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São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Reprise

Fazer a guerra ou não, está visto, será uma decisão tomada no âmbito só do governo dos Estados Unidos, sem consideração alguma pela posição que o Conselho de Segurança da ONU tenha a respeito. Com isso, deixa de fazer sentido a ansiedade em torno do que os caubóis da Casa Branca vão decidir. A questão mais inquietante passa a ser esta: se os Estados Unidos iniciarem a guerra à revelia do Conselho de Segurança da ONU, o que farão os demais países integrantes da ONU?
O discurso de Bush no Congresso americano, anteontem, vai muito além das passagens de entrevistas, suas e de secretários de governo, que anunciavam a disposição dos americanos de irem à guerra mesmo que sozinhos. Ao dizer aos parlamentares e à nação, frisando bem cada palavra, que "o curso seguido pelos Estados Unidos não depende da decisão de outros", Bush não fala mais de ação solitária, mas proclama o poder dos Estados Unidos de decidirem por si sós, seja o que for.
A ONU não é um espaço físico destinado ao encontro de representantes diplomáticos. É um corpo de normas que regem as relações entre os países-membros e as quais todos se comprometeram a seguir, sem diferenciação no dever e no grau da obediência. Bush comunica que o seu governo exclui os Estados Unidos dos deveres de país-membro, mas sem deixar de ser país-membro. São livres para atacar onde e quando seu governo queira.
O terceiro milênio abre-se como reprise da década de 30 do século passado. Não há semelhanças nas motivações ideológicas, mas o que se testemunha é a mesma sanha, de uma parte, e o que se pressente é o mesmo acovardamento dos que têm condições de criar freios aos abusos da força.

Histórico
Quem publicou o fez como notícia secundária, e a maioria nem publicou. Mas o pronunciamento coletivo dos 40 americanos ganhadores do Prêmio Nobel, contra o ataque americano ao Iraque, é um documento para a história.
E parece ser um prenúncio de que as reações ultrapassam a manifestação anônima das ruas e começam a conquistar vozes influentes, até agora limitadas a muito poucos.


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