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ARTIGO
Privatização Telebrás: o que muda para o leitor
ETHEVALDO SIQUEIRA
Creia, leitor, você só tem a ganhar com a privatização da Telebrás. Mais do que isso: em minha
opinião, todas as mudanças que
ocorrem hoje nas telecomunicações brasileiras trarão grandes
vantagens e benefícios a toda a sociedade -em especial, aos milhões de usuários, clientes e cidadãos. É o que busco provar a seguir.
Como jornalista especializado,
tenho coberto esse setor desde
março de 1967. Ao longo desses 31
anos, tenho viajado pelo mundo e
acompanhado a verdadeira revolução que ocorre nesse setor e praticamente todas as privatizações
ocorridas nos anos 80 e 90. Em todos os países que privatizaram e
introduziram a competição em
suas telecomunicações, ocorreram três consequências básicas: a)
houve sensível aumento da oferta
de serviços; b) a qualidade desses
serviços melhorou de forma extraordinária; e c) os preços caem
continuamente.
O mundo vive, aliás, uma revolução em suas telecomunicações.
Muito além da simples privatização, essa revolução se apóia em
três grandes fatores: avanço tecnológico, globalização e competição.
Comecemos pela tecnologia. A
convergência entre telecomunicações, computadores e multimídia
permite saltos jamais sonhados até
um passado recente. A rigor, essa
convergência tecnológica integra
centrais telefônicas digitais,fibras
ópticas, serviços celulares ou "wireless", redes mundiais de computadores, constelações de satélites de órbita baixa e softwares revolucionários.
Um dos aspectos marcantes dessa revolução tecnológica é a digitalização de todas as formas de sinais -voz, dados, gráficos, textos, vídeo ou imagens. Tudo é reduzido a bits, processado, armazenado, transmitido, recuperado e
decodificado. Diante do impacto
dessa tecnologia, os especialistas
criaram até a expressão "economia digital" para designar o alcance de sua influência. O melhor
exemplo dessa convergência telecomunicações-computadores-multimídia é a Internet, que já
interliga mais de 120 milhões de
usuários em todo o mundo.
É claro que, no novo modelo institucional que o Brasil está adotando, a alavanca mais poderosa das
profundas transformações por
que passa o mercado não é a privatização, mas sim a competição.
Em sua nova estratégia, o Brasil
parte da extinção do monopólio
estatal para, diferentemente do
que fizeram muitos outros países,
implementar a competição entre
os novos operadores ou concessionários, no menor prazo possível. Nele, o Estado deixa de ser
empresário, investidor e operador
dos serviços, para exercer seu papel mais nobre, tornando-se exclusivamente regulador, fiscalizador e defensor da sociedade, por
intermédio da Anatel, a Agência
Nacional de Telecomunicações.
Por ter sido um dos últimos no
mundo, o projeto brasileiro de
reestruturação das telecomunicações pôde aproveitar-se dos erros
e acertos dos demais países. Temos, assim, um dos melhores modelos institucionais. Por quê? Pelas razões seguintes:
1. raríssimas leis de telecomunicações no mundo são tão completas, modernas e adequadas à realidade de seus países quanto a
LGT-Lei Geral de Telecomunicações aprovada pelo Congresso em
julho de 1997, porque ela contempla a competição, a universalização dos serviços e a defesa do
usuário;
2. a Anatel, a agência reguladora
criada pela LGT, é dirigida por
profissionais experientes e com o
máximo de autonomia administrativa e financeira possível. Seu
trabalho até aqui tem sido impecável na preparação do cenário para
a implantação do novo modelo.
Entre outros trabalhos, a agência
elaborou o Plano de Outorgas, o
Plano de Universalização, o Plano
de Metas, e os novos contratos de
concessão já assinados pelas empresas do Sistema Telebrás;
3. imediatamente após a privatização da Telebrás, a Anatel abrirá
licitação internacional para escolha das empresas-espelho, ou seja,
aquelas que irão competir com as
quatro grandes operadoras privatizadas (Telesp, Tele Norte, Tele
Sul e Embratel);
4. a partir de 2003, o setor passa
do duopólio para uma competição
aberta a todos quantos possam e
queiram disputar a operação dos
serviços, em todas as áreas e em
todos os níveis.
Antevisão de 2003
Para que você, leitor, avalie o
que pode resultar desse modelo,
vale a pena antecipar algumas metas previstas para os próximos cinco anos. A oferta de linhas fixas
crescerá das atuais 18,8 milhões
para 40 milhões em 2003. No mesmo período, a oferta de celulares
se ampliará dos quase 5 milhões
atuais para mais de 23 milhões. O
número de usuários de comunicação de dados (exceto Internet) pulará dos 4 milhões atuais para mais
de 20 milhões. Os usuários da Internet, que eram menos de 200 mil
em 1994, são hoje 2 milhões e poderão ser 18 milhões em 2003. Essas metas foram fixadas, inicialmente, pelo Ministério das Comunicações, no plano denominado
Paste (Plano de Ampliação e Recuperação do Sistema de Telecomunicações e do Sistema Postal), que
previu investimentos da ordem de
US$ 90 bilhões no período
1995-2003, com base num estudo
de demanda feito em escala nacional. Nesta fase, suas metas integrarão os contratos das novas operadoras que comprarem as empresas
do Sistema Telebrás.
Há fatos positivos que os brasileiros jamais suporiam ser possíveis no Brasil de hoje. Quem poderia esperar, por exemplo, que em
Minas Gerais a concessionária da
banda B não cobrasse taxa de habilitação do telefone celular? Não
há, portanto, nada de absurdo em
supor que as tarifas caiam com a
mesma intensidade do aumento
da oferta de serviços. Em dezenas
de países, essa queda tem sido dramática. Um bom exemplo é o caso
de Israel. Há 36 meses, quando se
iniciou a competição entre banda
A e banda B, a assinatura básica
mensal desse serviço custava cerca
de US$ 40, e o minuto de conversação, US$ 0,37. Hoje, três anos
depois, a assinatura básica não ultrapassa US$ 12, e o minuto, US$
0,14. Resultado prático: Israel é
hoje um dos países com maior
densidade de telefones celulares
no mundo (30 assinantes celulares
por 100 habitantes).
No Chile, a competição nos serviços de longa distância proporcionou reduções impressionantes
nos preços. Assim, o custo de uma
ligação Santiago-Nova York despencou de US$ 1,40 para menos de
US$ 0,40. Em lugar de apenas uma
empresa de longa distância, o Chile chegou a ter 12 operadoras internacionais. Ainda em Israel,
após cinco meses de competição
na área de longa distância, os preços de uma ligação Tel Aviv-Nova
York já haviam despencado de
US$ 1,10 para menos de US$ 0,25.
E uma ligação Tel Aviv-Tóquio
caiu de US$ 1,20 para US$ 0,26.
Na América Latina, a privatização -mesmo com pouca competição nos primeiros anos- triplicou o número de telefones nos
anos 90 nos cinco principais países
que desestatizaram suas telecomunicações: Chile, México, Argentina, Venezuela e Peru.
Evidentemente, o progresso das
telecomunicações não se limitará
ao telefone, mas abrangerá o conjunto de modernos serviços de telecomunicações, redes corporativas e de comunicação eletrônica
de massa que as tecnologias e a
reorganização do mercado tornarão possíveis. Além de servir ao cidadão, esse conjunto de serviços
constituirá a mais avançada infra-estrutura de modernização do
país, possibilitando a aceleração
do desenvolvimento econômico, o
aumento das exportações, a redução de custos, o aumento da competitividade nacional e mesmo
serviços de profundo alcance social, como os de teleducação e telemedicina.
Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado e
diretor da RNT-Revista Nacional de Telecomunicações. E-mail: esiqueira@advanstar.com.br
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