São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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JANIO DE FREITAS

As vozes do segundo turno

As votações em segundo turno tendem a provocar equívocos nas análises e avaliações políticas. Os quais, a rigor, já começam com as distorções provocadas desde o primeiro turno pela absurda divisão brasileira em votos válidos e votos inválidos, como se estes não expressassem também a opinião do eleitor.
O segundo turno se presta melhor a uma visão ideológica do país, e assim mesmo imprecisa.
Na primeira votação, o eleitor vota no seu candidato ou no partido de sua preferência. Do conjunto dessa votação é possível, portanto, extrair-se um bom panorama da relações de força política e o que significam ou sugerem. No segundo turno, parte do eleitorado pode, eventualmente, votar outra vez no seu preferido, mas grande parte não se sente representada de fato por um dos dois candidatos. Se dá um dos tais votos válidos, o faz no menos oposto à sua tendência ideológica, "no menos ruim".
Esse é o motivo, a meu ver, que leva a maioria dos candidatos de segundo turno a ser tão mais ideológica do que no primeiro. Sobretudo os candidatos conservadores, nos seus diferentes matizes, e os de direita inequívoca. Os demais, entre o liberal-progressista e o de esquerda mesmo, guardam limites ditados pela necessidade de não ultrapassar o suportável pela parcela do eleitorado indefinido. E, mais ainda, o tolerável pelo grande sistema conservador, bem espelhado no seu principal subsistema, que é o conjunto dos meios de comunicação.
E os princípios, não entram na equação? Princípios são, também, ideológicos. Nos seus rigores, ou se flexíveis, e ainda quando inexistentes. Não é por outro motivo que se mostrem melhor no segundo turno.
Nele, como na primeira votação, não ficaram transgressões marcantes aos princípios fundamentais, por parte dos candidatos de centro, e talvez mesmo de centro-direita, até os de esquerda. Entende-se. A direita, porém, chegou em São Paulo e Recife a métodos identificáveis nos manuais do fascismo clássico, italiano e alemão dos anos 30. E a questão que se põe é esta: ainda assim foi apoiada por parcela impressionante do eleitorado ou o foi por causa dos seus métodos?
Mesmo que não chegue a ser uma resposta, é notável que Paulo Maluf e Roberto Magalhães tenham crescido com maior intensidade à proporção em que mais desregradas e violentas ficaram suas campanhas.
Já o terceiro exemplo oferecido pela direita parece não ter obtido o mesmo êxito. Embora um Ibope de última hora tenha feito a interessante afirmação de que o prefeito que incluiu Niterói entre as cidades com melhor qualidade de vida no Brasil - Jorge Roberto Silveira - tenha despencado 25 pontos só nos últimos sete dias. Como o Ibope, afinal de contas, e põe contas nisso, é o Ibope, há que esperar o resultado da votação para saber se também em Niterói os métodos da direita são resultantes.
Onde houver segundo turno hoje, haverá a contribuição final para a análise, com uso também dos dados de primeiro turno, do cenário ideológico nacional ao se completarem seis anos de neoliberalismo, FMI e aberturas à globalização.


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