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CAMPO MINADO
Número passa de 588 mil
Auditoria amplia cifra na reforma agrária
RUBENS VALENTE
DO PAINEL
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA
O Ministério do Desenvolvimento Agrário divulgou ontem o
resultado de uma auditoria aberta
pelo ministro José Abrão que informa haver 588.173 "famílias beneficiadas" pelo programa de reforma agrária de 1995 a 2001
-3.518 a mais do que o governo
havia divulgado em fevereiro. O
governo, já no título da nota, usa o
termo "famílias beneficiadas" em
vez de "famílias assentadas".
A auditoria foi aberta no último
dia 22 de abril, em razão de reportagem publicada no dia anterior
na Folha. A reportagem -primeira de uma série- mostrou
que o governo federal inflou os
números de famílias assentadas
para efeitos de publicidade, utilizando terrenos vazios, assentamentos que não saíram do papel e
áreas sem infra-estrutura.
Ainda no final do mês passado,
o ministério baixou uma portaria
que passou a considerar terrenos
baldios como "assentamentos" e
pessoas que nem sequer estão nas
terras como "assentadas", denominações que contrastam com
conceitos do Manual dos Assentados e da Norma de Execução do
Incra de março de 2001.
Questionado pela Folha sobre a
diferença entre "famílias assentadas" e "famílias beneficiadas", o
secretário-executivo da pasta, Orlando Muniz, disse ontem que
"trata-se da mesma coisa, sem entrar na questão conceitual".
E disse que problemas técnicos
nos sistemas usados pelas superintendências regionais causaram
a diferença entre o número de famílias anunciado ontem e em 1º
de fevereiro. "Agora, tudo está resolvido e não há mais problemas
técnicos. Felizmente conseguimos consolidar todos os dados."
Para chegar aos novos números, o ministério diz que se baseou
em dados contábeis. Não houve
apuração em campo, o que deve
ficar a cargo de um censo nacional a ser realizado pela pasta durante os próximos quatro meses.
Sem detalhes
O termo assentamento é citado
em duas oportunidades na nota.
Na primeira, fala-se em "projetos
de assentamentos criados ou reconhecidos", sem esclarecer o que
é um "assentamento reconhecido". Em outro trecho, é dito que
"a auditoria não incluiu como assentadas as famílias que ainda estavam em fase de pré-assentamento pelo Incra ou com créditos
aprovados pendentes de liberação pelo Banco da Terra". Não se
esclarece se as famílias "beneficiadas" são também "assentadas".
O resumo do relatório não trouxe detalhes que haviam sido prometidos, como a especificação do
município, a data de criação, a
área, o número de famílias atendidas e a forma de obtenção do terreno das 102.449 famílias que o
governo diz ter assentado em
2001. A Folha solicitou essa relação há quatro meses. O ministério
disse que apresentará mais detalhes do trabalho na terça-feira.
A portaria foi a solução governamental para a existência de "assentamentos fantasmas" nos balanços do ministério, como o encontrado pela reportagem no Distrito Federal.
Segundo o comunicado de ontem, 550.185 famílias foram
"atendidas" pelo Incra e outras
37.988, "financiadas" pelo Banco
da Terra. O número é diferente do
anunciado pelo ex-ministro Raul
Jungmann em 2000 e 2001. Segundo os balanços do governo, 40
mil famílias teriam sido "assentadas" pelo sistema do banco -que
prevê a compra direta da propriedade pela família.
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