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ANÁLISE
Governo ganha pouco fôlego
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Imaginado o desastre que seria
a entrega da presidência da Câmara ao PFL, o governo Lula tem
razão para comemorar a eleição
de Aldo Rebelo (PC do B-SP). Estancou o isolamento político. E,
inegavelmente, ganhou fôlego para enfrentar a crise política.
Vista em si mesma, foi uma vitória de Pirro -clichê que cai como uma luva nesse caso. O pefelista José Thomaz Nonô (AL) foi
batido por diferença de apenas 15
votos (placar de 258 a 243). Muito
pouco para um governo que moveu mundos e fundos. Lula chegou ao ponto de negociar com
Valdemar Costa Neto, presidente
do PL que renunciou para não ser
cassado, e pagou caro, em termos
de cargos e verbas, à turma do
"mensalão" (PP, PL e PTB).
Do ponto de vista legislativo, o
resultado mostrou uma Câmara
dividida ao meio e uma base do
governo que não existe na prática.
Dificilmente, Lula retomará a
"governabilidade" que perdeu
com a crise. Elegeu um aliado que
não terá força para agir sem o
consentimento da oposição.
Nesse contexto, quem mais ganhou no episódio foi o PSDB. Os
tucanos ficaram com Nonô na
alegria e na tristeza, sinalizando
que desejam um casamento para
valer nas eleições em 2006. O prefeito de São Paulo, o tucano José
Serra, tem se fortalecido no PFL,
partido que o rejeitou em 2002,
quando Lula o derrotou.
A ala oposicionista do PMDB
perderá qualquer cerimônia de se
juntar à eventual aliança PSDB-PFL, ainda que como força periférica. A traição do presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), a Michel Temer,
simplesmente o presidente do seu
partido, deverá reforçar a dissidência peemedebista. Ela viu que
Lula lhe baterá sempre a porta na
cara. Melhor ir de PSDB.
Lula perdeu a chance de sair de
vez do isolamento político, aceitando um acordo com a ala oposicionista do PMDB e com o governador tucano Aécio Neves, que
contrariou seu partido quando
tentou vitaminar a fracassada saída Temer (consenso). No médio
prazo, deverá restar a Lula caminhar para uma campanha à reeleição com os aliados tradicionais
do PT, o PSB e o PC do B.
Mensalistas na mira
A princípio, a eleição de Aldo
parece boa para os deputados federais ameaçados de cassação no
escândalo do "mensalão", José
Dirceu incluído. Não é. O governo
tem interesse em apressar o desfecho da crise para que Lula volte a
sonhar com a reeleição. Aldo fará
o jogo que mais interessa ao presidente: entregar as cabeças que
precisar para encurtar a crise e
principalmente evitar qualquer
tentativa de abertura de um processo de impeachment.
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