São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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QUESTÃO AGRÁRIA
Publicação, em quatro idiomas, apresenta enfoque positivo
Ministro gasta R$ 140 mil para produzir 8.000 revistas

VALÉRIA DE OLIVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) mandou confeccionar 8.000 exemplares de uma revista sobre negociações do governo com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), ao custo de R$ 18 por exemplar.
Publicada em quatro idiomas e oito versões diferentes, a revista apresenta um enfoque positivo das negociações. A publicação, intitulada "Frutos do Diálogo", custou R$ 140 mil e foi feita em papel couché, um dos mais caros.
As revistas foram preparadas para a visita que Jungmann faria à Europa no mês passado. Mas a maior parte da viagem foi cancelada quando o MST acampou em frente à fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso no município de Buritis (MG) -um dos momentos de maior impasse nas negociações entre o governo e os sem-terra.
As edições em inglês e espanhol, com 48 páginas cada uma, estampam nas capas foto de Jungmann com Gilberto Portes e Jaime Amorim, líderes do MST.
As outras duas versões, em português e francês, têm 46 páginas e tratam das negociações entre governo e Contag feitas em maio, após a manifestação Grito da Terra, de trabalhadores rurais.
Na versão em que trata das negociações com o MST, Jungmann aparece em todas as fotos da revista. O nome do ministro é citado 17 vezes em 26 páginas dedicadas a reportagens. Já o nome do presidente Fernando Henrique Cardoso é mencionado dez vezes.
Nas versões em português e francês, Jungmann é citado quatro vezes e o presidente, oito.
O deputado Adão Pretto (PT-RS) pediu ao Ministério Público a abertura de processo contra Jungmann alegando que o ministro desrespeitou o princípio constitucional da impessoalidade. Ele quer que Jungmann devolva aos cofres públicos o dinheiro gasto com as publicações.
A Constituição proíbe que publicidade oficial contemple nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal.
""Além de usar dinheiro público para se promover, Jungmann ainda mente", criticou o deputado.
MST e Contag protestaram contra o que consideraram inverdades veiculadas pelas revistas.
Segundo Manoel José dos Santos, presidente da Contag, o governo prometeu liberar R$ 4,2 bilhões (R$ 4,4 bilhões, segundo a revista) para a agricultura familiar, mas só estariam disponíveis R$ 2,8 bilhões desse total.
Além disso, afirma, os bancos não querem liberar recursos para investimento, o que era previsto pelo acordo. "Se ele (Jungmann) cumprisse o que prometeu, não tinha problema fazer a divulgação, mas usar a gente não pode."
Os sem-terra também cogitavam processar Jungmann pelo que consideram uso indevido da imagem de seus líderes.


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