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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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JANIO DE FREITAS

Caça às mentiras

A desproporção entre a riqueza militar dos americanos e ingleses e a precariedade dos iraquianos é descomunal. Mas se, apesar disso, americanos e ingleses estão exibindo ao mundo um vexame bélico, ainda há uma desmoralização maior que começa a acometer seus chefes políticos e comandantes militares, entre os próprios propagandistas.
A autocensura de jornais e TVs dos Estados Unidos e Reino Unido está abalada por fendas que se tornaram mais expostas desde a entrevista de Bush e Blair, na quinta-feira. E se evidenciam sob a forma de crescente relutância em compactuar com as desculpas para a enrascada militar e engolir certas mentiras óbvias.
Irritado com as perguntas que o apertaram na coletiva ao lado de Blair, Bush dirigiu um insulto aos jornalistas, dizendo "não entender por que insistem em perguntar besteiras, como a duração da guerra". Para quem endossou a afirmação do seu principal comandante, no primeiro dia da guerra, de que "em quatro ou cinco dias as forças da coalizão estarão em Bagdá", o assunto não é mesmo agradável.
Ver as entrevistas dos chefes políticos e comandantes passou a ser divertido, uma pequena compensação para os horrores das cenas de cidades e pessoas bombardeadas. Mais do que entrevistas, são uma competição de caça às mentiras.

No Fundo
A guerra já produziu um efeito favorável ao governo Lula. O insucesso de americanos e ingleses concentrou as atenções e, com isso, desviou-as da desastrada tentativa de votação da emenda constitucional sobre o sistema financeiro. Não só os partidos aliados do governo não o seguiram, como no PT se chocaram até os do mesmo lado, caso de Antonio Palocci e José Genoino.
Estão dadas numerosas explicações para o sucedido. Mas, no fundo de todas (ou no Fundo), quem procurar achará sempre a mesma origem: a incompatibilidade entre o que a candidatura Lula e ele próprio representavam e, hoje, o que é o governo Lula e o que exige do PT e dos partidos aliados na campanha.
No palavrório, é possível fazer acomodações, com mínimos casos recalcitrantes. Nas votações, a dócil despersonalização não é um mal de todos.

Mínimo e máximo
Marcados ambos para amanhã, dois eventos sem conexão aparente são duas faces do mesmo todo. Durante o dia, uma reunião para formular meios de acelerar o Fome Zero, para proporcionar uma refeição mínima onde zero foi a atenção dada aos que sofrem de miséria. À noite, um grande jantar (com convite) para detentores de grandes fortunas, a propósito do instituto que FHC lança, com o seu nome, para glorificá-lo.

Eles
A Alemanha se opôs à guerra. Mas no topo da guerra não faltam os germânicos, de nascimento ou de descendência: Rumsfeld, Miers, Fleischer, Wolfowitz, este, o ideólogo, desde o governo de Bush pai, da guerra ao Iraque por conveniências estratégico-econômicas.


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