São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DIA DA CAÇA

Para Jaques Wagner, eleição de ex-ministro traz reaglutinação da base aliada na Câmara e mostra que não houve constrangimento

Ministro nega "rolo compressor" e Lula prega independência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se empenhou pessoalmente para a candidatura e a vitória de Aldo Rebelo (PC do B-SP), divulgou nota de cinco linhas em que cumprimenta o novo presidente da Câmara e diz estar seguro de que Legislativo e Executivo continuarão a ter diálogo "independente, construtivo e respeitoso, sempre voltado ao legítimo interesse da sociedade".
No dia seguinte à eleição do ex-presidente da Casa Severino Cavalcanti (PP-PE), que vencera o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), em fevereiro, Lula disse que o Planalto não havia sido derrotado na disputa porque "não disputou a eleição, quem disputou foi o PT".
Um dos ministros mobilizados pelo Planalto para agir em favor de Aldo, Jaques Wagner (Relações Institucionais) disse ontem, logo após o resultado, que a vitória reaglutina a base aliada, fortalece o governo e mostra que o relacionamento com o Legislativo foi de "respeito, diálogo e convencimento", e não de "constrangimento ou tráfico de influência".
Logo após conceder entrevista, Wagner seguiu para a Granja do Torto, onde se encontrou com Lula para fazer a "comemoração da base do governo". A primeira reunião oficial entre Lula e Aldo deve acontecer hoje.
No Planalto, o clima era de alívio e emoção. Funcionários e o próprio ministro choraram ao saber do resultado. "Até que enfim uma alegria", comemorou Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete de Lula, dizendo que a eleição importante para manter a relação adequada com o Legislativo.
Mais cedo, Wagner disse à Folha que a oposição exagerou nas críticas a Lula, especialmente setores do PFL, "o que despertou um sentimento na base do governo" na Câmara de que precisava reagir. "Depois de tanto exagero e de uma certa agressão de parte menor das oposições, a base levantou sua auto-estima. Entendeu quer era hora de reagir a uma condenação prematura e indevida do nosso governo."
Para Wagner, a vitória de Aldo "dignifica" a Câmara e "mostra que a Casa não quer ser nem governo nem oposição, quer ser o Parlamento brasileiro".
O ministro negou que o governo tenha ido "além do limite". "Disse ao presidente que nós ganhamos essa eleição sem vender a alma, a minha, nem vender o governo", completou, afirmando que o governo respeitou os deputados que quiseram manter as candidaturas.
Negando "rolo compressor", o ministro disse que não houve "tráfico nem ameaça, mas sim convencimento". Ao tratar da liberação das emendas de parlamentares, Wagner disse que o recurso é um direito dos deputados e faz parte de cronograma de liberação, a cada dois meses. "Não oferecemos ministério a ninguém. Pedimos aos ministros que estão na aliança de apoio ao governo que buscassem votos."

Articulação
O ministro disse ainda que sua intenção é "tentar retomar um diálogo com todo o PMDB", partido que se apresentou dividido na disputa. Afirmou que ontem mesmo ligou para membros do grupo oposicionista dispondo-se a manter "canais abertos" para futuras negociações.
Wagner disse que vai procurar a parte do PMDB que optou pela candidatura de José Thomaz Nonô (PFL-AL) depois que o presidente do partido, Michel Temer (SP), renunciou à candidatura.
Na avaliação da cúpula do governo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não entregou os 60 votos peemedebistas a favor de Aldo que prometera a Lula e levou o governo a ter de voltar a negociar mais fortemente com PP, PTB e PL para vencer a eleição. (KENNEDY ALENCAR E LUCIANA CONSTANTINO)


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