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CÚPULA DO RIO
Presidente sugere aos líderes de países ricos taxação dos
capitais especulativos internacionais com a "Tobin Tax",
proposta por economista dos EUA ganhador do Nobel
FHC defende "CPMF global" ao encerrar a Cimeira
CLÓVIS ROSSI
enviado especial ao Rio
O presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu ontem a seus
colegas da União Européia, América Latina e Caribe, que estudem seriamente a introdução da "Tobin
Tax" (imposto Tobin, uma espécie
de CPMF planetária) como "instrumento possivelmente útil" para
enfrentar as frequentes turbulências financeiras.
A "Tobin Tax" é uma proposta
do Nobel de Economia James Tobin (norte-americano que leciona
na Universidade de Yale) para taxar os capitais que cruzam fronteiras, uma pilha de impressionante
US$ 1,4 trilhão todos os dias.
O produto da taxação destinar-se-ia, na proposta original, a constituir um fundo para a erradicação
da miséria no planeta.
Mas, mais recentemente, passou-se a cogitar desse imposto como forma de acumular recursos
para socorrer, imediatamente, países vítimas de crises financeiras,
como as que derrubaram economias asiáticas primeiro, a Rússia
depois e, por fim, o Brasil.
Na sua intervenção ontem, durante o debate com os chefes de governo na Cúpula UE/América Latina-Caribe, FHC defendeu a "Tobin
tax" exatamente sob este último
aspecto.
O presidente disse que as novas
modalidades de financiamento decididas pelas instituições financeiras internacionais, na esteira das
crises recentes, são "necessárias
mas insuficientes".
FHC já havia defendido a "Tobin
tax" em outubro, durante a Cúpula
Iberoamericana de Portugal, e, em
seguida, no México.
Países ricos
Mas não deu passo objetivo algum para que a proposta fosse de
fato estudada seriamente pelos
países ricos, únicos com poder para realmente impor a taxação.
De todo modo, o presidente
comprometeu-se com o senador
Eduardo Suplicy (PT-SP), antigo
defensor da proposta, a receber
Tobin para discutir a idéia, em
uma próxima viagem aos Estados
Unidos.
Suplicy esteve com o professor
norte-americano no dia 3 para
convidá-lo a dar uma palestra no
Congresso brasileiro, por orientação de seu presidente, o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Tobin, no entanto, disse que sua
mulher está muito doente, o que
impede viagens mais demoradas.
Prontificou-se a conversar com
FHC nos EUA, em alguma viagem
do presidente.
FHC, em carta a Suplicy, considerou "oportuna" a sugestão e informou ter orientado sua assessoria para que "registre a idéia e a tenha em mente na elaboração de
minha agenda".
O presidente brasileiro não foi o
único, nos debates fechados de ontem, a propor idéias de controle do
capital especulativo. O presidente
francês, Jacques Chirac, por exemplo, classificou de "muito perigosos" os paraísos fiscais "off-shore"
(as ilhotas que servem de plataforma para todo tipo de operações financeiras, legais ou não) e os chamados "hedge funds" (fundos que
protegem seus participantes da
desvalorização de uma moeda
com apostas em outros ativos, por
exemplo).
Fidel
Já o cubano Fidel Castro, fiel à
sua tradição revolucionária, disse
que não adiantava tentar reformar
o sistema financeiro internacional
tal como está concebido hoje. Pregou sua "demolição integral", para, aí sim, reconstrui-lo.
Propostas ou idéias para a reforma do sistema financeiro internacional têm surgido regularmente
desde que a turbulência econômica tornou-se mais recorrente.
Mas elas perdem espaço na agenda internacional sempre que passa
a fase aguda de cada crise. O presidente chileno, Eduardo Frei, chegou a manifestar ontem o temor de
que o mundo esteja agora de novo
na fase de "desmobilização" diante
da necessidade de reforma financeira , exatamente por ter passado
a fase grave da mais recente crise (a
do Brasil).
Na carta sobre Tobin a FHC, Suplicy citou artigos do economista
Paulo Nogueira Batista Jr., publicados pela Folha, em que este defende que o Banco Central recupere "a possibilidade de regular de
modo seletivo e criterioso a entrada e saída de capitais".
Prova de que, superada a fase
aguda da crise, há a "desmobilização": FHC respondeu que "o Banco Central já vem atuando com essa preocupação e sei que continuará assim".
O que o BC tem feito, regularmente, é o contrário: facilitar a entrada de capitais.
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