São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Apertada

Até os instantes finais, poucos arriscavam palpite na cobertura de televisão, rádio e internet. Franklin Martins, na CBN, já à noite:
- Não dá para arriscar nada. Vamos ter eleição novamente muito apertada.
Já nos blogs, mal terminou o primeiro turno e lá estavam as apostas.
No UOL, Fernando Rodrigues reproduzia frase do líder do PP severinista, com o apoio a Aldo Rebelo, e avaliava:
- É a tendência da maioria dos votos pulverizados do baixo clero.
Jorge Bastos Moreno, minutos depois no site Globo Online, postava mensagem com longo título e maior risco:
- Aldo é o favorito. Aliás, já é virtualmente o novo presidente da Câmara.
O Blog do Cesar Maia, que está nas mensagens finais -ele que anunciou o fim do blog para amanhã- mantinha a esperança e a campanha por José Thomaz Nonô.
No fim, deu Aldo mesmo. No dizer da Globo, em "plantão", anunciando o resultado após a apuração voto a voto nos canais de notícias e rádios:
- O ex-ministro Aldo Rebelo, do PCdoB, foi eleito o presidente da Câmara. A disputa foi muito apertada. Aldo já avisou que vai reunir os líderes para limpar a pauta e depois votar a reforma eleitoral.
 
Manchete da Folha Online, no fim da contagem:
- Governo consegue vitória e elege Aldo.
Manchete do site da estatal Radiobrás:
- Aldo se elege presidente da Câmara.

DOR NO PEITO

Reprodução
A mãe de Jean Charles de Menezes, entrevistada pela BBC, em Londres


Destaque por todo lado em Londres, dos tablóides "Daily Mail" e "Independent" ao site do "Guardian", a visita da mãe de Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia em julho, acabou por emocionar a BBC, a principal emissora de televisão.
A narração "em tempo real" abriu com a "mãe de luto que deposita flores em memória de seu filho morto", mas tem "o som de sua revolta coberto pelo barulho dos helicópteros da imprensa". As imagens traziam a revolta gestual da mãe, sua emoção na plataforma em que o filho foi morto e até a contagem das câmeras fixas que não gravaram, supostamente, a cena:
- One, two, three, four, five...
Daí para o brado de outros familiares, em português:
- Justiça! Justiça! Justiça!
Era a voz que importava, mais do que a tradução que a seguia, e por fim, com a mãe no carro, ouviu-se de novo o português na BBC, entre soluços:
- Uma dor no peito, nada vai tirar essa dor, nada... O chefe de polícia também, ele também tem culpa.
Ela pediu a cabeça de Sir Ian Blair, uma vez mais.

Lá como cá

Enquanto em Brasília a Câmara escolhia um novo presidente, em Washington a Câmara protagoniza um novo escândalo.
Foi a "big story", a principal notícia, em uma cobertura toda polarizada.
Assim, para o canal Fox News, que é pró-republicano, o líder republicano, "acusado em um esquema de financiamento de campanha", saiu da liderança "temporariamente".
Ainda na escalada, "DeLay reagiu chamando o procurador de democrata fanático que fez um indiciamento sem base por política".
Já para o blog The Huffington Post, pró-democrata e hoje o de maior repercussão nos EUA, em manchete:
- Fim da estrada para DeLay.
 
O contraste é o mesmo pela cobertura toda, da CNN ao Drudge Report.
Em destaque no site do liberal "New York Times", "DeLay foi acusado pelo júri texano de conspiração criminosa em um esquema de fundos eleitorais". Já no site do "Washington Post", hoje próximo dos republicanos, "o líder da maioria vai se afastar temporariamente".
No enunciado do "Financial Times", liberal, "Republicanos em confusão após indiciamento de DeLay". Já no site do "Wall Street Journal", conservador, "DeLay foi indiciado, chamou o promotor de fanático e disse que não fez nada errado".
 
Mas também por lá, ao menos no "Washington Post", se seguia atentamente a crise e a disputa em Brasília.
A exemplo do "FT", o "WP" avaliava que um oposicionista "poderia afetar a sobrevivência" do governo.
Em meio aos elogios de praxe à política econômica e citando cientistas políticos aqui e ali, o jornal ouviu cidadãos comuns, não faltando quem anunciasse o voto em Lula.
O próprio "WP" sublinhou, ele que não esconde a simpatia, que "o presidente Lula não foi vinculado aos escândalos de corrupção".
E não faltou repercussão nos blogs, mecanismo que os sites de jornais vêm incorporando, pelo mundo.
O blogueiro Boz, voltado à América Latina, em comentário à reportagem, ressalvou que, "embora Lula esteja levando apenas um golpe de raspão, seu partido se dividiu e perdeu a confiança popular".

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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