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JANIO DE FREITAS
A fonte da seca
Além do atraso nas providências emergenciais, a ponto
de só ontem começar a distribuição efetiva de gêneros a famintos da seca, o governo tem
a responsabilidade de haver
cortado metade da verba da
Sudene em 97 e estendido o
arrocho no Orçamento de 98,
os dois atos com a assinatura
de Fernando Henrique Cardoso.
E não acaba aí a evidência
da responsabilidade. A verba
especial aprovada pelo Congresso no segundo semestre do
ano passado, para remediar
calamidades atribuídas a El
Niño, como as enchentes que
então aconteciam no Rio
Grande do Sul, não foi passada por inteiro, pelo governo,
aos seus destinos.
Quando se deu o primeiro
daqueles dois cortes de verba
da Sudene, havia mais de dez
meses que o governo estava
advertido, por estudos brasileiros e por entidades internacionais, das previsões de seca
no Nordeste e chuvas pesadas
no Sul, em 97 e 98.
O segundo corte, este nos recursos que o Orçamento da
União deveria dar à Sudene
em 98, foi feito quando as previsões já estavam confirmadas por enchentes, e a seca já
prenunciava a gravidade e a
amplitude atuais.
A seca é obra do clima. Suas
consequências trágicas são
obra do governo.
Recordistas
Os 8,18% que fazem o recorde nacional de desemprego
em março, embora medidos
pelo escamoteante método do
IBGE, devolvem uma acusação de mentira e apelam para
a salvação de alguma honestidade profissional ainda não
perdida de todo.
Há cerca de quatro meses,
Fernando Henrique Cardoso
disse que o crescimento do desemprego, apontado por constatações de diferentes procedências, era "mentira dos
oposicionistas" para "não reconhecer as ações sociais do
governo". A mentira a seu dono, pois.
No mês passado, o novo ministro do Trabalho, Edward
Amadeo, economista que
constava ser "especialista em
questões de trabalho", saiu-se
com o infantilismo de que
"não há desemprego no Brasil, há uma tendência ao desemprego". Confundiu, à custa do seu conceito de economista, aquela tendência há
muito superada e a tendência
de certos neófitos deslumbrados para o puxa-saquismo ao
chefão.
Como complemento, Edward Amadeo assegurou que
"a partir de maio o desemprego vai cair". O recorde lembra-lhe, enquanto é tempo,
que para agradar ao chefão
não é preciso cair no ridículo
nem tornar-se mais um mentiroso oficial.
Selecionado
Não tardará para se constatar que, no Ministério das Comunicações, Luiz Carlos
Mendonça de Barros não
substituirá Sérgio Motta apenas nas funções propriamente
ministeriais.
Ele tem disposição e experiência para mais. E não há
por que não admitir que esse
algo mais é que o tenha levado para o lugar de Sérgio
Motta.
Papa-defuntos
Os religiosos e outros que
justificaram os saques a alimentos, por famintos da seca,
foram qualificados por Fernando Henrique como "imorais, irresponsáveis e demagogos", porque "estão usando a
miséria para fazer política e
para tirar proveito financeiro".
E os que estão usando a
morte de Luís Eduardo Magalhães para fazer política e,
por consequência, tirar proveito financeiro e outros proveitos?
Para dizer o mínimo necessário, é asquerosa essa exploração.
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