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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Tochetto fez simulações para apurar incidência de digitais
Perito descarta hipótese
de Suzana ter matado PC
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
O perito Domingos Tochetto, único a ter
feito simulação
com 20 pessoas
sobre o registro
de impressões
digitais num revólver igual ao que disparou as balas que mataram Paulo César Farias e Suzana Marcolino, afirmou à
Folha "descartar a possibilidade"
de a namorada ter assassinado o
tesoureiro de campanha de Fernando Collor.
A conclusão do teste contradiz a
tendência da nova investigação
policial sobre o caso PC.
Pessoas que conversaram com os
delegados Antônio Carlos Lessa e
Alcides Andrade de Alencar contaram que, até agora, eles consideram provável que Suzana Marcolino tenha matado PC.
Na semana passada, os delegados disseram que eliminaram a hipótese de Suzana ter se suicidado.
Por enquanto, contudo, eles
mantêm a outra tese do laudo oficial, segundo o qual Suzana matou
PC e se suicidou.
No revólver Rossi 38 Special que
matou o casal, com capacidade para cinco tiros, não foi encontrada
nenhuma impressão digital nítida,
inclusive da mulher que -de
acordo com a versão da polícia em
1996- o teria carregado e disparado contra o namorado e contra si.
Segundo o médico legista Antônio Francisco Bastos, co-autor do
laudo e assistente do coordenador
do trabalho, Fortunato Badan Palhares, não houve registro de impressões porque a superfície do cabo da arma é rugosa.
Bastos e seus colegas de laudo
não fizeram simulação para verificar a validade da tese. ""Eu ratifico
o que disse sobre o assunto", afirmou ontem o legista, referindo-se
a declarações que fez em março.
Professor da Escola Superior da
Magistratura do Rio Grande do
Sul, Domingos Tochetto integrou
em 1997 a equipe que elaborou um
segundo laudo sobre o caso PC, a
pedido da Justiça de Alagoas.
Para saber o que teria ocorrido se
Suzana tivesse atirado com um revólver supostamente comprado
por ela dias antes -conforme a
versão oficial-, Tochetto resolveu
fazer um teste com 20 pessoas -17
mulheres e 3 homens.
A arma utilizada na simulação
foi idêntica à que disparou contra
PC Farias e Suzana Marcolino.
A todos, Tochetto, 55, pediu para
carregar e empunhar a arma. No
cabo, não ficaram registradas impressões digitais.
Nos 20 casos porém, com 100%
de incidência, registrou-se uma,
duas ou três impressões -no cano, na armação ou no tambor (peça do revólver na qual se acomodam as balas). Essas partes da arma são feitas com aço inoxidável.
"Haveria algum indício se o revólver tivesse sido manipulado por
Suzana, haveria impressão digital", afirmou Tochetto. "É um dado estatístico. Por via indireta, se
descarta a possibilidade de Suzana
ter atirado em PC."
No caso de alguém ter matado
Suzana e limpado a arma, no tambor ficariam as impressões de
quem colocou as balas no revólver,
segundo o perito.
Os delegados Lessa e Alencar foram proibidos pela Secretaria de
Segurança de Alagoas de se manifestar sobre o rumo das investigações. Não podem falar, por exemplo, sobre o teste de Tochetto, que
faz partes dos autos.
O promotor Luiz Vasconcelos
não quis se pronunciar sobre a inclinação policial de apontar Suzana como a assassina. "Não adianta
precipitar, não posso me posicionar agora. Não será prática minha
o "achismo"."
Segundo os delegados, as fotografias publicadas pela Folha no
dia 24 de março e anexadas aos autos posteriormente, a pedido do
Ministério Público, derrubam a
versão de suicídio. As imagens
mostram que, mesmo de salto alto,
Suzana era menor do que PC.
A altura real de Suzana inviabiliza fisicamente o suicídio conforme
foi descrito pelo laudo oficial. Por
este relato, Suzana media 1,67 m, 4
cm a mais do que o namorado, o
que as fotos desmentem.
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