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CPI DO NARCOTRÁFICO
Ministério Público quer apurar suposto envolvimento de deputado em morte de amante do pai
Aleksandro é alvo de nova investigação
ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Rio Branco
O Ministério Público do Acre
vai reabrir o processo referente ao
assassinato da balconista Ana
Cláudia Rocha Lopes para apurar
denúncia que aponta o suposto
envolvimento do deputado José
Aleksandro da Silva (PFL-AC).
Ele assumiu a vaga do ex-deputado Hildebrando Pascoal, cassado
e preso na semana passada.
A CPI do Narcotráfico aprovou
ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Aleksandro. Ele vai depor na CPI hoje.
A mãe da vítima de assassinato,
Ana Maria Lopes, 49, acusou anteontem o deputado de ter sido
mentor do crime.
Segundo ela, ele estaria dirigindo o carro em que fugiram seus irmãos Alexandre e Sandroneto
após torturar e matar Ana Cláudia em um terreno abandonado
em Rio Branco, no dia 3 de novembro de 1990.
Ana Cláudia tinha 22 anos. Foi
assassinada porque era amante
do pai deles, Domiciano Severino
da Silva, morto há dois anos. Ela
teria despertado a ira dos dois irmãos ao provocar a mãe, segundo
Ruy Duarte, advogado da família.
"Eles (Alexandre e Sandroneto)
foram à minha casa, pegaram minha filha e a levaram para um terreno baldio. Depois de baterem
nela, fizeram que comesse fezes
de gente e cachorro", disse Ana
Maria Lopes.
As declarações da mãe da vítima constam de reportagem publicada na edição de ontem do
jornal local "Página 20". Ela não
foi localizada. Teria viajado para
Cobija (Bolívia), a 200 km de Rio
Branco, com medo de represálias
da família do deputado.
O promotor Eliseu Buchmeier
de Oliveira irá convocar Ana Maria com a finalidade de levantar
novos indícios sobre o envolvimento do deputado no episódio.
O crime de homicídio somente
deixa de ser punível após 20 anos.
Segundo a entrevista, Ana Maria disse que o deputado transportou e ajudou a esconder seus
irmãos na Santa Casa de Misericórdia para evitar a prisão em flagrante. Os irmãos do deputado
foram condenados a 12 anos de
prisão por terem cometido homicídio qualificado -não permitiram defesa à vítima e praticaram
o crime movidos por motivo fútil.
Um deles, Alexandre, está preso
em Brasília sob a acusação de envolvimento com narcotráfico e
grupo de extermínio que seria liderado por Hildebrando.
Sandroneto foi recolhido ontem
à penitenciária de Rio Branco por
ordem do juiz de Execuções Criminais de Rio Branco, Marcelo
Badaró. Era um dos 38 condenados que cumpriam, irregularmente, prisão domiciliar.
Para o advogado Ruy Duarte, o
assassinato da balconista não envolve o deputado, e seus irmãos
estão cumprindo as penas estabelecidas pela Justiça.
Aleksandro é acusado pelo Ministério Público do Acre de usar a
gráfica Folha da Manhã, de Rio
Branco, para falsificar notas fiscais emitidas pela empresa E. A.
Carvalho em nome da Câmara
Municipal, no período em que ele
ocupou a primeira secretaria da
Casa, entre 97 e 99.
A empresa é responsável pela
edição do "Diário Oficial" do Estado do Acre, no qual a Câmara
publica eventualmente seus atos
institucionais. Segundo denúncia
do Ministério Público, entre janeiro de 97 e abril de 99, a Câmara
pagou R$ 2.432.548,23 à empresa.
Na investigação, a gráfica informou ao Ministério Público que só
tinha prestado serviços referentes
a R$ 1.219.008,02. Segundo o Ministério Público, o grupo liderado
por Aleksandro usava equipamentos da gráfica para adulterar e
reproduzir notas emitidas pela
empresa E. A. Carvalho.
A acusação de falsificação de
notas foi um dos motivos da prisão de Aleksandro, em 5 de maio
passado. Ele foi solto no mesmo
dia, graças a um habeas corpus
concedido pelo TJ do Acre.
Aleksandro diz que a denúncia
de falsificação de notas fiscais é
mais uma "armação de promotores petistas". O proprietário da
gráfica, Arivaldo Moreira, também nega que as notas tenham sido falsificadas na sua empresa.
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