São Paulo, Domingo, 30 de Janeiro de 2000


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Livro aconselha apaixonados

da Reportagem Local

Enfrentar a mulher em vez de se esconder. É o conselho que o livro "Novo Milênio, Novo Presbítero?" dá para os padres apaixonados. O documento ressalta que "as crises afetivas" estão entre as "mais intensas" e "decisivas" da vida sacerdotal.
"Falta de fé, conflitos com autoridade", nada ameaça tanto "a vocação" quanto "o enamoramento ou a paixão, esse estado anormal do homem normal". Por causa de relações amorosas, muitos padres abandonam a batina -deixam que "a corda arrebente".
Não à toa, o livro insiste na necessidade de os sacerdotes abordarem o tema "com coragem". Compara os que se esquivam do assunto às mães que, no passado, pouco ensinavam sobre sexo para as filhas, "sob pretexto de que a natureza se encarregaria de instruí-las". Lança, então, a dúvida espinhosa: o que o presbítero deve fazer caso esteja "envolvido com mulher"?
Tempos atrás, afirma o livro, recomendava-se "o afastamento". Hoje, avalia-se que o melhor é "enfrentar a situação" na esperança (ou na certeza) de transformá-la. Como? O texto não traz respostas práticas. Prefere oferecer elementos mais genéricos à reflexão. Por exemplo:
* enfrentar significa tirar o foco da mulher e atribuir "o problema" ao próprio sacerdote, que não soube "se relacionar corretamente" com o feminino;
* "assumir o enamoramento" constitui "uma oportunidade especial" para o padre amadurecer;
* "a conduta mais aberta" se adequa perfeitamente "às circunstâncias de hoje", uma vez que "a cultura vigente considera as relações homem/mulher de modo livre, múltiplo e flexível".
O documento, contudo, adverte: a atitude franca, embora aconselhável, é "menos segura, mais lenta e mais trabalhosa (talvez mesmo tormentosa)". Afinal, "o mundo erótico" revela-se "um campo fértil para toda a sorte de auto-enganos".
Não adianta o padre imaginar que conseguirá sair de teias tão traiçoeiras apenas "com equilíbrio psicológico". "Ele precisa de uma fonte de energia mais alta: a espiritualidade." Nenhum sacerdote driblará a paixão sem rezar fervorosamente. "Só o agapé divino -nome originário da graça- poderá redimir e vencer o eros humano."

Amizade
Dilemas passionais à parte, o livro também se debruça sobre um contexto "menos dramático", o da amizade heterossexual. Pergunta: é possível que um padre e uma mulher se tornem sinceros amigos?
Sim, é - "mas com certa dificuldade". Em relações desse tipo, o presbítero deve "manter a maior transparência possível". Transparência diante de Deus, com quem está comprometido como "um homem casado"; diante da comunidade, que lhe exige um "amor esponsal"; e diante da amiga, "no sentido de não ocultar a própria identidade e projeto de vida, não suscitar falsas expectativas e não brincar com os sentimentos alheios".
Ainda que encare de frente a paixão e a amizade heterossexual, o texto evita questionar o celibato obrigatório, um dos calos mais dolorosos da igreja.
Reconhece que a castidade é uma "cruz", porque envolve "solidão, carência afetiva e uma insatisfação sexual-genital impossível de elidir". No entanto, convoca os padres a vivê-la como "um testemunho contracultural" -como "contestadores" que se opõem à sociedade hedonista.
"Deus nada tira que não devolva cem vezes mais", promete o documento. "O coração de quem se entrega todo a Deus ganha em sensibilidade, em fecundidade e em amor."
(AA)


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