São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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Isolamento de FHC preocupa líderes


ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

Os principais líderes do Congresso estão preocupados com o isolamento político do presidente Fernando Henrique Cardoso, que não consegue um discurso unificado do governo e de suas bancadas em relação à CPI dos Bancos.
O presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen (SC), e do PMDB, Jader Barbalho (PA), vêm tendo conversas separadas com FHC e, conforme a Folha apurou, alertando para o seu isolamento.
Apesar das divergências entre seus partidos, os três estão convencidos de que o governo não age politicamente, não está bem informado sobre a CPI e carece de um maior número de interlocutores confiáveis no Congresso.
ACM jantou com o presidente no domingo passado e ontem conversou com ele por telefone, reclamando da manifestação do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações) contra a eventual ida do ministro Pedro Malan (Fazenda) à CPI dos Bancos.
"Aqui (no Congresso), o Pimenta não manda, não", disse ACM ao presidente da República, conforme a Folha apurou.
Barbalho gostou da briga, porque vive às turras com Pimenta e foi contra sua indicação para a coordenação política do governo. Agora, diz abertamente que esse é um dos problemas do Planalto na sua relação com o Congresso Nacional.
"Eu sou figurinha carimbada do PMDB. O Pimenta é figurinha carimbada do PSDB. O coordenador político tem que ser do governo, não de um partido", diz ele.
Num almoço em Brasília, quarta-feira, a cúpula do PFL decidiu bombardear uma outra decisão de Pimenta da Veiga: a de protelar a indicação dos líderes do governo no Congresso e no Senado.
A idéia de Pimenta era adiar ao máximo o preenchimento das vagas e depois nomear o deputado Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM) para a do governo e um peemedebista para a do Senado. O PFL não aceita ser excluído da composição.
Numa conversa ontem com FHC, Jorge Bornhausen defendeu justamente o contrário de Pimenta: que o governo nomeie o mais rapidamente possível um líder para o Senado, para falar em nome do presidente e tentar rearticular a base aliada.
Esse líder teria que acompanhar a CPI dos Bancos de forma direta e informar o presidente imediatamente sobre tudo o que ocorresse. Um dos líderes confidenciou que FHC tem notícias da CPI pelos serviços de tempo real, "como todo mundo". E achou um absurdo.
Outra tarefa do líder seria a de orientar os senadores governistas sobre como proceder diante de problemas assim: a convocação ou não do ministro Pedro Malan (Fazenda) e dar ou não a presidência da CPI para os tucanos.
"Não podemos levar gol sem ao menos ter um bom goleiro", disse o presidente do PFL depois.
Os pefelistas vetam a escolha de Arthur Virgílio para a liderança no Congresso e acham que ela nem é tão importante agora, porque há semanas não há sessões e votações conjuntas da Câmara e do Senado.
Os nomes que o PFL sugere para a liderança no Senado, que considera mais urgente, são os de Agripino Maia (PFL-RN) e Artur da Távola (PSDB-RJ). Se é para ter um tucano na liderança, que seja Távola, considerado "confiável".
Apesar das críticas crescentes, o único ajuste que FHC fez no seu time político foi a escolha do ex-deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) para um cargo no Planalto. Os principais líderes do Congresso, porém, não acreditam que isso vá mudar alguma coisa.
O resultado é que FHC depende cada vez mais de políticos experientes e espertos, como ACM e Jader Barbalho.
ACM assumiu explicitamente o comando político da CPI dos Bancos. Barbalho, que foi o autor do requerimento que a criou, exerce o poder por meio do relator, João Alberto (PMDB-MA). Ele não dá um passo sem consultar o presidente do seu partido.


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