São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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ANÁLISE

Governo ganha pouco fôlego

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Imaginado o desastre que seria a entrega da presidência da Câmara ao PFL, o governo Lula tem razão para comemorar a eleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP). Estancou o isolamento político. E, inegavelmente, ganhou fôlego para enfrentar a crise política.
Vista em si mesma, foi uma vitória de Pirro -clichê que cai como uma luva nesse caso. O pefelista José Thomaz Nonô (AL) foi batido por diferença de apenas 15 votos (placar de 258 a 243). Muito pouco para um governo que moveu mundos e fundos. Lula chegou ao ponto de negociar com Valdemar Costa Neto, presidente do PL que renunciou para não ser cassado, e pagou caro, em termos de cargos e verbas, à turma do "mensalão" (PP, PL e PTB).
Do ponto de vista legislativo, o resultado mostrou uma Câmara dividida ao meio e uma base do governo que não existe na prática. Dificilmente, Lula retomará a "governabilidade" que perdeu com a crise. Elegeu um aliado que não terá força para agir sem o consentimento da oposição.
Nesse contexto, quem mais ganhou no episódio foi o PSDB. Os tucanos ficaram com Nonô na alegria e na tristeza, sinalizando que desejam um casamento para valer nas eleições em 2006. O prefeito de São Paulo, o tucano José Serra, tem se fortalecido no PFL, partido que o rejeitou em 2002, quando Lula o derrotou.
A ala oposicionista do PMDB perderá qualquer cerimônia de se juntar à eventual aliança PSDB-PFL, ainda que como força periférica. A traição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a Michel Temer, simplesmente o presidente do seu partido, deverá reforçar a dissidência peemedebista. Ela viu que Lula lhe baterá sempre a porta na cara. Melhor ir de PSDB.
Lula perdeu a chance de sair de vez do isolamento político, aceitando um acordo com a ala oposicionista do PMDB e com o governador tucano Aécio Neves, que contrariou seu partido quando tentou vitaminar a fracassada saída Temer (consenso). No médio prazo, deverá restar a Lula caminhar para uma campanha à reeleição com os aliados tradicionais do PT, o PSB e o PC do B.

Mensalistas na mira
A princípio, a eleição de Aldo parece boa para os deputados federais ameaçados de cassação no escândalo do "mensalão", José Dirceu incluído. Não é. O governo tem interesse em apressar o desfecho da crise para que Lula volte a sonhar com a reeleição. Aldo fará o jogo que mais interessa ao presidente: entregar as cabeças que precisar para encurtar a crise e principalmente evitar qualquer tentativa de abertura de um processo de impeachment.


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