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"Sou cartesiano com elementos de candomblé e vodu'
do enviado especial ao Rio de Janeiro
O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o discurso
de encerramento da Cúpula do
Rio, se disse, "do ponto de vista do
espírito, alguém com uma formação cartesiana, com algum elemento de candomblé e de vodu
(culto da América Central)".
"Sem esses elementos não serei
propriamente brasileiro e latino-americano", afirmou ele aos líderes latinos e europeus.
Ao se definir como cartesiano, o
presidente se referia a René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, um dos fundadores do racionalismo e criador do
Método da Dúvida, com o qual esperava chegar a uma opinião ou
crença que não estivesse sujeita à
dúvida e construir o conhecimento a partir desse fundamento.
Em outras oportunidades, FHC
já se definiu como um cartesiano
com "pitadas" de candomblé. Ontem, quando falava sobre a integração cultural entre América Latina e Europa, ele incorporou o vodu na máxima.
"Aqui (na América Latina), de alguma maneira, nós estamos recriando a Europa, mas com pitadas de África, de Ásia, de Índia, de
Japão", disse. "Basta olhar qualquer jardim do Rio de Janeiro.
Tem um desenho francês, inglês,
mas o trópico domina."
O presidente afirmou que a educação é fundamental para reduzir
as diferenças entre os países e citou
medidas que o Brasil está tomando
na área.
Ele chegou a dizer que, apesar
dos problemas, há "fortes assimetrias" na educação do país. "Ao
mesmo tempo que lutamos contra
o analfabetismo, (...) para nossa
surpresa 75% dos que informam
(os rendimentos) ao Imposto de
Renda utilizam a Internet."
FHC afirmou que a demanda das
pessoas carentes em aprender inglês e dominar a Internet mostra
que elas percebem e querem participar ativamente da globalização.
Original e cópia
O presidente citou um trabalho
que escreveu na Universidade de
Cambridge (Inglaterra) -""A Originalidade da Cópia"- para falar
de influências culturais.
"Eu me pergunto que cultura não
é uma cópia original", disse.
Segundo ele, em regiões asiáticas, "o classicismo helênico se
transformou no encontro com o
hinduísmo e produziu uma grande
cultura". "Quem sabe amanhã, na
Europa, os senhores possam encontrar elementos culturais e materiais de algo produzidos por
nós", afirmou. "E ao reencontrarem a cópia, vão ficar sem saber: é
original ou é cópia?"
No almoço dos chefes de Estado
e governo que encerrou a cúpula,
FHC, como no jantar de anteontem, voltou a dispensar a leitura do
discurso e saudou os convidados
em cinco línguas (português, francês, inglês, alemão e espanhol).
O presidente despertou o riso e
os aplausos dos colegas, quando
deu sua definição para a língua espanhola: "É um português um
pouquinho diferente, porque não
aprenderam bem, mas meu coração é hispânico".
(AUGUSTO GAZIR)
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