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JANIO DE FREITAS
Vida e morte
Governantes de Israel dizem que sua guerra quer extirpar atos contra israelenses; não há como crer nessa afirmação
SERIA MUITO degradante para
todos nós, indiferentemente
de quem sejamos no mundo
ocidental, que o longo e penoso caminhar dos judeus no tempo, em
busca de sua casa na Terra, tivesse
como chegada uma grande base de
guerreiros, incapazes de deter-se
na aplicação contra alheios, década
após década, de muito do que os
próprios judeus padeceram no andar dos milênios.
Os governantes e a maioria com
poder de voto têm induzido a fisionomia que deforma Israel, pela
doutrina da força ampla e cega como única voz nacional contra os espasmos da fragilidade vizinha.
Mas não faltam gente e gestos a
louvar em Israel, só guardados do
conhecimento merecido dada a interessada cautela da mídia, mundo
afora, no trato de assuntos relativos
a Israel. Cautela a lamentar, mas
não injustificada.
É a ocasião de louvar, por exemplo, o numeroso grupo de pilotos israelenses que decidiram não mais
atacar, com foguetes e bombas, a
população civil palestina. A primeira punição foi-lhes imediata, com a
cassação de suas licenças de vôo -
providência que a FAB adotou entre nós, em 64, como represália a
pilotos, militares ou não, que não
aderiram às ações golpistas. Aqueles pilotos, agora não-pilotos, de Israel são simbólicos da multidão que
resiste por vozes individuais, nas
poucas palavras pintadas em tiras
de pano simples, ou nos refrões que
a surdez belicista do poder não ouve, como não se interessa por um
ou outro artigo de jornal que ainda
sonha com a lucidez.
Mas os ex-pilotos de Israel me
lembram o outro simbolismo da
sua classe. Os pilotos de caça, com
seus vôos mirabolantes e a vida no
imponderável, tornaram-se símbolos do heroísmo cobrado por tantos
progressos tecnológicos, entre o
chão e a Lua.
Foram os heróis românticos da
guerra que iniciou o século passado
e da Segunda Guerra Mundial, que
diziam ser o fim de todas as guerras.
Hoje, e desde o Vietnã, podem ser
vistos como simbólicos de uma categoria de criminosos de guerra,
potenciais ou efetivos, com seu novo encargo de massacrar populações civis, indefesas e inocentes.
No Líbano, a estimativa da ONU
é a de que um terço das mortes civis
sejam crianças. (Ah, como é difícil
escrever uma frase dessas com frieza "jornalística").
Os governantes de Israel sucedem-se na afirmação de que sua ferocidade guerreira tem o objetivo de
extirpar os focos de atos hostis que
vitimam israelenses. Não há como
crer na afirmação.
É mais fácil e lógico admitir que o
poder político-militar é indiferente
às tristes vítimas de atentados e de
incursões vingativas em Israel. Primeiro, por serem pouco numerosas
na aritmética da política e do militarismo. Mais ainda, como o governo
Bush explica tão bem, porque dão
pretexto involuntário ao clima de
guerra que congrega sustentação
política para o grupo no poder. Mais
mortes, longa vida.
É uma das regras fundamentais
do que leva o nome de Cultura Ocidental, e não se sabe bem o que é,
mas sabe-se do que é capaz.
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