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CELSO PINTO
Um mercado mais difícil
A Petrobrás, o mais conceituado tomador brasileiro no mercado internacional, talvez tenha
que recorrer ao mercado interno,
neste ano, para completar os recursos de que precisa. É um bom
exemplo de como o mercado ficou
complicado para os países emergentes.
Uma boa parte dos recursos que
a Petrobrás precisa para seus investimentos vem de créditos de
"eximbanks", agências oficiais de
crédito para exportação. Outra
parcela vem de acertos com "trading companies" japonesas, dinheiro casado, muitas vezes, com
projetos.
Mesmo assim, nas contas da
empresa, será preciso buscar US$
600 milhões no mercado internacional para completar as necessidades de recursos deste ano. Até
agora, a empresa não levantou
nada desses US$ 600 milhões.
O Banco Central deve autorizar
a Petrobrás a lançar US$ 250 milhões em bônus internacionais.
Ela só o fará, contudo, se o custo
não ficar muito acima do que
vinha sendo pago.
A Petrobrás é considerado o
melhor risco brasileiro por uma
série de razões. Como ela importa
petróleo, um bem vital, não pode
se dar ao luxo de não pagar seus
compromissos. De fato, mesmo
na moratória brasileira, esses pagamentos não foram suspensos.
Além disso, a empresa produz
(e tem reservas) um ativo que vale dólar seguro no mercado internacional, o petróleo. Não por
acaso, portanto, a Petrobrás costuma pagar taxas de juros inferiores até às pagas pelo governo
brasileiro. Mesmo assim, os cálculos da direção financeira da
Petrobrás são de que a empresa
talvez tenha que buscar no mercado interno até metade dos US$
600 milhões.
O mercado internacional complicou: o dinheiro ficou mais escasso e mais caro. As captações
brasileiras por meio de bônus internacionais caíram para US$
993 milhões em maio, depois de
terem chegado a US$ 4,2 bilhões
em abril e US$ 6,8 bilhões em
março. Ainda é uma média comparável à do primeiro trimestre
do ano passado (US$ 940 milhões
ao mês), mas o mercado piorou
em junho.
Tem havido uma saída crescente de dólares pelo câmbio financeiro. Foram US$ 263 milhões em
janeiro, US$ 267 milhões em fevereiro, US$ 293 milhões em março,
US$ 329 milhões em abril e US$
353 milhões em maio. Em junho,
até a última sexta-feira, as saídas
tinham sido de US$ 401 milhões.
O dinheiro de curto prazo, como era esperado, está sumindo.
As famosas "63 caipiras", dinheiro externo de seis meses usado
para aplicar nas altas taxas internas, estão minguando. Os ingressos da "63 caipira" foram de
US$ 866 milhões em janeiro, US$
2,5 bilhões em fevereiro, US$
2,178 bilhões em março e US$
1,547 bilhão em abril. Em maio,
entraram apenas US$ 137 milhões.
O Banco Central diz que é bom
reduzir o volume de dinheiro de
curto prazo especulativo e que ele
está sendo compensado por recursos de investimento direto de
mais longo prazo. Essa compensação, contudo, não aconteceu
em junho.
Até sexta-feira saiu US$ 1,930
bilhão líquido pelo câmbio flutuante e entraram US$ 716 milhões líquidos pelo câmbio comercial, uma perda líquida de
US$ 1,2 bilhão. O Brasil terá que
pagar ainda US$ 780 milhões em
papéis da dívida externa, que devem ser contabilizados em junho,
e uns US$ 500 milhões para credores da dívida oficial (Clube de
Paris). Em compensação, ganhará uns US$ 350 milhões a US$
400 milhões em juros de aplicação das reservas e pode ter algum
ganho na variação da posição em
dólares dos bancos.
Junho foi um mês generoso em
ingressos de investimentos (por
exemplo, da compra da tele gaúcha CRT) e contou com a captação de US$ 1 bilhão em papéis do
BNDES. Podem entrar, ainda,
uns US$ 350 milhões em dinheiro
da Metropolitana (ex-Eletropaulo).
Mesmo assim, a projeção do
mercado é de uma queda de US$
1,5 bilhão a US$ 2 bilhões nas
reservas cambiais em junho, que
ficariam próximas a US$ 70 bilhões no conceito de caixa.
Não é o fim do mundo. O governo sempre poderá captar via estatais, se aceitar pagar juros
maiores. Pode, ainda, finalmente
fazer a securitização de recebíveis
de Furnas (até US$ 3 bilhões), se
aceitar juros mais salgados.
O fato, contudo, é que a sangria
deve continuar. O mercado mudou para pior e não há previsão
de quando pode melhorar.
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