São Paulo, quinta, 30 de julho de 1998

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Cargos das teles deixam de ser o maior filão do fisiologismo político

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

A privatização da Telebrás acabou com o maior filão do fisiologismo no país. Os cargos nas "teles" eram usados para abrigar políticos desempregados, parentes e apadrinhados dos aliados do governo. Pelo menos três ex-presidentes deixaram o cargo em abril para disputar vagas na Câmara e no Senado.
O ex-presidente da Telepar, Álvaro Dias (PSDB), deixou o cargo para concorrer ao Senado. Os ex-presidentes da Telemig, Saulo Coelho (PSDB), e da Telergipe, Acival Gomes (PSDB), concorrem a deputado federal.
O PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso, detinha o filé da Telebrás: as presidências da Telesp (SP), Telemig (MG) eTelerj (RJ), além das presidências da Teleceará (CE), Telpe (PE), Telergipe (SE) e Telepar (PR).
As "teles" haviam sido loteadas entre os partidos aliados (PSDB, PFL, PMDB e PTB) pelo ex-ministro Sérgio Motta (PSDB).
O preenchimento dos cargos foi negociado em troca da aprovação das emendas constitucionais que quebraram o monopólio do petróleo e das telecomunicações, em 95.
Os parlamentares consideravam os cargos nas "teles" como os mais importantes do segundo escalão do governo. A implantação de novas linhas e a instalação de postos telefônicos e orelhões rendiam votos.
"Obrigado, Álvaro"
O ex-governador Álvaro Dias (PSDB) coordenou a bancada do Paraná na aprovação da emenda da reeleição, em janeiro de 97. Foi contemplado com a presidência da Telepar.
Aproveitava as inaugurações de novas linhas para promover o seu nome. A Folha acompanhou visitas de Dias a Toledo e Cascavel, em fevereiro deste ano. Durante as inaugurações, funcionários da Telepar colocavam faixas com frases como: "Obrigado, Álvaro".
Acival Gomes admitiu, em entrevista a uma rádio de Lagarto (SE), em março de 96, que usava verbas da Telergipe politicamente. "Enquanto eu for presidente da empresa, as ações administrativas serão feitas em comum acordo com os aliados do governador Albano Franco (PSDB)", disse.
Acival afirmou ontem que a sua atuação na Telergipe projetou o seu nome. "Eu dobrei o número de linhas. Isso projetou o meu nome, deu repercussão". Ele explicou por que tentará voltar à Câmara: "Político sem mandato é como rolete de cana chupado. É o bagaço que você joga fora".
Saulo Coelho é outro ex-deputado que tenta voltar à Câmara depois de presidir uma "tele". Ele também afirma ter dobrado o número de linhas da sua empresa, a Telemig.
"Isso me deu maior visibilidade. Mas nunca troquei telefone por voto", afirmou Coelho. Ele lembra que foi criticado ao ser indicado para o cargo.
"Eu era visto como um político derrotado que havia ganho um prêmio de consolação."
Durante a sua gestão, ele investiu R$ 22 milhões da empresa em projetos culturais, como filmes, peças teatro e CDs. "Não tem marketing institucional melhor do que a cultura. O ministro Sérgio Motta apoiava isso", disse.
As nomeações de Motta tiveram a marca do nepotismo (contratação de parentes).
O governador do Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves Filho (PMDB), indicou o pai, Garibaldi Alves, para a presidência da Telern.
O presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, defensor ardoroso da privatização, aproveitou os últimos tempos de estatização: indicou o primo Victor Konder Reis para a presidência da Telesc (SC).



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