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MÍNIMO
Instituições menores não possuem reservas para suportar um novo tributo
Imposto levaria fundos ao colapso
FELIPE PATURY
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 20% dos fundos de
pensão nacionais, o equivalente a
70 instituições, podem entrar em
colapso se forem obrigados a pagar impostos para financiar o aumento do salário mínimo até R$
180. O risco atinge principalmente
as pequenas fundações, que têm
até R$ 100 milhões em reserva para pagar aposentadorias.
Os fundos menores não têm caixa para enfrentar a mudança do
regime tributário. Mesmo com a
imunidade fiscal que desfrutam
hoje, eles já têm problemas. Essas
70 fundações sequer chegaram a
fazer provisões para o pagamento
de impostos retroativos a 1983,
que está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Os fundos maiores têm reservas, o problema está nos menores", afirma Carlos Caldas, presidente da Associação Brasileira
das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp). "Eles
terão um impacto grande nas suas
reservas e alguns poderão ter desequilíbrios."
Hoje, os fundos de pensão acumulam R$ 9 bilhões em provisões
para pagar os impostos atrasados,
caso sejam derrotados no Supremo. Dessas reservas, R$ 6,4 bilhões foram separados para pagar
apenas o Imposto de Renda.
A maior parte das provisões é
grandes fundos estatais. A Previ,
dos funcionários do Banco do
Brasil, por exemplo, tem R$ 1,7 bilhão. A Petros (Petrobrás) e a
Funcef (Caixa Econômica Federal), por sua vez, acumulam reservas de R$ 500 milhões cada uma.
Pequenos com déficit
Já boa parte dos pequenos fundos, além de não terem provisões,
ainda acumulam déficits atuariais. Ou seja, não tem dinheiro
para pagar as aposentadorias de
seus participantes. E, por serem
deficitários hoje, não fizeram provisões para os impostos.
Por isso, terão de recorrer a estratégias protelatórias para o pagamento dos impostos, se perderem o julgamento no STF e o
Congresso aprovar a cobrança de
impostos para custear o mínimo.
A Abrapp calcula que o governo
arrecadará mais R$ 2 bilhões
anuais caso o Congresso aprove
os impostos sobre os fundos. É o
suficiente para abater mais da
metade dos R$ 3,8 bilhões de aumento das despesas fiscais decorrentes do aumento do mínimo.
Melhora a vida do governo, mas
enrasca ainda mais os fundos que
já não conseguiram nem provisionar os débitos antigos. Por isso,
eles discutem a possibilidade de
usar liminares judiciais para atrasar a possível cobrança do fisco.
Milionários no buraco
"Muita gente vai para o buraco.
Se a previdência oficial está quebrada, pode ser a vez da previdência privada com o pagamento de
impostos", diz Francisco Oliveira,
da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A situação das fundações deficitárias piora se o Congresso decidir pela cobrança de Imposto de
Renda sobre os lucros de suas
aplicações financeiras, como querem o governo e o PFL. "Os fundos milionários precisam dar sua
contribuição para o aumento do
mínimo", afirma o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF).
O governo reconhece que alguns fundos podem não conseguir pagar o imposto, mas ressalta
que a mudança não compromete
o sistema como um todo. "O fundo, em princípio, não quebra. Haverá ajustes, mas não é possível
prever de que tamanho", diz o secretário-executivo do Ministério
da Previdência, José Cecchin.
Ele ressalta que os fundos têm,
hoje, um patrimônio de R$ 136 bilhões de reais e o impacto da cobrança dos impostos não ultrapassa 5% do total. Ainda mais, o
problema está, em grande parte,
desvinculado do setor público.
"O que era um dragão há quatro
ou cinco anos não é mais tão grave", diz ele. Na avaliação do secretário, a privatização isolou o risco
de fundos como a Sistel (Telebrás) e Valia (Vale do Rio Doce),
cujos prejuízos eram cobertos pelo governo quando essas empresas eram estatais. "Se houver problemas, serão localizados."
Imunidade fiscal
A possível quebra de parte dos
fundos de pensão é o lado mais
dramático dos maiores dutos investimento do país, que ganharam imunidade tributária em
1983 com o status de instituições
sem fins lucrativos. Por isso, não
pagam desde o Imposto de Renda
até tributos mais corriqueiros como IPTU e IPVA.
Na maior parte dos países do
mundo (ver tabela), fundos de
pensão tem vantagens tributárias.
Em geral, o pagamento de impostos é feito apenas no momento do
recebimento da aposentadoria,
como também acontece no Brasil.
A diferença é que o modelo nacional vale para qualquer tipo de
imposto, o que é considerado
uma "anomalia" até pelos defensores da isenção.
"Os fundos são nichos de paraísos fiscais dentro do país. Fazem
parte de um grupo de privilegiados", diz o secretário da Receita
Federal, Everardo Maciel, maior
defensor da cobrança de impostos. "Se alguns não tem provisão
(para os tributos) é irresponsabilidade e deve ser apurado pelo órgão competente (Secretaria de
Previdência Complementar do
Ministério da Previdência)."
Além dos problemas de solvência dos fundos deficitários, economistas ouvidos pela Folha temem
que o pagamento dos impostos
sobre os lucros anuais possam
trazer tumulto para o mercado financeiro. O motivo é simples. A
maior parte dos R$ 9 bilhões de
provisões dos fundos está aplicado em ações e títulos públicos.
Como os impostos têm de ser
pagos em dinheiro, os fundos terão de se desfazer de suas posições, o que pode afetar as cotações
das bolsas de valores e dos papéis
do governo. "Um rebu de proporções cataclísmicas", diz o economista Francisco Oliveira.
Os economistas apontam um
último risco: os atuais participantes dos fundos podem migrar para os planos de aposentadoria feitos por bancos, sobre os quais não
incidem impostos. "Será melhor
aplicar num fundo aberto", diz
Flávio Rabelo, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
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