São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Tochetto fez simulações para apurar incidência de digitais
Perito descarta hipótese de Suzana ter matado PC

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio


O perito Domingos Tochetto, único a ter feito simulação com 20 pessoas sobre o registro de impressões digitais num revólver igual ao que disparou as balas que mataram Paulo César Farias e Suzana Marcolino, afirmou à Folha "descartar a possibilidade" de a namorada ter assassinado o tesoureiro de campanha de Fernando Collor.
A conclusão do teste contradiz a tendência da nova investigação policial sobre o caso PC.
Pessoas que conversaram com os delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade de Alencar contaram que, até agora, eles consideram provável que Suzana Marcolino tenha matado PC.
Na semana passada, os delegados disseram que eliminaram a hipótese de Suzana ter se suicidado.
Por enquanto, contudo, eles mantêm a outra tese do laudo oficial, segundo o qual Suzana matou PC e se suicidou.
No revólver Rossi 38 Special que matou o casal, com capacidade para cinco tiros, não foi encontrada nenhuma impressão digital nítida, inclusive da mulher que -de acordo com a versão da polícia em 1996- o teria carregado e disparado contra o namorado e contra si.
Segundo o médico legista Antônio Francisco Bastos, co-autor do laudo e assistente do coordenador do trabalho, Fortunato Badan Palhares, não houve registro de impressões porque a superfície do cabo da arma é rugosa.
Bastos e seus colegas de laudo não fizeram simulação para verificar a validade da tese. ""Eu ratifico o que disse sobre o assunto", afirmou ontem o legista, referindo-se a declarações que fez em março.
Professor da Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul, Domingos Tochetto integrou em 1997 a equipe que elaborou um segundo laudo sobre o caso PC, a pedido da Justiça de Alagoas.
Para saber o que teria ocorrido se Suzana tivesse atirado com um revólver supostamente comprado por ela dias antes -conforme a versão oficial-, Tochetto resolveu fazer um teste com 20 pessoas -17 mulheres e 3 homens.
A arma utilizada na simulação foi idêntica à que disparou contra PC Farias e Suzana Marcolino.
A todos, Tochetto, 55, pediu para carregar e empunhar a arma. No cabo, não ficaram registradas impressões digitais.
Nos 20 casos porém, com 100% de incidência, registrou-se uma, duas ou três impressões -no cano, na armação ou no tambor (peça do revólver na qual se acomodam as balas). Essas partes da arma são feitas com aço inoxidável.
"Haveria algum indício se o revólver tivesse sido manipulado por Suzana, haveria impressão digital", afirmou Tochetto. "É um dado estatístico. Por via indireta, se descarta a possibilidade de Suzana ter atirado em PC."
No caso de alguém ter matado Suzana e limpado a arma, no tambor ficariam as impressões de quem colocou as balas no revólver, segundo o perito.
Os delegados Lessa e Alencar foram proibidos pela Secretaria de Segurança de Alagoas de se manifestar sobre o rumo das investigações. Não podem falar, por exemplo, sobre o teste de Tochetto, que faz partes dos autos.
O promotor Luiz Vasconcelos não quis se pronunciar sobre a inclinação policial de apontar Suzana como a assassina. "Não adianta precipitar, não posso me posicionar agora. Não será prática minha o "achismo"."
Segundo os delegados, as fotografias publicadas pela Folha no dia 24 de março e anexadas aos autos posteriormente, a pedido do Ministério Público, derrubam a versão de suicídio. As imagens mostram que, mesmo de salto alto, Suzana era menor do que PC.
A altura real de Suzana inviabiliza fisicamente o suicídio conforme foi descrito pelo laudo oficial. Por este relato, Suzana media 1,67 m, 4 cm a mais do que o namorado, o que as fotos desmentem.


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