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Livro aconselha apaixonados
da Reportagem Local
Enfrentar a mulher em vez de se
esconder. É o conselho que o livro
"Novo Milênio, Novo Presbítero?" dá para os padres apaixonados. O documento ressalta que
"as crises afetivas" estão entre as
"mais intensas" e "decisivas" da
vida sacerdotal.
"Falta de fé, conflitos com autoridade", nada ameaça tanto "a vocação" quanto "o enamoramento
ou a paixão, esse estado anormal
do homem normal". Por causa de
relações amorosas, muitos padres
abandonam a batina -deixam
que "a corda arrebente".
Não à toa, o livro insiste na necessidade de os sacerdotes abordarem o tema "com coragem".
Compara os que se esquivam do
assunto às mães que, no passado,
pouco ensinavam sobre sexo para
as filhas, "sob pretexto de que a
natureza se encarregaria de instruí-las". Lança, então, a dúvida
espinhosa: o que o presbítero deve fazer caso esteja "envolvido
com mulher"?
Tempos atrás, afirma o livro, recomendava-se "o afastamento".
Hoje, avalia-se que o melhor é
"enfrentar a situação" na esperança (ou na certeza) de transformá-la. Como? O texto não traz
respostas práticas. Prefere oferecer elementos mais genéricos à
reflexão. Por exemplo:
* enfrentar significa tirar o foco
da mulher e atribuir "o problema" ao próprio sacerdote, que
não soube "se relacionar corretamente" com o feminino;
* "assumir o enamoramento"
constitui "uma oportunidade especial" para o padre amadurecer;
* "a conduta mais aberta" se
adequa perfeitamente "às circunstâncias de hoje", uma vez
que "a cultura vigente considera
as relações homem/mulher de
modo livre, múltiplo e flexível".
O documento, contudo, adverte: a atitude franca, embora aconselhável, é "menos segura, mais
lenta e mais trabalhosa (talvez
mesmo tormentosa)". Afinal, "o
mundo erótico" revela-se "um
campo fértil para toda a sorte de
auto-enganos".
Não adianta o padre imaginar
que conseguirá sair de teias tão
traiçoeiras apenas "com equilíbrio psicológico". "Ele precisa de
uma fonte de energia mais alta: a
espiritualidade." Nenhum sacerdote driblará a paixão sem rezar
fervorosamente. "Só o agapé divino -nome originário da graça-
poderá redimir e vencer o eros
humano."
Amizade
Dilemas passionais à parte, o livro também se debruça sobre um
contexto "menos dramático", o
da amizade heterossexual. Pergunta: é possível que um padre e
uma mulher se tornem sinceros
amigos?
Sim, é - "mas com certa dificuldade". Em relações desse tipo,
o presbítero deve "manter a
maior transparência possível".
Transparência diante de Deus,
com quem está comprometido
como "um homem casado"; diante da comunidade, que lhe exige
um "amor esponsal"; e diante da
amiga, "no sentido de não ocultar
a própria identidade e projeto de
vida, não suscitar falsas expectativas e não brincar com os sentimentos alheios".
Ainda que encare de frente a
paixão e a amizade heterossexual,
o texto evita questionar o celibato
obrigatório, um dos calos mais
dolorosos da igreja.
Reconhece que a castidade é
uma "cruz", porque envolve "solidão, carência afetiva e uma insatisfação sexual-genital impossível
de elidir". No entanto, convoca os
padres a vivê-la como "um testemunho contracultural" -como
"contestadores" que se opõem à
sociedade hedonista.
"Deus nada tira que não devolva cem vezes mais", promete o
documento. "O coração de quem
se entrega todo a Deus ganha em
sensibilidade, em fecundidade e
em amor."
(AA)
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