São Paulo, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1999
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CPI DO NARCOTRÁFICO

Ministério Público quer apurar suposto envolvimento de deputado em morte de amante do pai

Aleksandro é alvo de nova investigação

ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Rio Branco

O Ministério Público do Acre vai reabrir o processo referente ao assassinato da balconista Ana Cláudia Rocha Lopes para apurar denúncia que aponta o suposto envolvimento do deputado José Aleksandro da Silva (PFL-AC). Ele assumiu a vaga do ex-deputado Hildebrando Pascoal, cassado e preso na semana passada.
A CPI do Narcotráfico aprovou ontem a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Aleksandro. Ele vai depor na CPI hoje.
A mãe da vítima de assassinato, Ana Maria Lopes, 49, acusou anteontem o deputado de ter sido mentor do crime.
Segundo ela, ele estaria dirigindo o carro em que fugiram seus irmãos Alexandre e Sandroneto após torturar e matar Ana Cláudia em um terreno abandonado em Rio Branco, no dia 3 de novembro de 1990.
Ana Cláudia tinha 22 anos. Foi assassinada porque era amante do pai deles, Domiciano Severino da Silva, morto há dois anos. Ela teria despertado a ira dos dois irmãos ao provocar a mãe, segundo Ruy Duarte, advogado da família.
"Eles (Alexandre e Sandroneto) foram à minha casa, pegaram minha filha e a levaram para um terreno baldio. Depois de baterem nela, fizeram que comesse fezes de gente e cachorro", disse Ana Maria Lopes.
As declarações da mãe da vítima constam de reportagem publicada na edição de ontem do jornal local "Página 20". Ela não foi localizada. Teria viajado para Cobija (Bolívia), a 200 km de Rio Branco, com medo de represálias da família do deputado.
O promotor Eliseu Buchmeier de Oliveira irá convocar Ana Maria com a finalidade de levantar novos indícios sobre o envolvimento do deputado no episódio. O crime de homicídio somente deixa de ser punível após 20 anos.
Segundo a entrevista, Ana Maria disse que o deputado transportou e ajudou a esconder seus irmãos na Santa Casa de Misericórdia para evitar a prisão em flagrante. Os irmãos do deputado foram condenados a 12 anos de prisão por terem cometido homicídio qualificado -não permitiram defesa à vítima e praticaram o crime movidos por motivo fútil.
Um deles, Alexandre, está preso em Brasília sob a acusação de envolvimento com narcotráfico e grupo de extermínio que seria liderado por Hildebrando.
Sandroneto foi recolhido ontem à penitenciária de Rio Branco por ordem do juiz de Execuções Criminais de Rio Branco, Marcelo Badaró. Era um dos 38 condenados que cumpriam, irregularmente, prisão domiciliar.
Para o advogado Ruy Duarte, o assassinato da balconista não envolve o deputado, e seus irmãos estão cumprindo as penas estabelecidas pela Justiça.
Aleksandro é acusado pelo Ministério Público do Acre de usar a gráfica Folha da Manhã, de Rio Branco, para falsificar notas fiscais emitidas pela empresa E. A. Carvalho em nome da Câmara Municipal, no período em que ele ocupou a primeira secretaria da Casa, entre 97 e 99.
A empresa é responsável pela edição do "Diário Oficial" do Estado do Acre, no qual a Câmara publica eventualmente seus atos institucionais. Segundo denúncia do Ministério Público, entre janeiro de 97 e abril de 99, a Câmara pagou R$ 2.432.548,23 à empresa.
Na investigação, a gráfica informou ao Ministério Público que só tinha prestado serviços referentes a R$ 1.219.008,02. Segundo o Ministério Público, o grupo liderado por Aleksandro usava equipamentos da gráfica para adulterar e reproduzir notas emitidas pela empresa E. A. Carvalho.
A acusação de falsificação de notas foi um dos motivos da prisão de Aleksandro, em 5 de maio passado. Ele foi solto no mesmo dia, graças a um habeas corpus concedido pelo TJ do Acre.
Aleksandro diz que a denúncia de falsificação de notas fiscais é mais uma "armação de promotores petistas". O proprietário da gráfica, Arivaldo Moreira, também nega que as notas tenham sido falsificadas na sua empresa.


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