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SISTEMA FINANCEIRO
Sérgio Bragança depõe no Senado e usa direito de ficar calado
Ex-sócio afirma que Lopes
"aparecia" na Macrométrica
da Sucursal do Rio
O engenheiro
Sérgio Bragança, sócio da consultoria Macrométrica, disse
que o ex-presidente do Banco
Central Francisco Lopes "aparecia" na empresa
após ocupar o cargo público.
"Era um evento raro", disse Bragança, que é amigo de Lopes desde
1964. "Quando ele aparecia, era às
sextas-feiras", disse.
Lopes ajudou a fundar a Macrométrica em 1985, em parceria com
Bragança. Oficialmente, o ex-presidente do BC deixou a empresa
em 1995, quando assumiu a diretoria de Política Econômica da instituição.
Após assumir o cargo, Lopes não
poderia ter nenhum tipo de gestão
administrativa na empresa. Sua
mulher, Araci Pugliese, seguiu como sócia da Macrométrica -segundo documentos apreendidos
na casa do ex-presidente do BC em
apuração na CPI, ele mantinha diversos vínculos com a empresa.
O engenheiro Bragança fez as declarações respondendo ao senador
José Roberto Arruda (PSDB-DF),
que perguntou com que frequência Lopes aparecia na Macrométrica após assumir o cargo de diretor
do BC.
Quando era diretor do BC, normalmente Lopes permanecia em
Brasília somente de terça a quinta.
Às sextas e segundas ele ficava no
Rio de Janeiro, onde mora e é sediada a Macrométrica.
Bragança usou o direito de permanecer em silêncio nove vezes,
sempre que questionado sobre
US$ 1,675 milhão de Lopes que ele
manteria no exterior, segundo bilhete atribuído a ele encontrado
pelo Ministério Público na casa do
ex-presidente do BC.
O sócio da Macrométrica se negou a dizer a origem do dinheiro,
em que bancos ele estaria depositado e porque mantinha os valores
em nome do ex-presidente do BC.
O engenheiro lembrou ainda
que, assim que o ex-presidente do
BC foi demitido, ele almoçou com
Bragança em uma churrascaria. "O
fato foi amplamente divulgado pela imprensa", afirmou.
Antes de depor, o sócio da Macrométrica apresentou um habeas
corpus que garantia a ele o direito
de permanecer calado sobre assuntos que eventualmente o incriminassem. A decisão, em liminar,
foi dada pelo Supremo Tribunal
Federal.
Ele assinou o documento em que
se comprometia a dizer a verdade
somente sobre fatos que não o
comprometessem e, por isso, não
foi preso, como ocorreu com Lopes em seu depoimento na última
segunda-feira.
Os senadores chegaram a apelar
para a "consciência de brasileiro"
de Bragança para que ele respondesse algumas perguntas.
O senador Roberto Freire (PPS-PE) chegou a rir em uma das vezes
em que Bragança usou seu direito
de silenciar, quando confrontado
com o bilhete que dá conta da existência do US$ 1,675 milhão.
"Daqui sai quase a convicção de
que o bilhete é do senhor e o dinheiro existe."
Bragança confirmou que a mulher de Lopes é mesmo sócia da
Macrométrica e exercia atividades
administrativas na empresa.
Ele disse ainda que, quando Lopes era diretor do BC, manteve relação de amizade com ele e que
conversavam sobre política econômica em ocasiões específicas.
"Tenho, mal ou bem, a obrigação
de acompanhar o mercado", disse.
Como exemplo dessas conversas,
disse que transmitiu a Lopes dúvidas do mercado sobre normas editadas pelo governo.
Ele negou ainda tráfico de informações e que a Macrométrica oferecesse serviços de consultoria
com risco zero mediante pagamento de comissão de 30%.
Termo de compromisso
Lopes vai assinar o termo de
compromisso de dizer a verdade
em seus próximos depoimentos à
CPI dos Bancos e à Polícia Federal.
A assessoria do escritório do advogado Luiz Guilherme Vieira, que
atende a Lopes, informou que o
economista se dispõe a depor
quantas vezes for convocado.
Mas que irá munido do habeas
corpus preventivo assinado pelo
ministro Sepúlveda Pertence, do
Supremo Tribunal Federal.
Com isso, Lopes pretende não
responder à perguntas que possam
incriminá-lo ou comprometê-lo.
Na segunda, Lopes se recusou a
assinar o termo de compromisso
na CPI. Com a recusa, recebeu voz
de prisão e foi levado à Polícia Federal. Saiu após pagar fiança, mas
o STF concedeu o habeas corpus.
A CPI decidiu ontem que vai ouvir na próxima semana funcionários da área técnica e jurídica do
BC que trabalharam diretamente
na operação de socorro ao Marka.
Os senadores esperam que eles
possam esclarecer quem sugeriu à
diretoria do BC a venda de dólar ao
Marka, em janeiro, pela cotação de
R$ 1,275, abaixo do teto da banda
cambial, então em R$ 1,32.
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