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Lula impede Renan de participar de reunião com presidente da Câmara
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vetou ontem a presença do
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na audiência
em que recebeu pela primeira vez
Aldo Rebelo (PC do B-SP) na condição de presidente da Câmara.
Lula disse a auxiliares que Renan desejava aparecer como pai
da vitória de anteontem na Câmara, versão que julgou prejudicial a
Aldo e ao governo. "O Aldo não
pode ser um suplente do Renan.
Ninguém vai respeitá-lo na Câmara assim", afirmou à Folha um
auxiliar direto de Lula.
Renan telefonou anteontem para o gabinete de Lula pedindo que
ele e o senador José Sarney
(PMDB-AP) estivessem presentes
no encontro. Lula mandou dizer
que preferia receber Aldo sozinho
e que Renan e Sarney poderiam
vir em outra hora ou dia. Renan
ficou contrariado e disse a peemedebistas que se sente injustiçado,
pois considera ter sido fundamental para eleger Aldo.
De fato, Renan bombardeou
um tentativa de acordo entre Lula
e o presidente do PMDB, o oposicionista Michel Temer (SP),
atuando a favor de Aldo. No entanto, não entregou a Lula os votos que prometeu. Renan, da ala
governista do PMDB, disse que
daria 60 votos da sigla a Aldo.
Com o empate entre Aldo e José
Thomaz Nonô (PFL-BA), no qual
ambos obtiveram 182 votos, ficou
evidente que a ala oposicionista
do PMDB transferiu a maior parte
dos votos do partido ao pefelista.
O governo contava com votação
entre 200 e 220 depois de ter fechado o apoio do PL e de parte do
PTB a Aldo, numa operação na
qual recorreu a emendas e cargos
para arregimentar votos.
No segundo turno, o governo
esperava uma vitória por cerca de
50 votos sobre Nonô. Esse prognóstico foi dado à Folha às 19h de
anteontem, quando os deputados
ainda votavam. Ao final, Aldo ganhou por 15 votos (258 a 243), vitória apertada que se deveu a um
forte trabalho de última hora do
ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) com o PDT, o
resto do PTB e parte do PP.
Ontem, auxiliares do presidente
ouviram dele que Renan não tem
no PMDB o cacife que propala.
Lula avaliou que Aldo precisa demonstrar independência em relação a Renan e ao governo, ao qual
serviu como ministro da extinta
pasta de Coordenação Política.
O presidente do Senado gostaria de ser vice de Lula em 2006,
mas sempre diz ao petista que crê
ser difícil o partido apoiá-lo, o que
leva o presidente da República a
achar que precisa vitaminar Renan para ter apoio do PMDB.
Na eleição da Câmara, Wagner
reabriu canais com a ala oposicionista. Apesar disso, a divisão interna no PMDB deverá se acirrar,
com os oposicionistas tentando
evitar o apoio a Lula em 2006.
Os oposicionistas se sentem
traídos por Renan e Sarney, articulador da candidatura Aldo que
se manteve mais discreto e foi
poupado de críticas públicas.
Representação
O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira
(PMDB), disse a membros da cúpula do partido que prepara uma
representação contra Renan.
Quer enviar à Executiva do
PMDB um pedido para que o presidente do Senado seja punido
com expulsão. Dificilmente Renan será expulso, mas o pedido de
Silveira deve ser avaliado na Comissão de Ética, pois os oposicionistas são maioria na Executiva.
O deputado Geddel Vieira Lima
(BA), articulador da candidatura
Temer, só se refere a Renan como
"senador Silvério", alusão a Joaquim Silvério dos Reis, conspirador da Inconfidência Mineira
(1789) que delatou colegas a Portugal. Para Renan, Temer não se
viabilizou e o culpa injustamente.
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