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ESTATAIS
BB ignorou auditoria ao contratar DNA
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma auditoria interna do Banco do Brasil apontou irregularidades em pelo menos 15 projetos de
publicidade para o banco, no valor de R$ 60 milhões, realizados
pela DNA Propaganda, do empresário mineiro Marcos Valério
Fernandes de Souza, um dos operadores do esquema do caixa dois
do PT.
A investigação, concluída em
setembro de 2003, não impediu
que a DNA assinasse novo contrato com o banco naquele mesmo
mês e ano. As irregularidades se
concentram no período de governo do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Uma cópia do levantamento,
realizado por oito auditores e assinado pelo gerente de Auditoria,
Luciano Silva Reis, chegou nesta
semana à CPI dos Correios. Os
técnicos apontaram indícios de
fraude nos orçamentos das empresas subcontratadas, entregues
pela DNA, e ausência de documentos que permitissem comprovar a entrega de pelo menos
855 mil folders e 300 mil camisetas, além de fragilidades e inconsistências no acompanhamento
da execução dos serviços.
Pelo contrato global assinado
entre o BB, a DNA e outras duas
empresas que dividem a conta do
banco, as agências de publicidade
podem subcontratar serviços,
mas desde que colham "no mercado" três propostas orçamentárias de empresas diferentes, para
apreciação do BB.
Em pelo menos três campanhas, no entanto, os auditores do
BB descobriram que as três propostas entregues pela DNA e aceitas pelo banco partiram de um
mesmo aparelho de fax. Além disso, foram detectadas propostas de
empresas diferentes que tinham
os mesmos sócios ou relacionavam-se entre si.
Na campanha "Agronegócios",
realizada pela DNA a um custo de
R$ 988 mil, os auditores apontaram como "evidência" de irregularidade: "Acolhimento de orçamentos de empresas distintas,
apresentado pela agência de propaganda e publicidade [DNA],
com indícios de serem originados
de uma mesma fonte e/ou com
discrepâncias significativas entre
o menor e o maior preço. Exemplos: estimativas de custos de 17/
12/2002, fax com o mesmo número de origem e numeração seqüencial de páginas".
O mesmo procedimento voltou
a ocorrer nas campanhas "Circuito Vôlei de Praia 2002", no valor
de R$ 937 mil e "Investimentos
BB", no valor de R$ 5,2 milhões.
Em relação ao evento de vôlei, a
auditoria apontou também "acolhimento de planilhas de preços
concentradas nas mesmas empresas, sendo sempre a mesma a
apresentar o menor preço" e
"acolhimento de planilhas de preços de empresas com nome e endereços idênticos".
A investigação interna do BB
percorreu 66 processos administrativos, entre eventos publicitários, campanhas e patrocínios,
num universo de R$ 319 milhões
gastos pela instituição entre 2001 e
abril de 2003.
Desse total, o banco localizou
problemas em 43 iniciativas. Os
alvos da auditoria incluem a DNA
e outras agências de publicidade,
além de empresas ligadas a eventos de vôlei e tênis. As irregularidades indicam um quadro de, no
mínimo, descontrole nos gastos e
fragilidade no sistema de checagem dos serviços.
Sobre a campanha publicitária
"Fim de Ano 2001", realizada pela
DNA a um custo de R$ 3,66 milhões do Banco do Brasil, os técnicos da auditoria não conseguiram
localizar orçamentos que deveriam dar legalidade à confecção
de 200 mil camisetas, no valor de
R$ 877 mil, além de orçamentos
sem assinaturas relativos à fabricação de outras 70 mil camisetas.
A auditoria identificou, na mesma campanha, a inexistência ou
não apresentação de documentos
que confirmassem o recebimento
de 300 mil camisetas no valor de
R$ 1,3 milhão.
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