São Paulo, Domingo, 30 de Janeiro de 2000


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CRIME ORGANIZADO

Núcleo criado no Ministério da Justiça encontra indícios de ligação com deputados cassados

Tráfico internacional tem braço em RO

IRINEU MACHADO
ARI CIPOLA
da Agência Folha

O Núcleo de Combate à Impunidade, criado pelo Ministério da Justiça para aprofundar as investigações da CPI do Narcotráfico, chegou a um braço do tráfico internacional de cocaína que tem o centro operacional em Rondônia.
A chamada "conexão Rondônia" foi descoberta este mês, período em que o núcleo diz ter conseguido provas que confirmariam as supostas ligações dos ex-deputados Hildebrando Pascoal (AC) e José Gerardo de Abreu (MA) com a troca de carretas roubadas por cocaína boliviana.
A chave da conexão é um advogado que está sendo tratado como o "homem do pó" e que pode ter prisão preventiva requerida pela Procuradoria da República.
Seu nome está sendo mantido em sigilo. Há cerca 15 dias, a Polícia Federal apreendeu dezenas de documentos no escritório do "homem do pó" em Rondônia.
Entre os papéis há uma agenda que está sendo investigada. Nela, os policiais encontraram prefixos de aviões que estão tendo seus proprietários investigados.
A identificação do advogado e sua suposta ligação com o ex-deputado Gerardo, segundo o núcleo, foi feita no depoimento de José João Soares, o Jota, prestado no último dia 21.
"Os novos depoimentos prestados à Justiça Federal não deixam dúvidas sobre o elo entre Gerardo e Hildebrando com o tráfico, além de nos revelar uma nova conexão do Maranhão com Rondônia", afirmou o delegado da Polícia Federal Fernando Durán Poch, um dos dez integrantes do núcleo do Ministério da Justiça.
Jota reconheceu o advogado pela foto do passaporte dele, apreendido pela PF. Até então, Jota, uma das principais testemunhas do envolvimento de Gerardo com o roubo de carretas e tráfico, havia identificado o advogado apenas como "doutor Paulo", a quem teria entregue uma carreta roubada para ser trocada por cocaína.
A "conexão Rondônia" levou o Ministério da Justiça a abrir inquérito especifico para investigar as relações de Hildebrando com Gerardo e o tráfico de drogas. Além de Jota, depôs Carlos Antônio Maia Silva, o Carlinhos, ambos diretamente à Justiça.
Eles vinham se recusando a repetir ao juiz as acusações que haviam feito contra Hildebrando e Gerardo à polícia. Só concordaram em reafirmar e dar mais detalhes sobre o tráfico de drogas, segundo Durán, depois que o núcleo incluiu os parentes dos dois no Programa de Proteção à Testemunha, tirando suas famílias do local onde viviam.
"Nos novos depoimentos, Jota e Carlinhos deram detalhes importantíssimos sobre o tráfico internacional de drogas, o que não tinham feito nos anteriores", afirmou o procurador da República no Maranhão Alexandre Meireles.
Jota está preso acusado de roubar carretas no Maranhão. Carlinhos é condenado pelo assassinato do delegado Stênio Mendonça, em São Luís (MA), que investigava o roubo de caminhões.
O advogado de Hildebrando Pascoal, Oscar Luchesi, afirmou que as afirmações do Núcleo de Combate à Impunidade do Ministério da Justiça são "lunáticas".
"Cadê o dinheiro? Cadê a droga? Cadê as ligações com os traficantes internacionais? Só tem bandido acusando o Hildebrando e o Gerardo", afirmou.
Segundo ele, a inocência de seu cliente começará a ser pública no próximo dia 3 de fevereiro, quando começa em Rio Branco (AL) o julgamento de Hildebrando em um dos processos em que ele é acusado de tráfico de drogas.
"Vai ser um megajulgamento com 53 réus e 265 testemunhas. Vamos derrubar o sonho que criaram com tanta calúnia feita por meia dúzia de pessoas que estão procurando emprego do programa de testemunha."
A Agência Folha não conseguiu localizar o advogado do ex-deputado Gerardo, Franklin Seba, durante a sexta-feira.


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