São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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PF aposta em parceria com Nações Unidas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um programa do governo federal em parceria com a Undcp (entidade da Organização das Nações Unidas para o combate as drogas) é a aposta da Polícia Federal para tornar eficaz o controle dos produtos químicos no Brasil.
Orçado em US$ 9 milhões, dos quais US$ 8 milhões sairão dos cofres públicos, o projeto prevê a instalação, na rede informatizada da Polícia Federal, de um software que permite o cruzamento de dados com outras entidades, como a Receita Federal, para detectar possíveis desvios.
Outra parte do programa prevê a compra de equipamentos de análises químicas da droga apreendida, permitindo chegar ao chamado "DNA da droga", segundo o jargão policial.
A pressão sobre o Brasil para ampliar o número de produtos controlados é grande em encontros e organismos internacionais, conta o delegado Anísio Vieira.
Os países vizinhos reclamam de estarem controlando bem mais o desvio de químicos que o Brasil. A Bolívia faz restrições a 43 produtos. A Colômbia, 29, incluindo cimento e derivados de petróleo, já detectados na composição da cocaína apreendida ali. No Peru, são 19 os produtos sob vigilância.
Um grupo de trabalho da PF com a Vigilância Sanitária está elaborando uma proposta que aumenta para 25 o número de substâncias controladas. A proposta, apesar de não enfrentar resistência clara, é vista com cautela pela indústria brasileira.
"Nós somos favoráveis ao controle e queremos colaborar. A indústria química não quer, em nenhuma hipótese, ter seu nome associado ao tráfico. Mas não se pode estabelecer um mecanismo que atrapalhe a nossa atividade comercial", afirma Marcelo Cós, gerente técnico da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química). "Os outros países controlam muitos produtos que eles nem mesmo produzem. Assim é bem mais fácil", afirma Cós.
O argumento da Abiquim é o mesmo dos grandes produtores de químicos contra o aumento do controle no mundo. Ironicamente, os países que mais produzem e fornecem químicos para o narcotráfico são também os maiores consumidores.
Para o analista da ONG Transnational Institute, que está baseada em Londres e se dedica ao assunto, essa contradição não tem solução. "Eu acho que o controle dos químicos nunca vai funcionar. É um assunto muito complexo e envolve muitos negócios que dão lucro", afirma. Para ele, o controle dos químicos é uma política "fútil" que só vai servir para criar mais um mercado ilegal.


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