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Cargos das teles deixam de ser o
maior filão do fisiologismo político
LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília
A privatização da Telebrás acabou com o maior filão do fisiologismo no país. Os cargos nas "teles" eram usados para abrigar políticos desempregados, parentes e
apadrinhados dos aliados do governo. Pelo menos três ex-presidentes deixaram o cargo em abril
para disputar vagas na Câmara e
no Senado.
O ex-presidente da Telepar, Álvaro Dias (PSDB), deixou o cargo
para concorrer ao Senado. Os
ex-presidentes da Telemig, Saulo
Coelho (PSDB), e da Telergipe,
Acival Gomes (PSDB), concorrem
a deputado federal.
O PSDB, partido do presidente
Fernando Henrique Cardoso, detinha o filé da Telebrás: as presidências da Telesp (SP), Telemig
(MG) eTelerj (RJ), além das presidências da Teleceará (CE), Telpe
(PE), Telergipe (SE) e Telepar
(PR).
As "teles" haviam sido loteadas
entre os partidos aliados (PSDB,
PFL, PMDB e PTB) pelo ex-ministro Sérgio Motta (PSDB).
O preenchimento dos cargos foi
negociado em troca da aprovação
das emendas constitucionais que
quebraram o monopólio do petróleo e das telecomunicações, em 95.
Os parlamentares consideravam
os cargos nas "teles" como os
mais importantes do segundo escalão do governo. A implantação
de novas linhas e a instalação de
postos telefônicos e orelhões rendiam votos.
"Obrigado, Álvaro"
O ex-governador Álvaro Dias
(PSDB) coordenou a bancada do
Paraná na aprovação da emenda
da reeleição, em janeiro de 97. Foi
contemplado com a presidência
da Telepar.
Aproveitava as inaugurações de
novas linhas para promover o seu
nome. A Folha acompanhou visitas de Dias a Toledo e Cascavel,
em fevereiro deste ano. Durante as
inaugurações, funcionários da Telepar colocavam faixas com frases
como: "Obrigado, Álvaro".
Acival Gomes admitiu, em entrevista a uma rádio de Lagarto
(SE), em março de 96, que usava
verbas da Telergipe politicamente.
"Enquanto eu for presidente da
empresa, as ações administrativas
serão feitas em comum acordo
com os aliados do governador Albano Franco (PSDB)", disse.
Acival afirmou ontem que a sua
atuação na Telergipe projetou o
seu nome. "Eu dobrei o número
de linhas. Isso projetou o meu nome, deu repercussão". Ele explicou por que tentará voltar à Câmara: "Político sem mandato é
como rolete de cana chupado. É o
bagaço que você joga fora".
Saulo Coelho é outro ex-deputado que tenta voltar à Câmara depois de presidir uma "tele". Ele
também afirma ter dobrado o número de linhas da sua empresa, a
Telemig.
"Isso me deu maior visibilidade.
Mas nunca troquei telefone por
voto", afirmou Coelho. Ele lembra que foi criticado ao ser indicado para o cargo.
"Eu era visto como um político
derrotado que havia ganho um
prêmio de consolação."
Durante a sua gestão, ele investiu R$ 22 milhões da empresa em
projetos culturais, como filmes,
peças teatro e CDs. "Não tem
marketing institucional melhor do
que a cultura. O ministro Sérgio
Motta apoiava isso", disse.
As nomeações de Motta tiveram
a marca do nepotismo (contratação de parentes).
O governador do Rio Grande do
Norte, Garibaldi Alves Filho
(PMDB), indicou o pai, Garibaldi
Alves, para a presidência da Telern.
O presidente nacional do PFL,
Jorge Bornhausen, defensor ardoroso da privatização, aproveitou
os últimos tempos de estatização:
indicou o primo Victor Konder
Reis para a presidência da Telesc
(SC).
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