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Corte "perdeu bonde da história", diz OAB
Presidente da entidade, que protocolou ação no STF questionando a lei, afirma ter ouvido "mesmo discurso do passado"
Para o deputado José Aníbal (PSDB-SP), "querer rever questão vencida é ruim'; Tarso Genro diz que decisão do Supremo é "genérica"
Gervásio Baptista/STF
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Roberto Gurgel, procurador-geral da República, e Cezar Peluso, presidente do Supremo, no plenário, na sessão sobre a anistia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil),
Ophir Cavalcante, afirmou em
nota que o Supremo Tribunal
Federal "perdeu o bonde da
história" ao não revisar a Lei da
Anistia para que torturadores
fossem punidos por seus crimes na ditadura (1964-1985).
À Folha, quando ainda
acompanhava o julgamento
dentro do plenário do tribunal,
ele disse: "Ouvi aqui hoje o
mesmo discurso do passado
[em 1979, quando a lei foi elaborada], o discurso do medo".
Entidade que protocolou
ação no STF questionando a legislação em 2008, a OAB, contudo, apoiou a elaboração da
anistia em 1979.
O ex-ministro da Justiça
Tarso Genro, afirmou ontem,
por meio de sua assessoria, que
a decisão do STF é "genérica" e
que indivíduos que praticaram
tortura não estão abrigados na
Lei da Anistia. Ele falou antes
do fim do julgamento, mas
quando o resultado já definia
que a lei não poderia ser revista. "A lei pode continuar válida
e a decisão que o Supremo tomar vai ser genérica, não se
aplica a indivíduos [que cometeram tortura]".
O Ministério da Justiça, juntamente com a Casa Civil e a
Secretaria de Direitos Humanos, desejavam a revisão da lei.
Já a AGU (Advocacia-Geral da
União), o Ministério da Defesa
e o Itamaraty defenderam a
manutenção da anistia.
No Congresso, os deputados
federais José Aníbal (PSDB-SP) e João Almeida (PSDB-BA), vítimas da ditadura militar, afirmaram ser favoráveis à
manutenção da lei.
Para Aníbal -exilado entre
1973 e 1979, passando por Chile e França-, a lei foi importante para "a consolidação da
democracia e determinante para o país estar onde está hoje."
Ele se lembrou, no entanto, da
importância de as vítimas de
tortura e seus familiares terem
total acesso aos dados da época. "Não podemos nem pensar
que ainda existam arquivos secretos", afirmou.
Almeida, que foi preso e condenado a um ano e meio de cadeia pelo regime militar, disse
que a manutenção da lei não
exime o "Brasil da obrigação de
colocar todos os fatos às vistas". "Temos de colocar um
ponto final no revanchismo."
Decisão da Justiça
O também deputado federal
José Genoino (PT-SP), que viveu na clandestinidade durante
três anos e outros cinco na prisão, disse apenas ser favorável
ao "direito da memória e da
verdade, princípios fundamentais da democracia". "Fiz campanha contra incluir a palavra
conexo [na Lei da Anistia, que
trata de crimes conexos] e também perdi. Mas agora prefiro
falar que essa decisão cabe apenas à Justiça", disse.
A pré-candidata do PV, Marina Silva, afirmou ontem em
Curtiba que é contra a proposta
de revisão da lei.
"Entendemos que a anistia
foi para todos e qualquer atitude que venha a mudar a Lei da
Anistia teremos uma série de
problemas que, no meu entendimento, não deveriam estar
postos neste processo de discussão", afirmou ela.
Colaboraram a Reportagem Local e a Agência Folha, em Curitiba
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