|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governador quer compensação por apoio a pontos das reformas
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva volta a se reunir com os governadores no momento em que
aumenta a pressão por mudanças
nas propostas das reformas previdenciária e tributária que o governo enviou ao Congresso.
Um dos objetivos de Lula é dividir com os governadores o desgaste político das reformas e traçar uma estratégia de ação para
discutir e votar as duas emendas.
O presidente agora terá de apagar um princípio de desconforto.
Pressionados pelas críticas, setores do governo e do PT passaram
a reclamar de uma suposta falta
de empenho dos governadores na
defesa das reformas -principalmente a previdenciária.
É uma crítica que os governadores não absorveram. "O presidente cobra de ministros, não de governadores, que bebem na mesma fonte que ele, o voto popular",
diz o governador de Minas Gerais,
Aécio Neves (PSDB).
O governador Lúcio Alcântara
(PSDB), do Ceará, não aceita que
o governo federal insista na tese
de que a reforma da Previdência é
a reforma dos governadores.
Alcântara, a exemplo de seu colega da Bahia, Paulo Souto (PFL),
afirma que se lembra muito bem
de como a proposta do piso de R$
1.058 para a cobrança dos inativos
do funcionalismo foi posta sobre
a mesa: por Lula, em abril, na segunda reunião.
O fato, dizem os governadores,
é que eles assumiram o compromisso de apoiar as propostas e
mantêm a palavra.
Apesar da contrariedade, o presidente terá o apoio dos governadores a propostas indigestas como o piso de R$ 1.058 para a cobrança dos inativos. Em troca, eles pedirão
maior participação dos Estados
no bolo das receitas.
Com raras exceções, como Joaquim Roriz (PMDB-DF), os governadores fecharam com o piso
de R$ 1.058 para a cobrança dos
inativos do serviço público, como
prevê o projeto do governo. A elevação para R$ 2.400, conforme
proposta em discussão no Congresso, é condenada pela maioria.
Para o governador de Alagoas,
Ronaldo Lessa (PSB), o desgaste
político da taxação dos inativos só
será compensado com uma grande arrecadação. "Elevando o piso,
a arrecadação é insignificante."
Se isso acontecer, os Estados deverão buscar alguma compensação da União.
"Compensação" e "distribuição
mais justa da receita" estão no vocabulário das discussões sobre a
reforma tributária.
Nas duas reuniões anteriores, a
equipe econômica se mostrou refratária à idéia de repartir as contribuições federais.
"A oportunidade é agora. Se
passar, não se faz [a reforma]. Toda carga tributária nova, a partir
de 1989, foi para a União. Aos Estados restou cortar despesas e aumentar arrecadação, além da
guerra fiscal", diz Paulo Souto.
Os governadores querem uma
fatia da Cide (contribuição sobre
o consumo de combustíveis) e da
CPMF (imposto do cheque). Das
reivindicações, a única à qual o
Planalto parece acessível é a que
se refere aos Estados exportadores. A proposta enviada ao Congresso inscreve na Constituição a
Lei Kandir, que desonera as exportações. Mas não dá tratamento idêntico ao fundo de compensação aos Estados exportadores.
O Pará diz que já perdeu cerca
de R$ 1 bilhão por causa da lei. O
Espírito Santo tem mais de R$ 700
milhões a pagar de crédito do
ICMS a grandes empresas.
São arestas como essas que Lula
precisará aparar na reunião de
hoje. O apoio dos governadores
criará um fato político importante
num momento em que o governo
está sob o fogo cerrado das críticas, inclusive de seus aliados.
É algo que alguns dos governadores querem que fique bem claro
a Lula: ele não pode esperar aprovar as reformas contando apenas
com os votos da oposição.
Colaborou a Agência Folha
Texto Anterior: Governo lança Primeiro Emprego com redução de 72% nos recursos Próximo Texto: Na selva: Lula fica até as 3h no bumbódromo Índice
|