São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho de 1999
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"Sou cartesiano com elementos de candomblé e vodu'

do enviado especial ao Rio de Janeiro

O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o discurso de encerramento da Cúpula do Rio, se disse, "do ponto de vista do espírito, alguém com uma formação cartesiana, com algum elemento de candomblé e de vodu (culto da América Central)".
"Sem esses elementos não serei propriamente brasileiro e latino-americano", afirmou ele aos líderes latinos e europeus.
Ao se definir como cartesiano, o presidente se referia a René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, um dos fundadores do racionalismo e criador do Método da Dúvida, com o qual esperava chegar a uma opinião ou crença que não estivesse sujeita à dúvida e construir o conhecimento a partir desse fundamento.
Em outras oportunidades, FHC já se definiu como um cartesiano com "pitadas" de candomblé. Ontem, quando falava sobre a integração cultural entre América Latina e Europa, ele incorporou o vodu na máxima.
"Aqui (na América Latina), de alguma maneira, nós estamos recriando a Europa, mas com pitadas de África, de Ásia, de Índia, de Japão", disse. "Basta olhar qualquer jardim do Rio de Janeiro. Tem um desenho francês, inglês, mas o trópico domina."
O presidente afirmou que a educação é fundamental para reduzir as diferenças entre os países e citou medidas que o Brasil está tomando na área.
Ele chegou a dizer que, apesar dos problemas, há "fortes assimetrias" na educação do país. "Ao mesmo tempo que lutamos contra o analfabetismo, (...) para nossa surpresa 75% dos que informam (os rendimentos) ao Imposto de Renda utilizam a Internet."
FHC afirmou que a demanda das pessoas carentes em aprender inglês e dominar a Internet mostra que elas percebem e querem participar ativamente da globalização.

Original e cópia
O presidente citou um trabalho que escreveu na Universidade de Cambridge (Inglaterra) -""A Originalidade da Cópia"- para falar de influências culturais.
"Eu me pergunto que cultura não é uma cópia original", disse.
Segundo ele, em regiões asiáticas, "o classicismo helênico se transformou no encontro com o hinduísmo e produziu uma grande cultura". "Quem sabe amanhã, na Europa, os senhores possam encontrar elementos culturais e materiais de algo produzidos por nós", afirmou. "E ao reencontrarem a cópia, vão ficar sem saber: é original ou é cópia?"
No almoço dos chefes de Estado e governo que encerrou a cúpula, FHC, como no jantar de anteontem, voltou a dispensar a leitura do discurso e saudou os convidados em cinco línguas (português, francês, inglês, alemão e espanhol).
O presidente despertou o riso e os aplausos dos colegas, quando deu sua definição para a língua espanhola: "É um português um pouquinho diferente, porque não aprenderam bem, mas meu coração é hispânico".
(AUGUSTO GAZIR)


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