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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVA DIREÇÃO
Ex-presidente da Câmara acredita ter cabalado cerca de 40 votos; Ciro Nogueira ressalta papel "decisivo" do PP e espera contrapartida do governo
"Fiz trabalho insano" por Aldo, diz Severino
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE) disse
ontem que fez um "trabalho insano" para garantir a vitória do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato do governo eleito
presidente da Câmara na quarta-feira. "Fiz um trabalho insano, telefonando para todos os deputados", disse Severino. "Procurei influenciar todos a votar no Aldo."
O ex-presidente da Câmara afirmou ter apoiado seu afilhado político Ciro Nogueira (PP-PI) no
primeiro turno, em que Aldo empatou por 182 votos com José
Thomaz Nonô (PFL-AL). No segundo turno, porém, disse ter trabalhado para o candidato apoiado pelo Planalto. "Uns 40 votos eu
tenho certeza que modifiquei a favor do Aldo", disse.
Severino negou que tivesse dado apoio ao novo presidente da
Câmara para, em troca, conquistar a liberação de emendas parlamentares. "Não é verdade. O governo mostrou que tem prestígio
e que tem o PP como seu aliado",
disse o ex-deputado.
Herdeiro de Severino na Câmara, Ciro Nogueira também quis
destacar a importância do PP para a vitória de Aldo. Em tom de
ameaça, porém, afirmou: "Eles
[os governistas] têm de reconhecer que fomos decisivos. Agora, se
eles forem ingratos...", e não completou a frase.
Ciro também creditou a vitória
à atuação do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. "Ele trabalhou muito bem. O
Aldo não tinha a autonomia que o
Jaques tem", disse. "O que sempre
atrapalhou o governo foram promessas não cumpridas. O Jaques
vai saber a hora de dizer não."
O líder do PP na Câmara, José
Janene (PR), um dos 16 deputados ameaçados de cassação por
envolvimento no escândalo do
"mensalão", também atuou de
maneira decisiva para granjear o
apoio do seu partido ao candidato
do governo. O PP tem outros três
deputados na lista de cassáveis e
espera que Aldo atue para impedir as cassações.
Broche
Um dia depois da ajuda ao governo na eleição da Câmara, Severino esteve no Palácio do Planalto
para participar de solenidade em
que foi anunciada a construção de
uma refinaria de petróleo em Pernambuco.
Apesar de não ter mais mandato, Severino usava na lapela do
terno um broche de deputado federal. Outros ex-parlamentares
também costumam manter o costume quando transitam no plenário ou no Planalto.
Ontem, Severino se comportou
como se ainda fosse parlamentar.
Sentou-se em uma cadeira da sexta fileira do salão onde ocorreu o
lançamento da refinaria.
À sua frente, pelo menos dez
parlamentares também assistiram à solenidade. Severino afirmou ter sido convidado para o
evento antes da renúncia.
Ele disse que a refinaria de Pernambuco foi "o maior presente"
que Lula poderia ter dado a ele.
Severino também se encontrou
ontem com 20 prefeitos de cidades pernambucanas. Ele afirmou
ter conseguido marcar audiência
com alguns deles por meio do ministro Márcio Fortes (Cidades, ligado ao PP).
"Os prefeitos e deputados vão lá
e pedem para eu ligar para ele
[Fortes], que é meu amigo. E estou à disposição dos deputados
que me procurarem para eu fazer
qualquer coisa no governo. Eu
sou um aliado do presidente Lula.", disse.
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