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JANIO DE FREITAS
As vozes do segundo turno
As votações em segundo
turno tendem a provocar
equívocos nas análises e avaliações políticas. Os quais, a rigor,
já começam com as distorções
provocadas desde o primeiro
turno pela absurda divisão brasileira em votos válidos e votos
inválidos, como se estes não expressassem também a opinião
do eleitor.
O segundo turno se presta melhor a uma visão ideológica do
país, e assim mesmo imprecisa.
Na primeira votação, o eleitor
vota no seu candidato ou no
partido de sua preferência. Do
conjunto dessa votação é possível, portanto, extrair-se um bom
panorama da relações de força
política e o que significam ou
sugerem. No segundo turno,
parte do eleitorado pode, eventualmente, votar outra vez no
seu preferido, mas grande parte
não se sente representada de fato por um dos dois candidatos.
Se dá um dos tais votos válidos,
o faz no menos oposto à sua tendência ideológica, "no menos
ruim".
Esse é o motivo, a meu ver, que
leva a maioria dos candidatos
de segundo turno a ser tão mais
ideológica do que no primeiro.
Sobretudo os candidatos conservadores, nos seus diferentes matizes, e os de direita inequívoca.
Os demais, entre o liberal-progressista e o de esquerda mesmo,
guardam limites ditados pela
necessidade de não ultrapassar
o suportável pela parcela do
eleitorado indefinido. E, mais
ainda, o tolerável pelo grande
sistema conservador, bem espelhado no seu principal subsistema, que é o conjunto dos meios
de comunicação.
E os princípios, não entram na
equação? Princípios são, também, ideológicos. Nos seus rigores, ou se flexíveis, e ainda
quando inexistentes. Não é por
outro motivo que se mostrem
melhor no segundo turno.
Nele, como na primeira votação, não ficaram transgressões
marcantes aos princípios fundamentais, por parte dos candidatos de centro, e talvez mesmo de
centro-direita, até os de esquerda. Entende-se. A direita, porém, chegou em São Paulo e Recife a métodos identificáveis nos
manuais do fascismo clássico,
italiano e alemão dos anos 30. E
a questão que se põe é esta: ainda assim foi apoiada por parcela impressionante do eleitorado
ou o foi por causa dos seus métodos?
Mesmo que não chegue a ser
uma resposta, é notável que
Paulo Maluf e Roberto Magalhães tenham crescido com
maior intensidade à proporção
em que mais desregradas e violentas ficaram suas campanhas.
Já o terceiro exemplo oferecido
pela direita parece não ter obtido o mesmo êxito. Embora um
Ibope de última hora tenha feito
a interessante afirmação de que
o prefeito que incluiu Niterói
entre as cidades com melhor
qualidade de vida no Brasil -
Jorge Roberto Silveira - tenha
despencado 25 pontos só nos últimos sete dias. Como o Ibope,
afinal de contas, e põe contas
nisso, é o Ibope, há que esperar o
resultado da votação para saber
se também em Niterói os métodos da direita são resultantes.
Onde houver segundo turno
hoje, haverá a contribuição final para a análise, com uso
também dos dados de primeiro
turno, do cenário ideológico nacional ao se completarem seis
anos de neoliberalismo, FMI e
aberturas à globalização.
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