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JANIO DE FREITAS
Reprise
Fazer a guerra ou não, está
visto, será uma decisão tomada no âmbito só do governo dos
Estados Unidos, sem consideração alguma pela posição que o
Conselho de Segurança da ONU
tenha a respeito. Com isso, deixa de fazer sentido a ansiedade
em torno do que os caubóis da
Casa Branca vão decidir. A
questão mais inquietante passa
a ser esta: se os Estados Unidos
iniciarem a guerra à revelia do
Conselho de Segurança da
ONU, o que farão os demais países integrantes da ONU?
O discurso de Bush no Congresso americano, anteontem,
vai muito além das passagens
de entrevistas, suas e de secretários de governo, que anunciavam a disposição dos americanos de irem à guerra mesmo que
sozinhos. Ao dizer aos parlamentares e à nação, frisando
bem cada palavra, que "o curso
seguido pelos Estados Unidos
não depende da decisão de outros", Bush não fala mais de
ação solitária, mas proclama o
poder dos Estados Unidos de decidirem por si sós, seja o que for.
A ONU não é um espaço físico
destinado ao encontro de representantes diplomáticos. É um
corpo de normas que regem as
relações entre os países-membros e as quais todos se comprometeram a seguir, sem diferenciação no dever e no grau da
obediência. Bush comunica que
o seu governo exclui os Estados
Unidos dos deveres de país-membro, mas sem deixar de ser
país-membro. São livres para
atacar onde e quando seu governo queira.
O terceiro milênio abre-se como reprise da década de 30 do
século passado. Não há semelhanças nas motivações ideológicas, mas o que se testemunha é
a mesma sanha, de uma parte, e
o que se pressente é o mesmo
acovardamento dos que têm
condições de criar freios aos
abusos da força.
Histórico
Quem publicou o fez como notícia secundária, e a maioria
nem publicou. Mas o pronunciamento coletivo dos 40 americanos ganhadores do Prêmio
Nobel, contra o ataque americano ao Iraque, é um documento
para a história.
E parece ser um prenúncio de
que as reações ultrapassam a
manifestação anônima das ruas
e começam a conquistar vozes
influentes, até agora limitadas a
muito poucos.
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