São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVA DIREÇÃO

Ex-presidente da Câmara acredita ter cabalado cerca de 40 votos; Ciro Nogueira ressalta papel "decisivo" do PP e espera contrapartida do governo

"Fiz trabalho insano" por Aldo, diz Severino

ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE) disse ontem que fez um "trabalho insano" para garantir a vitória do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato do governo eleito presidente da Câmara na quarta-feira. "Fiz um trabalho insano, telefonando para todos os deputados", disse Severino. "Procurei influenciar todos a votar no Aldo."
O ex-presidente da Câmara afirmou ter apoiado seu afilhado político Ciro Nogueira (PP-PI) no primeiro turno, em que Aldo empatou por 182 votos com José Thomaz Nonô (PFL-AL). No segundo turno, porém, disse ter trabalhado para o candidato apoiado pelo Planalto. "Uns 40 votos eu tenho certeza que modifiquei a favor do Aldo", disse.
Severino negou que tivesse dado apoio ao novo presidente da Câmara para, em troca, conquistar a liberação de emendas parlamentares. "Não é verdade. O governo mostrou que tem prestígio e que tem o PP como seu aliado", disse o ex-deputado.
Herdeiro de Severino na Câmara, Ciro Nogueira também quis destacar a importância do PP para a vitória de Aldo. Em tom de ameaça, porém, afirmou: "Eles [os governistas] têm de reconhecer que fomos decisivos. Agora, se eles forem ingratos...", e não completou a frase.
Ciro também creditou a vitória à atuação do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Ele trabalhou muito bem. O Aldo não tinha a autonomia que o Jaques tem", disse. "O que sempre atrapalhou o governo foram promessas não cumpridas. O Jaques vai saber a hora de dizer não."
O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), um dos 16 deputados ameaçados de cassação por envolvimento no escândalo do "mensalão", também atuou de maneira decisiva para granjear o apoio do seu partido ao candidato do governo. O PP tem outros três deputados na lista de cassáveis e espera que Aldo atue para impedir as cassações.

Broche
Um dia depois da ajuda ao governo na eleição da Câmara, Severino esteve no Palácio do Planalto para participar de solenidade em que foi anunciada a construção de uma refinaria de petróleo em Pernambuco.
Apesar de não ter mais mandato, Severino usava na lapela do terno um broche de deputado federal. Outros ex-parlamentares também costumam manter o costume quando transitam no plenário ou no Planalto.
Ontem, Severino se comportou como se ainda fosse parlamentar. Sentou-se em uma cadeira da sexta fileira do salão onde ocorreu o lançamento da refinaria.
À sua frente, pelo menos dez parlamentares também assistiram à solenidade. Severino afirmou ter sido convidado para o evento antes da renúncia.
Ele disse que a refinaria de Pernambuco foi "o maior presente" que Lula poderia ter dado a ele.
Severino também se encontrou ontem com 20 prefeitos de cidades pernambucanas. Ele afirmou ter conseguido marcar audiência com alguns deles por meio do ministro Márcio Fortes (Cidades, ligado ao PP).
"Os prefeitos e deputados vão lá e pedem para eu ligar para ele [Fortes], que é meu amigo. E estou à disposição dos deputados que me procurarem para eu fazer qualquer coisa no governo. Eu sou um aliado do presidente Lula.", disse.


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