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QUESTÃO AGRÁRIA
Publicação, em quatro idiomas, apresenta enfoque positivo
Ministro gasta R$ 140 mil para produzir 8.000 revistas
VALÉRIA DE OLIVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Raul Jungmann
(Desenvolvimento Agrário) mandou confeccionar 8.000 exemplares de uma revista sobre negociações do governo com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), ao custo de
R$ 18 por exemplar.
Publicada em quatro idiomas e
oito versões diferentes, a revista
apresenta um enfoque positivo
das negociações. A publicação, intitulada "Frutos do Diálogo", custou R$ 140 mil e foi feita em papel
couché, um dos mais caros.
As revistas foram preparadas
para a visita que Jungmann faria à
Europa no mês passado. Mas a
maior parte da viagem foi cancelada quando o MST acampou em
frente à fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso no município de Buritis
(MG) -um dos momentos de
maior impasse nas negociações
entre o governo e os sem-terra.
As edições em inglês e espanhol,
com 48 páginas cada uma, estampam nas capas foto de Jungmann
com Gilberto Portes e Jaime
Amorim, líderes do MST.
As outras duas versões, em português e francês, têm 46 páginas e
tratam das negociações entre governo e Contag feitas em maio,
após a manifestação Grito da Terra, de trabalhadores rurais.
Na versão em que trata das negociações com o MST, Jungmann
aparece em todas as fotos da revista. O nome do ministro é citado 17 vezes em 26 páginas dedicadas a reportagens. Já o nome do
presidente Fernando Henrique
Cardoso é mencionado dez vezes.
Nas versões em português e
francês, Jungmann é citado quatro vezes e o presidente, oito.
O deputado Adão Pretto (PT-RS) pediu ao Ministério Público a
abertura de processo contra Jungmann alegando que o ministro
desrespeitou o princípio constitucional da impessoalidade. Ele
quer que Jungmann devolva aos
cofres públicos o dinheiro gasto
com as publicações.
A Constituição proíbe que publicidade oficial contemple nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal.
""Além de usar dinheiro público
para se promover, Jungmann ainda mente", criticou o deputado.
MST e Contag protestaram contra o que consideraram inverdades veiculadas pelas revistas.
Segundo Manoel José dos Santos, presidente da Contag, o governo prometeu liberar R$ 4,2 bilhões (R$ 4,4 bilhões, segundo a
revista) para a agricultura familiar, mas só estariam disponíveis
R$ 2,8 bilhões desse total.
Além disso, afirma, os bancos
não querem liberar recursos para
investimento, o que era previsto
pelo acordo. "Se ele (Jungmann)
cumprisse o que prometeu, não
tinha problema fazer a divulgação, mas usar a gente não pode."
Os sem-terra também cogitavam processar Jungmann pelo
que consideram uso indevido da
imagem de seus líderes.
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