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JANIO DE FREITAS
Que bom negócio
Assediado por alguém desejoso de comprar seu carro, você pede uma avaliação a um
corretor de automóveis ligado
ao pretendente à compra. Valor: R$ 5.000. Você põe um
ClassiFolha e aparece um negociante de carros, outro homem do ramo, que dá R$ 17,2
mil pelo seu. O que lhe parece
do avaliador ligado ao primeiro desejoso de comprar seu
carro?
Pois foi isso mesmo que se
passou com a venda da Telebrás-Embratel. A proporção
de 5 para 17,2, inclusive, é
idêntica aos 242,4% pagos, na
compra da Teleleste, acima do
valor pedido pelo governo.
Uma pequena diferença entre os dois casos: os avaliadores escolhidos pelo governo, e
ligados a vários interessados/participantes em privatizações brasileiras, foram regiamente pagos pelo Ministério das Comunicações para
fazer suas avaliações tão suspeitas quanto ordinárias.
Não há terceira hipótese: ou
o dinheiro público foi dado a
gente sem competência para a
tarefa tão bem paga ou foi
dado a vigaristas. Vivêssemos
em país onde prevalecesse alguma decência e pelo menos
um mínimo de respeito pela
coisa pública, pagadores e recebedores responderiam judicialmente pela desídia dos
primeiros e a má-fé dos segundos. Isto, sem falar na possibilidade, que bem merecia
uma investigação -não fossem os departamentos investigativos controlados pelo próprio governo-, de relações
mais participativas entre o lado que soltou o dinheiro e o
lado que recebeu. Como é da
praxe.
Adepto de privatização não
é, necessariamente, adepto de
negociata, nem de procedimentos que não considerem o
interesse financeiro do país.
Torna-se difícil entender, então, a complacência, a absoluta falta de cobrança, pelos
propagandistas em geral das
privatizações, de maior rigor e
transparência no encaminhamento da venda de tão valiosos patrimônios nacionais.
É injustificável, por exemplo, o descaso sistemático pelos estudos técnico-científicos
de brasileiros, nas privatizações. E, no entanto, mais uma
vez ficou provado que a competência e a decência estão
neles. Enquanto os avaliadores pagos pelo Ministério das
Comunicações atribuíram o
valor de R$ 13,4 bi à parte
estatal, na Telebrás-Embratel,
o estudo contestatório da
UFRJ (Coppe) e Unicamp fixou-o no mínimo de R$ 22,3
bi. O leilão resultou em R$ 22
bi. Um diploma de excelência
para o grupo UFRJ (Coppe)-Unicamp e de reprovação
mental e moral dos condutores de privatizações.
Mas foi um bom negócio, a
privatização. Foi vendida por
R$ 22 bi a Telebrás em que
este governo investiu R$ 28 bi
nos últimos três anos e meio,
para torná-la ainda mais
atraente aos compradores estrangeiros. Foi vendida por
R$ 22 bi a Telebrás que dava
só R$ 4 bi de lucro por ano. A
privatização foi um bom negócio.
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