectiva de reeleição de Fernando Henrique?
Tasso -
Começaria propondo, durante a campanha eleitoral, uma proposta de programa de governo, avalizada pela população, de profunda reforma política. Encaminharia no primeiro dia. E com certeza teria feito, também durante a campanha, uma reflexão melhor sobre o que não deu certo no modelo econômico.

Folha - Há tempo para alterar o modelo econômico ainda no atual governo?
Tasso -
Acho que há e tenho certeza que o presidente reflete sobre isso já há algum tempo. Não sei se para mudar o modelo econômico, mas para, pelo menos, corrigir rumos do modelo econômico.

Folha - A mudança de modelo teria de passar pela troca de comando na economia? O ministro Malan precisaria sair?
Tasso -
Não necessariamente.

Folha - O sr. acha que a marcha promovida pela oposição em Brasília na quinta-feira reforça essa sua visão de que é preciso alterar o modelo econômico?
Tasso -
Evidentemente que aquilo reforça o que digo. São sinais que precisam ser tomados como sinais da sociedade, importantes. O governo não pode ignorar. E creio que não está ignorando. Mas penso também que as lideranças tentaram pintar naquela manifestação um quadro que não existe. Querem criar um clima que não existe. Precisamos observar o que é de fato bom para o país.

Folha - O senhor se refere à retórica da manifestação, que incluiu a defesa do impeachment e expressões como "fora FHC"?
Tasso -
Esse negócio de impeachment do presidente, essa história de que o país está vivendo o pior dos mundos, o caos total, uma calamidade pública. Isso é maluquice, não existe. A oposição precisa ter maturidade para fazer oposição, mas não tentando piorar as coisas. Não se pode tomar as dificuldades, que são muitas, para exagerar, tentando levar a um nível de dificuldades ainda maior, que não existe.


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