São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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SISTEMA FINANCEIRO
Sérgio Bragança depõe no Senado e usa direito de ficar calado
Ex-sócio afirma que Lopes "aparecia" na Macrométrica

da Sucursal do Rio


O engenheiro Sérgio Bragança, sócio da consultoria Macrométrica, disse que o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes "aparecia" na empresa após ocupar o cargo público.
"Era um evento raro", disse Bragança, que é amigo de Lopes desde 1964. "Quando ele aparecia, era às sextas-feiras", disse.
Lopes ajudou a fundar a Macrométrica em 1985, em parceria com Bragança. Oficialmente, o ex-presidente do BC deixou a empresa em 1995, quando assumiu a diretoria de Política Econômica da instituição.
Após assumir o cargo, Lopes não poderia ter nenhum tipo de gestão administrativa na empresa. Sua mulher, Araci Pugliese, seguiu como sócia da Macrométrica -segundo documentos apreendidos na casa do ex-presidente do BC em apuração na CPI, ele mantinha diversos vínculos com a empresa.
O engenheiro Bragança fez as declarações respondendo ao senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), que perguntou com que frequência Lopes aparecia na Macrométrica após assumir o cargo de diretor do BC.
Quando era diretor do BC, normalmente Lopes permanecia em Brasília somente de terça a quinta. Às sextas e segundas ele ficava no Rio de Janeiro, onde mora e é sediada a Macrométrica.
Bragança usou o direito de permanecer em silêncio nove vezes, sempre que questionado sobre US$ 1,675 milhão de Lopes que ele manteria no exterior, segundo bilhete atribuído a ele encontrado pelo Ministério Público na casa do ex-presidente do BC.
O sócio da Macrométrica se negou a dizer a origem do dinheiro, em que bancos ele estaria depositado e porque mantinha os valores em nome do ex-presidente do BC.
O engenheiro lembrou ainda que, assim que o ex-presidente do BC foi demitido, ele almoçou com Bragança em uma churrascaria. "O fato foi amplamente divulgado pela imprensa", afirmou.
Antes de depor, o sócio da Macrométrica apresentou um habeas corpus que garantia a ele o direito de permanecer calado sobre assuntos que eventualmente o incriminassem. A decisão, em liminar, foi dada pelo Supremo Tribunal Federal.
Ele assinou o documento em que se comprometia a dizer a verdade somente sobre fatos que não o comprometessem e, por isso, não foi preso, como ocorreu com Lopes em seu depoimento na última segunda-feira.
Os senadores chegaram a apelar para a "consciência de brasileiro" de Bragança para que ele respondesse algumas perguntas.
O senador Roberto Freire (PPS-PE) chegou a rir em uma das vezes em que Bragança usou seu direito de silenciar, quando confrontado com o bilhete que dá conta da existência do US$ 1,675 milhão.
"Daqui sai quase a convicção de que o bilhete é do senhor e o dinheiro existe."
Bragança confirmou que a mulher de Lopes é mesmo sócia da Macrométrica e exercia atividades administrativas na empresa.
Ele disse ainda que, quando Lopes era diretor do BC, manteve relação de amizade com ele e que conversavam sobre política econômica em ocasiões específicas.
"Tenho, mal ou bem, a obrigação de acompanhar o mercado", disse. Como exemplo dessas conversas, disse que transmitiu a Lopes dúvidas do mercado sobre normas editadas pelo governo.
Ele negou ainda tráfico de informações e que a Macrométrica oferecesse serviços de consultoria com risco zero mediante pagamento de comissão de 30%.

Termo de compromisso
Lopes vai assinar o termo de compromisso de dizer a verdade em seus próximos depoimentos à CPI dos Bancos e à Polícia Federal.
A assessoria do escritório do advogado Luiz Guilherme Vieira, que atende a Lopes, informou que o economista se dispõe a depor quantas vezes for convocado.
Mas que irá munido do habeas corpus preventivo assinado pelo ministro Sepúlveda Pertence, do Supremo Tribunal Federal.
Com isso, Lopes pretende não responder à perguntas que possam incriminá-lo ou comprometê-lo.
Na segunda, Lopes se recusou a assinar o termo de compromisso na CPI. Com a recusa, recebeu voz de prisão e foi levado à Polícia Federal. Saiu após pagar fiança, mas o STF concedeu o habeas corpus.
A CPI decidiu ontem que vai ouvir na próxima semana funcionários da área técnica e jurídica do BC que trabalharam diretamente na operação de socorro ao Marka.
Os senadores esperam que eles possam esclarecer quem sugeriu à diretoria do BC a venda de dólar ao Marka, em janeiro, pela cotação de R$ 1,275, abaixo do teto da banda cambial, então em R$ 1,32.


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