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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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IGREJA

Documento elaborado a pedido da entidade destaca contraste entre lucro de bancos e aumento de "multidão de despossuídos"

CNBB vê "anemia crônica" em números sociais

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documento elaborado a pedido da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e usado como base para discussão da conjuntura econômica e política do país faz críticas aos indicadores sociais, dizendo que eles "sofrem de anemia crônica". O texto também destaca o contraste entre o lucro recorde dos bancos e o aumento do que chamou de "multidão dos "sem" ou despossuídos".
"Os indicadores macroeconômicos gozam de boa saúde, ao passo que os indicadores sociais sofrem de anemia crônica. De modo particular, sobe o desemprego e cai a renda média dos trabalhadores", diz o documento, assinado pelo professor Pedro Ribeiro, da Universidade Católica.
Ao ser questionado se essa posição sobre a área social também era a da CNBB, o presidente da entidade, d. Geraldo Magella Agnelo, disse: "A constatação é tão evidente que todos estamos de acordo com ela".
D. Geraldo fez questão de ressaltar que o documento não é da CNBB, mas sim feito por um especialista para ajudar nas reflexões da entidade durante a reunião do Conselho Episcopal Pastoral. "As posições da "Análise de Conjuntura" podem estar em sintonia com as da CNBB", disse.
Ao tratar das relações políticas, o documento afirma ainda que a administração do PT, "originada de um partido cuja marca registrada é o compromisso com mudanças, é um governo de alianças com interesses diversos".
Por outro lado, o vice-presidente da entidade, d. Antônio Celso Queiroz, considera esses oito meses de governo um prazo curto para avaliar a administração.
"Não se trata da Igreja Católica apoiar o PT ou não. Se trata das teses defendidas pelo partido que coincidem com as que a igreja defende. Não é possível mudar a fisionomia do país em seis meses, um ano ou até quatro anos. Esperamos indicações claras de que as mudanças começaram", disse.
Para ele, o programa voltado à agricultura familiar e o Primeiro Emprego são indicadores que há algo novo sendo proposto.
Ao comentar sobre a proposta da reforma da Previdência, aprovada na Câmara, d. Antônio apoiou a tributação dos inativos.
"Normalmente não se deveria fazer [cobrar dos aposentados]. Mas no caso do Brasil, em que há aposentados que são verdadeiros marajás e outros que são pobres, é possível que seja feita. Não se pode recorrer a direitos adquiridos quando se há abusos visíveis."
Os dois dirigentes participaram ontem, em Brasília, ao lado do secretário-geral da CNBB, d. Odilo Pedro Scherer, de uma entrevista para divulgar a Campanha da Fraternidade 2004 e fazer um balanço deste ano.
No próximo ano, o tema da campanha será a água. A proposta da CNBB é tratar, entre outros, a água como patrimônio da humanidade e discutir a escassez.
Quanto ao trabalho deste ano, que tratou dos idosos, o balanço foi que a campanha despertou-os para questões de cidadania e favoreceu a relação da igreja com o poder público e mídia.
Questionado sobre as críticas da CNBB e do documento preparado para debates na instituição, o porta-voz do Planalto, André Singer, disse que o social foi tratado com prioridade no Orçamento.
Ao ser questionado sobre a decisão do governo Lula de recorrer da sentença da Justiça que obriga a União a abrir os arquivos militares relacionados à guerrilha do Araguaia, d. Agnelo defendeu a divulgação dos documentos. "O Evangelho diz: "A verdade, somente a verdade, nos libertará"."


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