São Paulo, sábado, 30 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Funcionário de líder do PP afirma ter levado dinheiro sacado de empresas de Valério ao Congresso

Assessor confirma saques e envio de malas para o PP

Alan Marques - 7.abr.2005/Folha Imagem
Pedro Corrêa, presidente do PP, em convenção nacional do partido


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um assessor do PP apontado como operador do "mensalão" disse ontem à Polícia Federal que pegava dinheiro de empresas de Marcos Valério de Souza em espécie na agência do Banco Rural em Brasília e o levava, em malas, para uma sala do partido dentro do Congresso Nacional.
João Cláudio Genu, assessor do líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR), disse ter recebido ordens de um funcionário do partido e as confirmado com o próprio Janene e Pedro Corrêa (PP-PE), presidente da legenda.
As informações são da procuradora Raquel Branquinho, do Ministério Público Federal, que acompanhou parte do interrogatório na PF. O deputado Pedro Henry (PP-MT) também foi citado em passagens do depoimento de Genu, que começou às 15h10 e terminou às 21h.
Para Raquel Branquinho, as declarações são "boas porque [Genu], ao confirmar que recebeu dinheiro que vinha de Marcos Valério [sócio das agências de publicidade SMPB e DNA], dá materialidade ao que está sendo apurado".
Branquinho integra a equipe do Ministério Público que investiga o pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo. A apuração faz parte de um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal, pois envolve parlamentares.
Ainda conforme a procuradora, Genu reconheceu sua própria assinatura na documentação do Rural que registra saques em dinheiro vivo. Ele estava desaparecido desde o começo da crise, quando seu nome foi vinculado ao transporte de dinheiro, que seria para o pagamento do "mensalão".
Branquinho não falou em freqüência de saques, mas segundo o mais novo levantamento da CPI dos Correios, que também investiga o "mensalão", entre setembro de 2003 e janeiro de 2004 Genu sacou R$ 850 mil na agência do Banco Rural em Brasília.
Em entrevista à Folha publicada em 12 de junho, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) apontou Janene como um dos beneficiários do "mensalão". Genu, que foi chefe-de-gabinete de Janene e hoje é assessor da liderança do PP, seria o "operador", ou seja, a pessoa que carregaria as malas de dinheiro. Janene sempre negou.
O nome de Genu está em cópias de fax que a agência do Rural em Belo Horizonte enviou à agência do banco em Brasília informando quem estava autorizado por Marcos Valério a sacar dinheiro em espécie de suas empresas.
Em seu primeiro depoimento no curso da investigação sobre o suposto "mensalão", Genu, que oficialmente está em férias, disse que, no Rural, pegava o dinheiro, acondicionado em envelopes, das mãos de Simone Vasconcelos, diretora financeira da SMPB.

Mala no Senado
Segundo contou à PF, Genu desconhece a finalidade do dinheiro. Seria um "mero portador", "recebia e entregava" e não conferia o conteúdo dos envelopes. Colocava-os em malas e os levava para uma sala no 17º andar do Anexo 1 do Senado Federal, onde ficaria a "tesouraria" do PP. Na verdade, são a presidência e a sede do PP que ficam neste local.
Aos investigadores, o funcionário de Janene disse também estar chateado pela exposição de seu nome na imprensa vinculado a um suposto esquema de pagamento ilegal a parlamentares.
É o primeiro depoimento colhido pela Polícia Federal na linha de identificar os sacadores, os beneficiários e a finalidade dos recursos oriundos das contas de Marcos Valério e supostamente usados pelo PT para comprar o apoio da base aliada ao governo.
A coleta de depoimentos é a ação prioritária da PF nesta fase da investigação. A partir de segunda-feira, serão ouvidos sacadores também em São Paulo e Belo Horizonte, além de Brasília.
Pelos elementos colhidos até o momento, o depoimento mais revelador deve ser o de Simone Vasconcelos, que surgiu na investigação como a responsável pela maioria dos saques. A depender da colaboração dela, será possível identificar um número maior de pessoas que, na agência do Rural em Brasília, pegaram o dinheiro que vinha de contas de empresas das quais Marcos Valério é sócio.


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